ELIZETH CARDOSO E ARACY DE ALMEIDA. O QUE TÊM EM COMUM ESSES DOIS DISCOS?

Sou gato de bibliotecas e discotecas.

Ando por elas assediando ( palavrinha da moda, heim ! ), cheirando e apalpando bumbuns e outras partes de discos e livros; lendo contracapas e orelhas; observando os designs gráficos, e os selos de gravadoras.

Tudo considerado, ckntinuo cumprindo um ritual que me fascina, desde criança, por coisas gravadas e impressas.

Acho que gosto mais dos “objetos” discos e livros, do que da “escutação” ou das leituras.

Claro; mais ou menos. Estou exagerando… Sou meio grávido de músicas ouvidas e leituras feitas.

Muita ainda é ou foi feita pela metade; por pequenas partes e muito pouco método. Assimilei muito através da sensibilidade; ou por osmose e gravidade ( caíram sobre mim …) É um hobby viciante. Não largo nem por ameaça ou porrada literalmente aplicada .

Recentemente, eu andava atrás de cds lançados pela GRAVADORA ELENCO, na década de 1960. São fascinantes! Um acervo diferenciado, criado, gravado e produzido por ALOYSIO DE OLIVEIRA , que juntou patos e sapatos; jacarés e tigresas; a velha guarda e os modernos artistas da época.

Era uma gravadora temática, BOUTIQUE sonora refinada, como a BLUE NOTE e a VERVE, americanas, exemplos magníficos.

Vagando pelo virtual cheguei em um disco lançado na ELENCO, em 1966, chamado “SAMBA É ARACY DE ALMEIDA”.

É muito interessante. ARACY era sambista da velha guarda. E, nesse disco gravou os compositores clássicos como NOEL ROSA, ASSIS VALENTE e ARY BARROSO. E, também, MARCOS VALLE, atualíssimo ainda hoje!

O diferencial é que ARACY está acompanhada pelo conjunto de ROBERTO MENESCAL, e a produção de AlOYSIO trouxe todo o repertório para o som contemporâneo da época do lançamento. E ARACY canta com leveza e descontração.

O resultado é BOSSA NOVA de verdade.!

Inspirado nela escutei, também, o “CULT” “CANÇÃO DO AMOR DEMAIS”, de ELIZETH CARDOSO, lançado em 1958, e por muitos considerado o primeiro disco gravado de BOSSA NOVA, porque as musicas são de TOM JOBIM e VINÍCIUS DE MORAES; e JOÃO GILBERTO toca violão – mesmo que sem as ousadias que vinha desenvolvendo.

Porém, o disco é convencional. Feito para a voz de ELIZETH, e com destaque total para ela. Os arranjos de TOM JOBIM são bem feitos, e nada inovadores. Ele usa violinos, harpas e toda a tradição sonora do SAMBA-CANÇÃO, onde ELIZETH era mestra consumada.

Mesmo com “CHEGA DE SAUDADES” no repertório, eu acompanho a opinião do poeta e professor AUGUSTO DE CAMPOS: está longe de ser um disco de BOSSA NOVA.

Tempos atrás, a revista RECORD COLLECTOR fez resenha elogiosa e curta do disco, e lhe deu 4 estrelas. Uma chancela relevante!

Agora, ouvindo e comparando os dois discos eu cheguei a algumas conclusões:

Os inventores da BOSSA NOVA são, mesmo, JOÃO GILBERTO e TOM JOBIM. VINÍCIUS tangenciou o gênero.

O SAMBA CANÇÃO não transitou para a modernidade; não havia elos possíveis, já que, de certa forma, a BOSSA o contestava na sua “breguice” formal e no uso “açucarado ” das cordas – “assassina serial” de ouvintes diabéticos!

Mas, era um jeito americano de fazer e arranjar músicas, contemporâneo à grande canção americana da época. É só dar uma olhada nas paradas e identificar…

De outro lado, o SAMBA DE RAIZ forma a base da BOSSA NOVA com naturalidade impressionante. A tradição de ARACY juntada ao “POP” de MENESCAL e sua turma, são exemplos claros. Ao adicionar uma colherada de JAZZ no otimismo dos tempos democráticos de JUSCELINO KUBISTCHEK, criou-se uma receita musical próxima da perfeição.

Bem, como gato velho, miei demais por aqui. Mas, acho que ainda mantenho parte do meu faro.

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