BATERISTAS E A MODERNIDADE

 

Entre os meses de outubro de 1958 e agosto de 1959, vieram ao mundo três discos seminais, clássicos absolutos ouvidos de lá em diante por gerações, e reeditados por diversos meios.

Aqui estão obras que influenciaram o futuro; ou se tornaram apenas sucesso de público quase eterno.

Eu falo do primeiro disco de JOÃO GILBERTO, “CHEGA DE SAUDADES”, de outubro de 1958 que, além do violão inovador e a presença de TOM JOBIM, teve a colaboração essencial de um baterista que reorientou o samba para novos rumos, mais próximo ao que faziam os jazzistas de seu tempo: MILTON BANANA.

Sem ele, a tradição não teria sido renovada em formato mais contemporâneo. A BOSSA NOVA passa pelos três em consórcio insubstituível.

No dia dois de março de 1959, foi gravado “SO WHAT?”, a primeira faixa do álbum que simboliza a modernidade no JAZZ, “A KIND OF BLUE”, de MILES DAVIS.

Começa com o baixo de PAUL CHAMBERS. Em seguida, criando caminhos para todos seguirem vem BILL EVANS, o genial pianista, que estrutura a música que virá com a sutiliza e arte que o consagrou.

Eis que a um minuto e trinta e um segundos, desponta para o eterno o BATERISTA JIMMY COBB.

Na caixa acústica ressoa o prato que preenche por completo o ambiente, e libera MILES DAVIS, JOHN COLTRANE e o resto do grupo para criar uma das faixas fundamentais da história do JAZZ.

Ouçam JIMMY COBB sob a perspectiva de um ARAUTO. Um Messias! Eu faço isto frequentemente! É a nave JAZZ singrando o cosmo rumo a sabe-se lá o quê, ou quando!

Para incrementar a discussão, um disco talvez mais fraco, comparativa e artisticamente falando, porém entre os mais vendidos na história da música: “TIME OUT”, gravado por DAVE BRUBECK QUARTET. E a faixa mais popularmente associada ao que seria, humm…JAZZ: “TAKE FIVE”!

Pois, é!

Curiosamente, os que brilham são PAUL DESMOND, no SAX ALTO, e um solo algo comportado do grande BATERISTA JOE MORELLO, porque feito para consolidar a música, marcando antológicos um minuto e cinquenta segundos de apresentação de MORELLO, minuciosamente definidos.

O PIANO de BRUBECK os acompanha com a mestria à beira da música clássica; um dos atrativos para um público branco, mais rico e refinado, que os quatro atingiam. E foi tudo feito em agosto de 1959.

Por favor, jamais suponham que havia racismo. Para os que têm dúvida, procurem outro disco do quarteto de BRUBECK, acompanhando o fantástico BLUES-SHOUTER, JIMMY RUSHING.

Quero argumentar: no espaço de dez meses o mundo da música recompôs rumos! E o JAZZ passou a ganhar mercados.

Mas, o que fazem por aqui, TERJE RYPDAL, um guitarrista inovador; o baixo consagrado de MIROSLAV VITOUS; e JACK DeJOHNETTE, neste sensacional disco da gravadora ECM, de 1979?

É “FUSION à COLD?”

O toque em alto estilo de JACK DeJOHNETTE comandando os pratos da bateria, tornou-se uma das marcas registradas do JAZZ CONTEMPORÂNEO EUROPEU; e neste álbum conduz a incrível e peculiar sonoridade desse “JAZZ POWER TRIO” multinacional.

JACK DeJOHNETTE tem discípulos espalhados pelos discos da gravadora ECM. E pelo mundo… Músicos que, como ele, se recusam a meramente acompanhar, e constroem andamentos, harmonias e melodias com a bateria.

A nova safra de discos da gravadora traz um JAZZ muito peculiar, fincado em música onde o tema central é desconhecido, abrindo espaço para solos e a participação de todos, em um “continuum” que não parece improvisado, ao contrário.

O trio do pianista WOLFERT BREDERODE, neste álbum de 2016, faz música de beleza, sobriedade e sutileza imensas! E abre com aquele som do prato que JACK DeJOHNETTE criou. imperdível!

Você talvez estranhará e perguntará:

Mas, TIO SÉRGIO, e o “LED ZEPPELIN 4”, lançado em 1971, o que faz por aqui?

Ora, a mais esfuziante, “acutilada” e talvez mais conhecida abertura com os pratos da bateria está em “ROCK AND ROLL”.

JOHN BOHNAM, um quase batuqueiro, arrebenta o jogo para sempre, o eterno sempre!

Entenderam?

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