– NÃO PARA!!! CONTINUA!!! TÁ MUITO BOM!!!!
– MAS, STEVIE, EU NÃO SOU BATERISTA!!!
– SEGUE! A PARTIR DE AGORA, O CUSTO É POR MINHA CONTA….
Certo dia, em 1972, STEVIE WONDER entrou dançando no estúdio ELECTRIC LADYLAND, em NOVA YORK, onde meio secretamente estava gravando para depois fechar novo acordo financeiro com a MOTOWN…
O disco tornou-se “TALKING BOOK”, o início da renovação vitoriosa de sua espetacular carreira!
Foi assim: JEFF BECK, um dos músicos que participava da sessão, adorava “dedilhar” ( OOOPPPSSS!!!) a bateria escondido. E WONDER o percebeu fazendo o que viria a ser o RIFF de bateria na entrada de “SUPERSTITION”, um de seus clássicos!
Gravaram imediatamente a DEMO, e a MOTOWN aprovou. Renovou o contrato de WONDER por muito mais grana, além de permitir liberdade artística para STEVIE criar…
A música foi cedida a BECK como parte de pagamento pelas sessões em que trabalhou.
E o nosso herói comentou que, sem querer, tornou-se parceiro em dois grandes RIFFS da História. A bateria e seu ritmo dançante, conjugada ao RIFF do teclado desenvolvido por STEVIE WONDER! Inesquecível!
O acaso é um grande realizador! E demolidor implacável, também, como veremos!
Alguém citou para mim dito popular de MOÇAMBIQUE: “Se a sorte não penetra, tens no C#, e etc…”
Explícito e definidor…
JEFF BECK estudava piano desde os 4 anos, e um dia arrancou tecla do instrumento… Mamãe BECK entendeu que a do rebento era outra…
Aos 8 anos, ele construiu uma guitarra para emular seu ídolo, CLIFF GALLUP, guitarrista de GENE VINCENT. Aliás, um dos ídolos de JIMMY PAGE, também…
Os dois se conheceram porque a irmã de JIMMY estudava com JEFF. Um dia foi visita-la e, enquanto mamãe PAGE fazia um chá, os dois ficaram tocando guitarra…
Precoce desde sempre, e inventor de instrumentos e sonoridades, BECK foi se enturmando até tornar-se meio conhecido com os TRIDENTS, banda onde tocou por quase 2 anos, e aprendeu a tirar sons e a fazer barulho…
BECK sempre se interessou por tecnologia, experimentações e máquinas… Mas, um desastre de automóvel, em 1969, foi outro acaso que quase líquida a carreira dele…
JIMMY PAGE lá por 1964/65 já faturava bem tocando em estúdios. Há dezenas de participações deles em discos da época.
E quando CLAPTON deixou os YARDBIRDS, ele foi a primeira opção para substitui-lo…
Mas não topou, e indicou BECK.
Depois de um SHOW, JEFF foi quase sequestrado por GIORGIO GOMELSKY, “empresário”. E bem ao estilo máfia russa da época, o convenceram que uma banda TOP precisava de um guitarrista, e o levaram ao MARKEE CLUB.
Eram os YARDBIRDS.
FOR YOUR LOVE, com CLAPTON na guitarra e BRIAN AUGER, no cravo, havia ido muito bem. Sucesso marcante, e meu primeiro contato com a banda. Parte do grupo queria seguir por ali…
Mas, BECK trouxe inovações na guitarra, e foi muito além de GEORGE HARRISON, em I FEEL FINE, hit dos BEATLES, e outro marco pouco reconhecido…
Quando entrou para os YARDBIRDS, JEFF percebeu a diferença de status e projeção. O sucesso com a mulherada era total, recordou: a VAN da banda estava sempre com marcas de batom, telefones, endereços e os etcs… que compõe o sucesso dos POP STARS…Gostou, é claro!
E as ideias futuristas de JEFF BECK grudaram na performance do grupo.
Os SINGLES fabulosos de sua curta era, “HEART FULL OF SOUL”, “OVER, UNDER, SIDEWAYS DOWN”, “YOU ARE BETTER MAN THAN I”… e mais outras gravações seminais, algumas com a participação de PAGE, como “HAPPENING TEN YEARS TIME AGO”, revolucionaram e “liberaram” a guitarra para brilhar e tornar-se o ponto focal do ROCK de meados da década de 1960 em diante.
BECK FOI A ORIGEM DO NOVO JEITO DE TOCAR E FAZER AS GUITARRAS SOAREM.
Certamente influenciou a metamorfose no som de CLAPTON, quando no CREAM, que por sua vez, influenciou JIMI HENDRIX…
E a espaçonave decolou eras adentro.
HARD ROCK, HEAVY METAL, DAVID GILMOUR, PROGRESSIVOS, e tantos e tamanhos que trouxeram o que até hoje é ouvido “pelaí”.
É instigante especular sobre as tendências e realizações artísticas de CLAPTON, PAGE E BECK.
Claro, eles todos originários e interessados no BLUES e no ROCK. Mas, muito diferentes entre si.
CLAPTON é e permaneceu um BLUES MAN, com viés competente no POP.
Explorou um pouco o REGGAE, e até a BOSSA NOVA, sempre em FUSÃO com o POP JAZZ, onipresente e cultivado…
Além disso, ERIC desenvolveu diferencial insuperável: CLAPTON SABE CANTAR. E muito bem! E isso fez toda a diferença no decorrer da carreira!
