TEMPOS DENSOS: 1967/1969, MÚSICA, POLÍTICA, MUDANÇAS SOCIAIS… E UM GRANDE FILME SOBRE TUDO ISTO: “UM VERÃO NA GRÉCIA.”

Os cinco CDS aqui postados foram lançados pela excelente RHINO RECORDS, no início da década de 1990.

Coligem o fino do “GARAGE ROCK” e do “SUNSHINE POP”, uma das fases mais interessante, criativa e bonita da música POP.

“SUMMER OF LOVE”, em dois volumes, foca no SUNSHINE POP, o misto de ROCK PSICODÉLICO mais leve, e música dançável e alto astral.

A série NUGGETS traz GARAGE BANDS e também SUNSHINE POP. E se baseia, mas vai além do colecionável LP DUPLO ORIGINAL, lançado nos anos 1970.

Foi o primeiro álbum a trazer parte da História, e principalmente legitimidade, para o ROCK DE GARAGEM de bandas desconhecidas que se tornaram míticas: SEEDS, CHOCOLATE WATCH BAND, ELECTRIC PRUNES, e incontáveis… hoje, monumentos da discografia imprescindível sobre a década de 1960.

A trilha sonora do filme é composta de músicas e artistas conhecidos naqueles tempos: MAMAS & THE PAPAS, ANIMALS, PROCOL HARUM…

Mas, curiosidade interessante: a quase totalidade das versões foi feita por bandas italianas daqueles tempos; e algumas bem legais! Instigantes! No mundo inteiro, “aconteceram” bandas copiando ou vertendo esses grandes clássicos…

A melhor música da trilha aparece em versão original. É um CULT meio esquecido do “POP – BARROCO – PSICODÉLICO – PROGRESSIVO” (Ufa!!!): a longa, densa e sofisticada ELOISE, com BARRY RYAN. Procure conhecer. Um ÉPICO POP sensacional!!!

E, lá vai o filme.

UM VERÃO NA GRÉCIA, ( LA SYNDROME DI ANTONIO ) 2016

DIREÇÃO: CLAUDIO ROSSI MAXIMI, COM QUERALT BADALAMENTI ( MARIA ) E BIAGIO IACOVELLI (ANTONIO)

É o melhor filme que assisti em 2021!

Profundamente humano, política e existencialmente inquietante; cheio de referências e diálogos profundos; e visitas por conhecidos lugares históricos.

Claro, permeado por algum humor, nem sempre refinado, como o bom cinema italiano geralmente traz. E tudo sintetizado em menos de duas horas.

Assisti-lo é muito prazeroso, e deve ser revisto algumas vezes, principalmente pelos quê se interessam por dilemas daquela geração, suas repercussões; conquistas, ganhos, perdas, oportunidades não identificadas, e vívidas frustrações.

Eu “estive lá”, digamos….

A vida pode ser lida como a construção de uma grande MANDALA. É frágil, bela, feia, às vezes… E a sua regra maior e mais frustrante é a IMPERMANÊNCIA de tudo… É muito trabalho realizado, que pode ser destruído por sopros de vento.

Literalmente, o resultado e a resposta estão “BLOWING IN THE WIND”…, como cantam dois chatos pertinentes e imprescindíveis: BOB DYLAN e o deputado paulista EDUARDO SUPLICY…

O grande momento daquela geração, a minha, foi a sequência explosiva e rica, abrangendo meados da década de 1960 até 1975, mais ou menos.

O ponto existencial, artística e politicamente culminantes foi 1968. Houve rebeliões, e confrontos geracionais no mundo inteiro.

Atingiu os ESTADOS UNIDOS, passou por toda a EUROPA democrática, principalmente FRANÇA, ALEMANHA e INGLATERRA…

Com resquícios na TCHECOSLOVÁQUIA, comunista, mas com certas liberdades interrompidas com a invasão soviética na PRIMAVERA de PRAGA, 1968.

A rebelião global chegou à ARGENTINA e URUGUAI; ao CHILE e ao BRASIL, também – enquanto houve liberdades e democracia…

Foi período político coalhado de ditaduras. E por prazeres explícitos liberados pelas inovações científicas e comportamentais, como a liberação que a pílula anticoncepcional trouxe às mulheres.

Tempo rico, nobre e denso E, torpe ao mesmo tempo. Pode-se alterar a ordem desses 4 fatores como se quiser…A vida ainda é mais ou menos assim…

“UM VERÃO NA GRÉCIA”, é uma pequena obra de arte.

As tramas acontecem em 1969/1970. E um dos subtemas é o reflexo disso tudo na ITÁLIA. E na GRÉCIA, principalmente, governada por um coronel golpista e sanguinário de nome PAPADOPOULOS – já acomodado na lixeira da História.

O roteiro mostra a construção de uma curta história de amor, interrompida pela distância, por dúvidas, e a inexperiência principalmente de ANTONIO. Tudo vem mesclado à filosofia, política e arquitetura. E com ensinamentos da mitologia grega, seus “deuses-espelhos” cheios de boas qualidades, defeitos, maldades, intrigas, perfídias e taras. ( na dúvida, visite o planeta TERRA).

O mesquinho e o sublime mesclados e identificáveis na História humana em todos os tempos. Deuses e mitos humanos até demais!

O primeiro personagem principal é ANTONIO, um jovem estudante italiano interessado por filosofia e mitologia; inteligente, crítico, algo recatado e sonhador; que, ao formar-se no ensino médio, faz viagem de carro à GRÉCIA para seguir os passos, visitar locais, e verificar ensinamentos de seu ídolo: PLATÃO – o inventor do conceito de ALMA.

ANTONIO procura identificar em si mesmo os fundamentos básicos da filosofia platônica: instinto, emoção, razão. Mas, está principalmente interessado em outro aspecto enfatizado por PLATÃO: a IGUALDADE, que inspirou politicamente todo o pensamento da esquerda, do final do século XIX, em diante.

Para ANTONIO, era CHE GUEVARA e a militância peripatética pela AMÉRICA LATINA, quem incorporava a figura de PLATÃO.

E aqui entra a cálida, graciosa, inteligente, corajosa e progressista MARIA. A garota grega que estudara na Itália, e indicada por um amigo para orientar as buscas de ANTONIO.

Ela é o modelo de feminista que admiro. Em vez das vulgares e tão faladas, como LEILA DINIZ, por exemplo. Ou as ditas liberadas que vemos cotidianamente expostas no açougue de carne humana.

MARIA é arrebatamento e charme, na medida … digamos, certa. Suas intervenções irônicas e inteligentes; e as engraçadas e corrosivas manifestações de ciúmes, que todo homem casado, ou comprometido, já assistiu alguma vez, são inesquecíveis porque humanas demais…

Deixo o desenrolar para vocês assistirem.

E vou comentar sobre o sutil tema central do filme: a IMPERMANÊNCIA. E as fugazes oportunidades que a vida apresenta. Mas que, se não percebidas, muitas vezes determinam perdas insuperáveis…

Entre o arrependimento e o remorso oscila a MANDALA que cada um de nós constrói. E a sorte sempre está lançada.

Porque são demais os perigos dessa vida….

Ouça as músicas, e assista ao filme!

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