A sorte de nós, contemporâneos, e independentemente de idade ou geração, é termos acesso a material histórico, gravado em décadas anteriores, e recuperados por tecnologias que os trazem com excelente qualidade técnica para os dias de hoje.
É curioso acompanhar as discografias. Há uma característica mais ou menos comum aos “boxes” de CDS feitos dos anos 1990 em diante, principalmente no jazz.
Todos enfatizam e relevam as sessões de gravações, e seus inúmeros “takes” alternativos, OUT TAKES, e outros quitutes. Isto significou uma riqueza de músicas, arranjos, detalhes e técnicas artísticas. E, principalmente, o relançamento de álbuns originais, e a criação de vários outros que já despontam como clássicos.
E porque são!
Todos foram produtos de sessões de gravações recuperadas, geralmente as mesmas de onde foram retirados os discos originais.
Naqueles tempos, gravava-se em série diversas músicas, e depois selecionava-se o que sairia e o que seria arquivado.
Desse ponto de vista, e também do colecionismo, os boxes trazem a produção bruta e integral. Mas, nem sempre as capas dos discos originais e das edições posteriores do material lançados em outros discos, e todos novos clássicos e colecionáveis.
Por isso, é um misto de satisfação pela overdose, e frustração por termos de ir atrás, se quisermos, dos prodigiosos discos e suas capas concebidas originalmente.
A indústria musical sempre faturou e continua ganhando bastante grana conosco, os colecionadores. Eu sou exemplo: tenho quase tudo de BUD POWELL. No entanto, se aparecer uma nova seleção do mesmo, outra capinha, e se não custar caro, ela vem pra minha toca!
Colecionadores são todos infantis. Movem-se no lúdico!
POWELL era um gênio. Reconhecido por MILES DAVIS, CHARLIE PARKER, DIZZY GILLESPIE, THELONIOUS MONK, e o monte de gente com quem também gravou do final dos anos 1940 até meados da década de 1960: J.J.JOHNSON, MAX ROACH, SONNY ROLLINS, craques deste calibre.
Para muitos, BUD fui juntamente com CHARLIE PARKER – com quem não se dava bem – o maior nome da revolução ocorrida no JAZZ em meados do século passado.
O BE BOP, estilo que teve seu ápice nos ano 1940 e 1950, batizado com este nome porque os músicos associavam o andamento rápido, “notas pequenas” e dissonantes, ritmo sincopado e frases que às vezes terminavam abruptamente, com o atrito das marretas pregando trilhos nos dormentes de estradas de ferro!
JAZZ com inspiração nos barulhos que a sociedade Industrial produzia?
BUD POWELL viveu 42 anos. Teve a saúde fragilizada, inclusive a mental, depois de uma surra que levou da polícia ao ser preso por suposta vadiagem, no final dos anos 1940. Ele sofreu muito com diversas internações e acabou por pegar tuberculose, na Europa, que o consumiu e matou.
E para os que se recordam do filme “ROUND MIDNIGHT”, o músico representado pelo personagem de DEXTER GORDON, é um compósito entre BUD POWELL E LESTER YOUNG…
As coleção da BLUE NOTE está recheadas de obras primas. A da VERVE, também, que tem um acabamento gráfico belíssimo e luxuoso, com textos, e relatos de seguidores como HORACE SILVER e TOSHICO AKIYOSHI; fotos e tudo o mais.
Juntei ao material uma foto de POWELL com o trombonista J.J.JOHNSON, cool como quase tudo o que se refere àquele período rico, enfumarado, cult. E, também, um discasso de CHICK COREA chamado REMEMBERING BUD POWELL!
ALLAN BLOOM, crítico literário e cultural, classifica a gravação de “UN POCO LOCO”, pela BLUE NOTE, em 1951, entre as grandes obras de arte produzidas nos EUA! A música veio em três TAKES. É o piano rápido e peculiar de BUD POWELL, acompanhado por baixo, e principalmente pela bateria de MAX ROACH – que engata ao jazz uma percussão latina da pesada, quase trombando com o samba!!!
Realmente, é MUCHO LOCO!