JIMMY PAGE é um grande produtor, e homem de estúdio focado essencialmente no HARD ROCK, com incursões no FOLK, audíveis em quaisquer discos do LED ZEPPELIN.
E, por mais de uma década, enquanto a banda performou, teve a seu lado o talento de JOHN PAUL JONES, até hoje grande arranjador e baixista; e principalmente ROBERT PLANT, ainda entre os maiores vocalistas de todos os tempos e eras.
Vantagem incontrastável para quem tem nenhum talento para cantar, não é mesmo…
JEFF BECK é um inventor de sonoridades e guitarrista incomparável!
Mas, sempre esteve limitado pela falta de talento vocal. Tem voz feia e canta mal. Então, aos poucos foi assumindo o interesse pelo instrumental e sempre trazendo, alguém para cantar.
Para BECK desenvolver a carreira foi mais difícil!. Ele extrapolou o BLUES ROCK em TRUTH, 1968 e BECK-OLA, 1969, quando reinou ROD STEWART, em disputa suicida com o próprio BECK pela primazia na banda.
Claro, tinha de acabar como terminou…Chuva de Egos e o derretimento de um grupo notável…
É memorável, em TRUTH, a faixa cult “BECK´S BOLERO”, executada por SUPERGRUPO histórico: BECK e PAGE nas guitarras; JOHN PAUL JONES, no BAIXO; e NICK HOPCKINS, no piano.
KEITH MOON, estrela explosiva no THE WHO, literalmente arrebenta a performance destruindo a bateria. É faixa de referência, tanto quanto ‘BLUES DE LUXE”, onde ROD STEWART e JEFF BECK dão aula de ENGLISH BLUES & beyond…
TRUTH é um clássico da época, e modelo para o LED ZEPPELIN I,1968, moldado por PAGE no disco de BECK. É a história e suas contradições em movimento.
Na entreato torrencial de 1968/1970, aconteceram os primeiros discos do JEFF BECK GROUP, e os três iniciais do LED ZEPPELIN.
JIMMY PAGE estava em alta como produtor e músico de estúdio, e participou de vários projetos paralelos.
Destacando as participações de BECK, há um disco polêmico, de fama ciclotímica no correr do tempo. Para muitos, LORD SUTCH & HEAVY FRIENDS, 1970, é ruim.
Eu discordo veementemente! Como um grupo base com PAGE, BECK, JOHN BONHAN e NOEL REDDING, baixista de HENDRIX, poderia legar um disco ruim?
Para os que duvidam, há duas faixas sensacionais: “WOULD YOU BELIEVE” e “BRIGHTEST LIGHTS” com BECK e PAGE acompanhados por outros craques.
No mais, é pauleira brava! Debochado, gritado, meio PUB/PUNK ROCK e não alinhado com a moda.
Os tempos exigiam o BLUES, o HARD, e o nascente ROCK PROGRESSIVO.
Ainda assim, o disco é um clássico!
Curiosos são dois álbuns duplos, também lançados no BRASIL posteriormente, que trazem a nata daquela época.
BLUES ANYTIME vem com os três seminais da guitarra, mais ROD STEWART, SAVOY BROWN, e vasto montão de craques em faixas desconhecidas. É item de coleção disputado.
Somam, é óbvio, para a compreensão dos caminhos trilhados por JEFF BECK, que buscou seguidamente o menos frequente RHYTHM´N´BLUES.
E o resultado é o fantástico “blend” MOTOWN/ STAX, em discos como “ROUGH AND READY”, 1971; ou “JEFF BECK GROUP”, 1972 – produzido por STEVE CROPPER, tido por muitos como guitarrista dos guitarristas. E ELE é.
E, JEFF saltou mais de uma década para desaguar na DISCO e na DANCE MUSIC, com FLASH, 1985, produzido alternadamente por NILE RODGERS (CHIC) e ARTHUR BAKER.
E devemos observar JEFF BECK no segundo álbum do inglês SEAL, de 1994, onde participa com sua verve, estilo e técnica, depois de terem colaborado em STONE FREE, tributo eclético a JIMI HENDRIX, lançado em 1993.
Tudo considerado, é o R&B modificado que sempre fascinou BECK, um cultor de sutilezas melódicas. Álbuns excelentes, em tempos diversos que certamente complementaram ciclo criativo para JEFF BECK.
Nos movimentos oscilantes que a carreira lhe trouxe, tudo foi arrematado com peso pelo POWER TRIO redivivo, exalando RETRÔ em HARD BLUES/ROCK:
Em 1972 , BECK, BOGERT & APPICE emularam o CREAM e o MOUNTAIN, fizeram sucesso de público, conseguiram disco de ouro, turnês, etc….
E definitivamente convenceu JEFF de que seu caminho era outro, mais sutil e independente.
Cronologia é bom artifício para fixar ideias. Mas, os movimentos nas artes e na vida, extrapolam aparências e coerências. Tendências vão e voltam; se imbricam é separam. É a vida agindo…
Para mais bem compreender a sequência da carreira de BECK, vamos recorrer à dialética ( eta cara chato! larga de ser pedante, TIO SÉRGIO! ) e ao papel do contraditório, também.
A lógica de cada indivíduo, de cada artista, é o compósito criativo que a vida e a prática os torna.
Então…
