JOÃO GILBERTO foi a grande ruptura conceitual na música brasileira, em 1958; então, o que deveriam fazer os cantores, compositores e músicos no pós revolução? Como construir e seguir carreira depois de “Chega de Saudades”?
Se percebi corretamente, MARCOS VALLE desde o primeiro disco, em 1963, focou mais na construção melódica. A mais bela, brasileira, e independente música que conseguiu fazer.
Ele trabalhou andamentos, usou orquestrações não convencionais, e assim ampliou a BOSSA NOVA, sem limitar-se a ela.
Talvez?
MARCOS é, antes de tudo, ótimo cantor. Sua voz em alguns momentos tangenciava o WILSON SIMONAL bossanovista de 1961. Mas, o caminho corria paralelo ao timbre e às intenções musicais de MILTON NASCIMENTO. Tem algo dos mineiros; e não é por acaso: gravou com músicos de lá. Muitas composições de MARCOS VALLE feitas anos 1970 têm aquele sabor algo ROCK PROGRESSIVO, melodias e vocais sempre bem arranjados, e pessoais.
MARCOS VALLE é um estilista. Sua música, e as letras concisas, precisas e sintéticas de seu irmão PAULO SÉRGIO VALLE, compõem universo musical de beleza radiante. Luminoso! Mesmo quando aquele travo algo triste das canções de amor da época se manifestam. Ou, em temas sociais, ao tentar refletir sobre o quadro político ou existencial do período.
PAULO SÉRGIO e MARCOS não eram militantes. E muito menos alienados. Eram artistas conscientes; o meio de expressão da dupla era e é a música.
Acho que os irmãos VALLE construíam com “LUZES”. E o bônus desse talento límpido os levou ao sucesso no exterior. As melodias e harmonias de MARCOS VALLE têm comunicação instantânea com o a sensibilidade POP transnacional. Ele é brasileiro, carioca; e simultaneamente universal, do mundo. É compreendido em LONDRES ou em TÓQUIO. Procurem o DVD gravado com a excelente STACEY KENT, canadense, que entende e fala e canta em português – entre outra línguas -; e observem a sinergia entre ambos e o JAZZ-BOSSA-POP que fazem juntos. Delicioso!
O BOX com onze CDs produzido por CHARLES GAVIN, um dos TITÃS, tem bom som, e alguns dados técnicos e sobre os músicos que participaram de cada disco.
Mas, como é infelizmente normal no Brasil, nenhum texto explicativo, introdutório que fosse. Faz falta, muita falta. Paciência…
Não ouvi todos os discos para escrever a vocês. Mas, se compreendi alguma coisa da música dele e, principalmente, sobre a vida até agora, é que em tempos de brutalidade explícita e boçal a luta em favor da delicadeza é indispensável, estratégica.
É preciso ter como objetivo o predomínio do belo. Ouçam “Meu Heroi” e Remédio pro coração”, de 1974. É arte feita por gente que sabe desse complexo segredo escondido pelo dia-a-dia.
Ouçam, os irmãos VALLE. Gente do mundo inteiro faz isso há tempos. Estão muito longe de ser um segredo brasileiro!
MARCOS VALLE – MÚSICA ILUMINADA!
DISCOGRAFIA EMI: 1963/1974 & LIVE AT BIRDLAND, COM STACEY KENT, 2014
Se JOÃO GILBERTO foi a grande ruptura conceitual na música brasileira, em 1958; então, o que deveriam fazer os cantores, compositores e músicos no pós revolução? Como construir e seguir carreira depois de “Chega de Saudades”?
Se percebi corretamente, MARCOS VALLE desde o primeiro disco, em 1963, focou mais na construção melódica. A mais bela, brasileira, e independente música que conseguiu fazer.
Ele trabalhou andamentos, usou orquestrações não convencionais, e assim ampliou a BOSSA NOVA, sem limitar-se a ela.
Talvez?
MARCOS é, antes de tudo, ótimo cantor. Sua voz em alguns momentos tangenciava o WILSON SIMONAL bossanovista de 1961. Mas, o caminho corria paralelo ao timbre e às intenções musicais de MILTON NASCIMENTO. Tem algo dos mineiros; e não é por acaso: gravou com músicos de lá. Muitas composições de MARCOS VALLE feitas anos 1970 têm aquele sabor algo ROCK PROGRESSIVO, melodias e vocais sempre bem arranjados, e pessoais.
MARCOS VALLE é um estilista. Sua música, e as letras concisas, precisas e sintéticas de seu irmão PAULO SÉRGIO VALLE, compõem universo musical de beleza radiante. Luminoso! Mesmo quando aquele travo algo triste das canções de amor da época se manifestam. Ou, em temas sociais, ao tentar refletir sobre o quadro político ou existencial do período.
PAULO SÉRGIO e MARCOS não eram militantes. E muito menos alienados. Eram artistas conscientes; o meio de expressão da dupla era e é a música.
Acho que os irmãos VALLE construíam com “LUZES”. E o bônus desse talento límpido os levou ao sucesso no exterior. As melodias e harmonias de MARCOS VALLE têm comunicação instantânea com o a sensibilidade POP transnacional. Ele é brasileiro, carioca; e simultaneamente universal, do mundo. É compreendido em LONDRES ou em TÓQUIO. Procurem o DVD gravado com a excelente STACEY KENT, canadense, que entende e fala e canta em português – entre outra línguas -; e observem a sinergia entre ambos e o JAZZ-BOSSA-POP que fazem juntos. Delicioso!
O BOX com onze CDs produzido por CHARLES GAVIN, um dos TITÃS, tem bom som, e alguns dados técnicos e sobre os músicos que participaram de cada disco.
Mas, como é infelizmente normal no Brasil, nenhum texto explicativo, introdutório que fosse. Faz falta, muita falta. Paciência…
Não ouvi todos os discos para escrever a vocês. Mas, se compreendi alguma coisa da música dele e, principalmente, sobre a vida até agora, é que em tempos de brutalidade explícita e boçal a luta em favor da delicadeza é indispensável, estratégica.
É preciso ter como objetivo o predomínio do belo. Ouçam “Meu Heroi” e Remédio pro coração”, de 1974. É arte feita por gente que sabe desse complexo segredo escondido pelo dia-a-dia.
Ouçam, os irmãos VALLE. Gente do mundo inteiro faz isso há tempos. Estão muito longe de ser um segredo brasileiro!
Postagem original: 22/02/2020
