Em 1968, escutei no rádio e pela primeira vez “I GOT A LINE ON YOU”, sucesso e um clássico do SUNSHINE POP.
No ano seguinte, conheci “1984”, um ROCK PSICODÉLICO de primeiríssima linha, faixa de um disco clássico do “SPIRIT: 12 DREAMS OF DR. SARDONICUS”. Foi na RÁDIO ELDORADO, a primeira emissora de SAMPA a programar música de qualidade, principalmente JAZZ, MPB, INSTRUMENTAIS e CLÁSSICOS.
Mas, havia um programa às sextas feiras e sábados, em torno das 11 horas da noite, chamado “DANCE COM A ELDORADO” – se a memória de crateras lunares não falhou. Lá desfilava seletivamente o “HIT PARADE” americano, independentemente de ser dançavel ou não.
Eu não perdia… Até começar a sair pra bailes, e o vasto é delicioso etc…
O primeiro álbum do SPIRIT que comprei foi uma coletânea. Logo depois descolei, também, o disco de carreira “12 DREAMS OF DR. SARDONICUS”, que vi em belíssima reedição atual em VINIL BRANCO – até considerei comprar. É um clássico do ROCK, na transição da PSICODELIA para o PROGRESSIVO.
A história é a seguinte: RANDY CALIFORNIA, o guitarrista, procurou NEIL YOUNG para saber o que achava de DAVID BRIGGS, que trabalhava com ele, para produzir “12 DREAMS…”
NEIL avalizou entusiasticamente.
Há, penso eu, aquele retrogosto de solidão “YOUNGIANA” perpassando o disco, que foi lançado, em 1971, depois da formação original do SPIRIT já desfeita.
Os 4 PRIMEIROS LONG PLAYS do SPIRIT, o primeiro deles de 1967, são todos igualmente ótimos. Estão mais na linha do JEFFERSON AIRPLANE e do LOVE; orbitam à distância, mas escapando feito cometa, o GRATEFUL DEAD. Tipicamente californianos, o grupo era de LOS ANGELES.
A banda faz um compósito de ROCK PESADO, algum FOLK e bastante BLUES. E tingidos por guitarras distorcidas, linhas de baixo quase discretas quanto espetaculares, teclados cósmicos e pesados circundados pela percussão “JAZZY” .
O baterista, ED CASSIDY, havia tocado com DEXTER GORDON, RY COODER e TAJ MAHAL; era do ramo. E os discos são “GUMBOS” originais e deliciosos, em “clima sonoro” algo opressivo. “ORWELLIANO”?
E, para isso, concorrem as ORQUESTRAÇÕES que envolvem certas músicas. Pesadas, tensas, claustrofóbicas…
O que leva, também, à minha irresponsável suspeita de que inspiraram de alguma forma ROGÉRIO DUPRAT nos arranjos de “CONSTRUÇÃO” e “DEUS LHE PAGUE”, obras de arte transcendentes de CHICO BUARQUE, gravadas em 1971! Talvez o mais brasileiro entre os modernos compositores pátrios! É curioso e instigante!
Não esqueçam, DUPRAT é o maestro chave da TROPICÁLIA, a PSICODELIA traduzida para a MPB. Escutem atentamente essas músicas. São PURA VANGUARDA. Em minha leitura, M.P.B.PSICODELICO-PROGRESSIVA: influencia do ROCK PROGRESSIVO e adjacências em expansão?
Averiguem! Protestem!
Postagem original: 27/03/2020
