As mulheres albanesas criaram metáfora poética para definir o amado que partiu, ou aquele cara que veio ao primeiro encontro e nunca mais apareceu: ARCO-ÍRIS. Porque é bonito, desaparece nas brumas, no céu, esvaece no horizonte, e deixa imagem longínqua e, às vezes, saudades…
É um jeito belo e triste para definir algo que todos já vivenciaram. Poético e criativo.
Quem fala isto sobre homens que partiram é ELINA DUNI, mulher atraente e excelente cantora de FOLK-JAZZ, que saiu da ALBÂNIA para estudar na SUÍÇA, onde começou a cantar MÚSICA FOLCLÓRICA de seu país, canções de exílio eivadas por saudades. E acabou evoluindo para uma forma de FUSION – JAZZ COM ELEMENTOS TRADICIONAIS DOS BALCÃS.
Funciona. Acredite!
Para mim, a comunicação entre universos tão distintos tem de ser feita através de alguma forma compreensível e universal a outras culturas.
Penso que o JAZZ e a MÚSICA CLÁSSICA são as mais sofisticadas maneiras contemporâneas de combinar e transmitir vivências únicas. Têm legitimidade e tradição para intermediar e inspirar outras gentes a conhecer o diferente.
Lembre-se de VILLA LOBOS, no Brasil; BELA BARTÓK, na Hungria; e GERSHWIN, na América.
Mirem TOM JOBIM e a BOSSA NOVA levando o SAMBA brasileiro ao mundo; ou EGBERTO GISMONTI cantando o interior do Rio; e MILTON NASCIMENTO expondo Minas de forma inteligível a outros povos.
Mas, não esqueçam ELOMAR criando a simbiose entre o SERTÃO o e a MÚSICA DE CÂMARA ( ARMORIAL? ), sonoridade simultaneamente POPULAR e CLÁSSICA. Um quase “JETHRO TULL DO SERTÃO”. Linguagens originais e comunicáveis.
ELINA DUNI E COLIN VALLON ( pronunciem o nome do moço, pianista excelente em ascensão, como um francês ) ambos fazem isto.
COLIN fez parte do soberbo quarteto de ELINA. Desenvolveu um fraseado pianístico que capta a emissão do cantar, e põe em relevo o jeito de falar dos povos dos Balcãs. O efeito é belíssimo. É um JAZZ com sotaque único.
VALLON inspira-se nas fronteiras de outros povos; tem influência da MÚSICA TURCA e da MÚSICA dos povos lindeiros à Rússia. Ele é um suíço que perscrutou a Europa Oriental.
A produção da ECM é a base comum a ambos. A fluidez e o som etéreo da FUSION que a gravadora de MANFRED EICHER injeta em seus artistas garante essa comunicabilidade universal. Mas, sem a perda do vigor da cultura regional.
Se vocês querem algo novo em perspectiva instigante, então procurem os discos da foto, gravados por esses dois quase jovens.
TIRANA, hoje, é cidade integrada ao mundo, exemplo de recuperação urbana e soluções arquitetônicas baratas.
E o caminhar do centro ao periférico, dentro da Europa, é estrada curta. Entre a SUÍÇA e a ALBÂNIA, são pouco mais que 1.150km! Algo como ir da SÃO PAULO a PORTO ALEGRE.
No CD player ou no YOUTUBE é mais rápido ainda.
Postagem original: 03/03/2021
