ALICE COLTRANE: DO LEGADO AVANT-GARDE À FUSION, E NEW AGE

ALICE McLEOD foi apresentada a JOHN COLTRANE, em 1963, por TERRY GIBBS, vibrafonista e líder do grupo onde ela tocava piano. São os cruzamentos que a vida traz. Todos eles eram músicos, e estavam se apresentando no mesmo local, quando ALICE ficou fascinada pela música que JOHN COLTRANE estava fazendo: O AVANT GARDE JAZZ; que auxiliou na progressiva desconstrução da sonoridade tradicional, desafiada pelo BE-BOP e o FREE JAZZ, e apontava para o incerto que perdura até hoje!

Seria?

Ela obviamente foi além. Casou-se com JOHN, ainda em 1963, e tiveram 3 filhos. Permaneceram juntos até julho de 1967, quando COLTRANE morreu vítima de um câncer de fígado diagnosticado tardiamente.

ALICE COLTRANE, moça alta, esguia, discreta e cool. Ah, claro: ótima pianista, excelente harpista. E, contou GIBBS, vibrafonista eficiente. Multitalentosa, por supuesto!

ELa tomou lições de música em casa, e foi se desenvolvendo. Tornou-se profissional. Depois, virou lenda.

Nunca se sabe o que a vida faz, realmente, a cada um de nós.

É fato que os anos 1960 foram abrasivos para os jazzistas. A desconstrução da música mais sofisticada, do clássico ao jazz, foi minando as tradições.Tempos difíceis para os mais criativos!

A GRANDE CANÇÃO AMERICANA estava em fase descendente, com o fim do predomínio de ELLA, SARAH, BILLIE e SINATRA… Ainda assim, continou sobrevivendo com o rugido global da BOSSA NOVA…

Mas TIO SÉRGIO, o que tem o BRASIL a ver com isso?

Tudo, ué?

Como vocês encaram a nossa BOSSA NOVA?

Foi o último espasmo de uma sofisticação no molde conservador que chegara ao fim. Dizendo de maneira mais precisa, tudo foi substituído pelo POP – ROCK.

E a trajetória do JAZZ, música de construção complexa, também ia cachoeira abaixo.

ALICE COLTRANE entrou em cena no final daquela era magnífica!

Em 1966, substituiu o pianista McCOY TYNER ( TIO SÉRGIO o assistiu ao vivo, no Rio de Janeiro!!! ), no grupo de COLTRANE. Esteve na última fase da carreira de JOHN por cerca de um ano.

Participou de “STELLAR REGIONS”, o penúltimo de JOHN, 1967, disco de perfomances mais contidas ( ele já sabia que estava com câncer ). E, também, em COSMIC MUSIC, 1966, doideira AVANT GUARDE fronteiriça ao inaudível. Ambos lançados postumamente.

Com a morte de “TRANE”, ALICE tentou retomada, mas sem grande convicção. Ela havia mudado.

Gravou um disco de transição, “A MONASTIC TRIO”, 1968, acompanhada por músicos da banda de COLTRANE – PHAROAH SANDERS, tenor, etc; JIMMY GARRISON, baixo; BEN RILLEY E RASHID ALI, na bateria. Tocou harpa e piano.

Fez melhor, depois.

Seu disco mais elaborado e técnico é “PTAH THE EL DAOUD”. Que não se perca pelo nome: é pós FREE JAZZ puro! Com PHAROAH SANDERS e JOE HENDERSON , nos saxes tenores, e RON CARTER e BEN RILLEY, baixo e bateria.

Foi gravado em janeiro de 1970. Eu recomendo. É disco melódico e avançado, e ALICE está tocando muito bem!

Depois disso, ALICE COLTRANE desbundou de vez. havia assumido o hinduísmo anos antes; passou a administrar um museu e memorial, e a fazer um “blend” de MÚSICA ORIENTAL, ROCK PROGRESSIVO, JAZZ FUSION E NEW AGE. Assestou mira para os tempos correntes.

Seu disco mais famoso, “JOURNEY IN SATCHIDANANDA”, novembro de 1970, é marco da NOVA ERA.

Eu adorava esse disco! Hoje, gosto. A fusão de JAZZ VANGUARDA e MÚSICA HINDU, instigante por definção, esbarra no uso implacável do TAMBOURA. Instrumento que lembra o visual do SITAR, mas tem o som de uma “cigarra pentelha”, insistente, monocórdica e recorrente. Serviu de base para as loucuras de SANDERS, no tenor, e ALICE na harpa e no piano, acompanhada de jeito monótono por CECIL McBEE, e CHARLIE HADEN no baixo.

O DISCO FICA ENTRE O PSICODÉLICO E O TREMENDAMENTE CHATO! É um orgasmo cósmico, infindável e não resolvido. Eu preferiria uma ejaculação precoce…

Porém… é um sucesso, e vá lá, bom de ter na coleção!

ALICE fez outros discos. Em 1976, lançou ETERNITY. Inicia com orquestração interessante, algo etérea, mas despenca para as “SANTANISSES” ( da banda SANTANA…) da época: percussão latina, mais órgão e harpa.

É dispensável, mas tem o colorido de seu tempo e dentro do estilo por ela desenvolvido. Curiosamente, ALICE nos faz perceber o quanto CARLOS SANTANA é marcante. Ele recolocou, e mantém a música latina no mapa de várias maneiras, via FUSION, inclusive.

Ouça os dois!
Postagem original: 07/03/2021

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