OS DISCOS NEOPSICODÉLICOS DE UM ARTISTA ORIGINAL NO ROCK ALTERNATIVO.
BECK talvez desafiando a esfinge tenha proclamado: DEVORA-ME. EU TE DECIFREI!
Mas, tio SÉRGIO!!! Você bebeu e ouviu tudo errado de novo?
Quem sabe.
Afinal, uma resenha não é uma crítica. Não tem abrangência e nem pretensão.
Foca em algumas ideias que podem, ou não, refletirem parte do real analisado. É um pequeno sumário de hipóteses. Espécie de MICRO-ENSAIO sobre futilidades não cotidianas.
Conheço e tenho os discos da postagem desde o lançamento. Eles me interessam. Integram a coleção pela inquestionável qualidade, e até relevância histórica.
Ambos retomam o ROCK PSICODÉLICO dos anos 1960 em duas perspectivas que, penso, são complementares e inclusivas.
Em meados da década de 1990 ressurgiu, principalmente na Inglaterra, um movimento de recuperação da herança artística e despojos da PSICODELIA original.
A NEO-PSICODELIA foi assumida por bandas BRIT-POP como RIDE, THE VERVE, CHARLATANS (UK) , RAIN PARADE, entre vários. Há discos notáveis dessa gente toda.
BECK é americano, e talvez tenha fechado a tendência com esses dois discos. Mas, o fez “on his way”: MONTOU SABOROSAS SALADAS DE FRUTA À PARTIR DE UMA SALADA DE “TRETAS”.
MUTATIONS – 1998
Quando escutei identifiquei prontamente que ele fizera um disco sob a visível influência dos PSICODÉLICOS AMERICANOS.
Homenageou a turma do FOLK-ROCK; do COUNTRY – ROCK e os GARAGEIROS CULTS recuperados à partir do final dos 1970.
O início do disco tem gosto de JEFFERSON AIRPLANE; e um quê discreto de ELECTRIC PRUNES. Mas, o cerne é o BOB DYLAN ELETRICO, pós FOLK, enveredando para o COUNTRY ROCK (John Wesley Harding ). Há, também, tinturas dos BYRDS da mesma leva ( Sweetheart of the Rodeo ).
E a tudo isto se adiciona o LOVE, PEARLS BEFORE SWINE, e GENE CLARK – algo esmaecidos…
Mas, quando pensei que havia decifrado a esfígie, BECK entra com ‘TROPICALIA”, num misto inusitado de GILBERTO GIL E TOM ZÉ. E, não para por aí: surge um lusco-fusco de TOM WAITS, no vocal dele. E uma lembrança meio LED ZEPPELIN / YARDBIRDS – talvez ecos de “House of the Holly” .
Assim que o caminho parecia orientado, BECK faz aparição cantando feito RAY DAVIES. E culmina emulando SYD BARRETT!!!!
Se entendi o despiste, parte de DYLAN resvala em TOM WAITS, caminha para RAY DAVIES, e faz o rito de passagem para o SYD BARRET, do primeiro PINK FLOYD. Seria?
SEA CHANGES – 2002
É a sequência mais bem elaborada do MUTATIONS, a meu ver.
Um disco fundamental da primeira década do milênio.
O foco é a PSICODELIA INGLESA, onde até o “FLOWER POWER” é triste, desencantado, e lúgubre.! A Inglaterra é fria, pouco sol, chuva, nevoenta. Então…
Os mais otimistas, feito DONOVAN, também eram sorumbáticos.
BECK toma como base o PINK FLOYD , lado 2 do “ATOM HEART MOTHER”, a pegada FOLK PSICODÉLICA de “Summer 68”. A guitarra à DAVE GILMOUR transpassa o álbum todo.
Eu vejo traços de compactos PÓS-BEAT dos SEARCHERS. Quem puder escute “Second Hand Dealer”. de 1965. Há algo dos STONES buscado em “Dandelion”, e outras. E tangencia os BEATLES no Rubber Soul.
Tudo ruma para retomar SYD BARRET, temperado com NICK DRAKE, SANDY DENNY – os depressivos de sempre -; mas envolvidos em sombras dos melotrons à MOODY BLUES, um pouco do THE MOVE, e outros nada alegrinhos…
Para vocês terem uma ideia menos escura é como se “PERFECT DAY”, de LOU REED, fosse música sobre um domingo alegre!
Há uma sequência de faixas, no final, “Already dead e Sunday Sun”, que dizem bastante sobre o clima do disco. E tudo cantado ao estilo RAY DAVIES, dos KINKS, outro que esbanja alegria pelos poros. BECK focou e criou sobre tudo isso aí.
Seria?
O texto original desta resenha foi dedicado ao meu amigo Elvio Paiva Moreira que, uns quatro anos atrás foi à horta ( a discoteca dele) puxar um maço de cenouras, e levantou uma baita lebre!!!!
Texto original: 23/02/2020
