Quando ROBERTINHO, mais conhecido por ROBERT SMITH, saiu do palco sob aplausos e glória, depois de show do THE CURE, em São Paulo, fiquei pensando sobre a nossa intensa e talvez desmedida alegria enquanto povo – supostamente, quem sabe…
Pensando em indivíduos concretos, talvez todo brasileiro seja “SOLAR” enquanto não trafega pelo underground de si mesmo. Nesse tempo de iras, desacordos e polarizações, a infinita “sadness” deve suplantar alegrias breves…
ROBERT é um dos artistas mais introspectivos dos últimos 50 anos. Um não-brasileiro de alma e postura, mas que agrada e muito, quando por aqui se apresenta.
Ele é um ídolo improvável. E, quem sabe, se aproxime em fama e público a ROGER WATERS. Alguém tão discreto e tímido traria algum significado mais consistente para explicar seu público supostamente SOLAR?
ROBERT SMITH sempre foi um espetáculo de fragilidade. Então, pensei em outros fortes/frágeis e seus percursos sobre essa “tangerina” encoberta por placentas de nuvens”. Ela mesmo, a TERRA…
A ordem na postagem foi supostamente estética. Pra sair menos mal na foto. Então,
Alguém conceberia artista mais ensimesmado, e com a voz mais chorosa e desolada do que NEIL YOUNG?
TIO SÉRGIO trouxe outros. ROBERT WYATT, ex – SOFT MACHINE, é um fiapo de voz, e mora no DESOLATION RAW do ROCK… Aconchegante feito estar sozinho de madrugada no velório de alguém querido é ouvir GENE CLARK, em quaisquer de seus discos. Sua voz belíssima, bem colocada sobre melodias e arranjos FOLK, passam o homem que ele foi: deprimido, solitário, frágil, deslocado.
Mas, pode piorar. Se o relacionamento amoroso vai mal escutar JONI MITCHELL pode ser o tiro de misericórdia no coração dos sofridos. Ela, um gênio em vários sentidos, e nos atrai com suas composições lindas, bem escritas e arranjadas – mas, não disfarçam o eterno buraco que ostenta no peito, na mente, no corpo…
GRAHAN NASH, ex-namorado, escreveu para ela a singela “OUR HOUSE”, gravada por CROSBY, STILLS, ELE e NEIL YOUNG. Talvez pressentindo o gosto da alegria breve. O nosso “ROBERTINHO”, 64 anos, fez o clássico “LOVESONG”, para sua mulher, MARY, com quem está desde a adolescência…
E vamos para o WILD SIDE da existência. Ouçam SCOTT WALKER, principalmente MONTAGUE TERRACE IN BLUE, que não cai nada bem para um ídolo POP provocador de histerias, em meados da década de 1960. SCOTT sempre foi ermo, dark, solitário e recluso. Abdicou do mundo e ponto final…
E que tal um naco de alegria com LOU REED tomando sangria num PERFECT DAY no parque? Nem vou mergulhar na discografia barra pesada que deixou A faixa no álbum TRANSFORMER, é o auge de calor humano que o marido da LAURIE ANDERSON conseguiu. E, por falar nela….
Para vocês aquecerem a alma penada para o verão, mais um pouquinho de cicuta na cachaça…
Conhecem o espetacular disco de 1974 prenunciando o espírito DARK WAVE, gravado por NICO, PHIL MANZANERA, BRIAN ENO, e JOHN CALE?
Procurem. Lá está versão assustadora e cabisbaixa de THE END, consagrada pelos DOORS. O restante do repertório não desatina… é ladeira abaixo…
Pesquisem o lindíssimo “SONGS FROM THE COLD SEAS”, trilha para um filme de HECTOR ZAZOU, com SIOUXIE, JANE SIBERRY, BJORK, SUZANNE VEGA, JOHN CALE, e outros gélidos.
E não percam a alemã UTE LEMPER em PUNISHING KISS, com NICK CAVE, ELVIS COSTELLO, PHILLIP GLASS, TOM WAITS, SCOTT WALKER e KURT WEILL. Um repertório que somente os alemães poderiam “aquecer” com tal proficiência…
Ah, ia esquecendo, a dupla UNTHANKS, em disco ao vivo com músicas de ROBERT WYATT e ANTHONY and the JOHNSONS. Sopa fria, boa para verões quentes… no norte da Europa.
Pra terminar, o grupo americano BLACK TAPE FOR A BLUE GIRL, que talvez o ROBERTINHO conheça, e é a cara dele. Na postagem, um de seus não-hits recônditos: “”THIS LUSH GARDEN WITHIN”. É Dark Wave assumida e consumada.
Agora, eu vou pra piscina, aplacar o excesso de calor. Minh`alma refrigerada por tanta música alto-astral está fora de meu corpo…
Morrer, por enquanto não, obrigado…
