TRAPEZE 1970/1972: DO PROGRESSIVO AO HARD ROCK – RHYTHM ‘N´BLUES.

 

Na história da música, épocas, nuances, o percurso de cada banda e outros artistas contemporâneos, ajudam a montar uma “cartografia” que aproxima as várias tendências do quadro real do que realmente está acontecendo. Sutilezas cabem em tudo.

E “aproximar” é a palavra central. Não há verdades “originais” que se mantenham perante as releituras que o tempo sempre traz. E pra todo mundo.

Em 1968, a memória de HENDRIX e do CREAM, e um HARD BLUES PSICODÉLICO ecoavam na música. Mas, já havia IRON BUTTERFLY, DEEP PURPLE, os MOODY BLUES, e até THE WHO, depois de TOMMY, testando outros limites.

Mas, a essência do BLUES ainda permeava parte do cenário. E o advento do LED ZEPPELIN foi crucial para um novo formato de música, bem mais pesada, baseada em, mas transcendendo o BLUES, e ventilando para o HEAVY METAL, que começaria a sedimentar-se, a partir de 1969, com o BLACK SABBATH.

Tudo junto e ao mesmo tempo, uma nova geração de bandas começou a despontar com forte influência no futuro. Na Inglaterra, KING CRIMSON, GÊNESIS, YES, o CARAVAN, e o URIAH HEEP, chegavam e apontavam para o ROCK PROGRESSIVO em desenvolvimento.

Na outra ponta, o HUMBLE PIE testava fusão do BLUES com o RHYTHM´N´BLUES, e toques de POP e HARD ROCK. PETER FRAMPTON e STEVE MARRIOTT, nas guitarras e vocais, faziam a diferença.

O TRAPEZE surgiu em1970, como quinteto resultante da junção de duas outras bandas, naquele ambiente rico e de mudança rápida, e não bem definida.

O grupo foi assediado pela APPLE, a gravadora dos BEATLES; mas fechou com a THRESHOLD, dos MOODY BLUES.

Os dois primeiros discos tem capa e produção gráfica esmerada, como de hábito para os MOODY BLUES.

JOHN LODGE, baixista dos MOODIES, produziu os dois primeiros LPS. Procurou realçar o som que faziam, mas sem grandes intervenções.

Deu liberdade aos garotos. E quem conhece o estilo de compor e cantar de LODGE, logo identifica o PROGRESSIVO LIGHT do primeiro LP: TRAPEZE, 1970.

No segundo disco, MEDUSA, também de 1970, o guitarrista MEL GALLEY, o baterista DAVE HOLLAND e o baixista GLENN HUGHES, muito jovens e bons músicos, assumiram a banda e a reduziram a um trio; e deram uma guinada para fora do PROGRESSIVO, em direção ao HARD-ROCK.

Os três cantavam. Mas, HUGHES se destacava pelo extensão da voz, o timbre e o jeito de cantar mais na linha de STEVE MARRIOTT, em um “blend” com ROCK, RHYTHN`N`BLUES e SOUL. De certa forma, do jeito que ROD STEWARD seguia em sua carreira.

O TRAPEZE não privilegiava o BLUES-ROCK, mas foi se tornando mais próximo do HUMBLE PIE, e da JAMES GANG, em sonoridades. O ROCK PESADO, mas com andamento lento e pouco teclado; que era uma das tendências naqueles tempos.

Talvez o BAD COMPANY tenha sido o exemplo mais bem sucedido entre todos.

A THRESHOLD aceitou a mudança de estilo com alguma reticência… Mas, continuou apoiando, e eles saíram em turnês abrindo para os MOODY BLUES, mundo afora.

Tocaram no ROYAL ALBERT HALL, em Londred; no CARNEGIE HALL, em Nova York e no FORUM de LOS ANGELES.

Aos poucos, estabeleceram seguidores na AMÉRICA, onde estavam indo muito bem.

Por isso, para o terceiro disco “YOU ARE THE MUSIC, WE´RE JUST THE BAND”, 1972, na minha opinião o mais consistente dos três que gravaram, trouxeram NEIL SLAVEN, que produzira KEEF HARTLEY BAND e o SAVOY BROWN, um produtor especialista em BLUES e música negra em geral.

A mudança foi notável. Ouve-se, claramente, as levadas típicas de bandas americanas da época, como os DOOBIE BROTHERS, JAMES GANG e o Z.Z.TOP. BILLY GIBBONS era fã; e os considerava o melhor POWER TRIO do início dos anos 1970!

E tudo isso mesclado com vocais cada vez mais “SOUL/R&B”, de GLEN HUGHES, muitas vezes lembrando BOZZ SCAGGS, OTIS REDDING, e artistas da MOTOWN e STAX.

O TRAPEZE estava ganhando consistência, mas os discos não vendiam suficientemente. Teriam tido sucesso caso tivessem persistido? Difícil dizer…

O empresário deles tentava leva-los para a WARNER quando, de repente, em setembro de 1973, o DEEP PURPLE fez proposta e GLENN HUGHES deixou o grupo.

Com o PURPLE ele teve bastante sucesso. E de lá saiu para carreira solo, em que permanece. HOUGHES tem vários discos gravados. E, até hoje, está na cena HEAVY. Exemplo marcante é o CD ao vivo aqui postado. Pauleira Brava!

GALLEY, com o tempo juntou-se ao WHITESNAKE e ao PHENOMENA; e HOLLAND gravou diversos discos com o JUDAS PRIEST e outros artistas. E ambos sentiram-se traídos por GLENN HOUGHES.

Mas, se você fosse GLENN o que faria se tivesse tido uma proposta como aquela?

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