O biógrafo e escritor RUY CASTRO é um jornalista cultural conhecedor de artes e cinema. É sabedor e contador de histórias saborosas sobre artistas, diretores, e vasto etc…
RUY CASTRO é, principalmente, amante e colecionador de discos. Há mais de vinte anos, começou um artigo desse jeito: “Quando eu morrer vou assombrar e morar na discoteca do CARLOS CONDE”!
Pois é, CONDE foi grande colecionador de LONG PLAYS desde os anos 1950. Durante muito tempo produziu e apresentou um delicioso programa sobre JAZZ, na rádio Cultura de São Paulo. CARLOS quase sempre colocava a própria discoteca para tocar. Quem gostasse de JAZZ uivava feito coiote pra lua! E éramos, e ainda hoje somos muitos. talvez mais ainda!
Eu conheci o CONDE em uma circunstância curiosa. Nos encontramos em um acanhado SEBO DE DISCOS abarrotado, escondido em porão no centro do bairro da PENHA, em SÃO PAULO. Lugar implausível. Vou dizer o porquê, depois de contar uma história real, objeto de matéria no extinto JORNAL da TARDE, daqui de Sampa. Eu sei um pouquinho mais…
No final dos anos 1990, faleceu um banqueiro da pesada; era da família Simonsen. Ele tinha um hobby sensacional: desde a década de 1940, o cara comprava discos em quantidades industriais! Ele tinha grana, muita grana!
Parou de comprar no início dos anos 1990, já muito velho. O cara gostava de tudo, e acompanhou tempos, estilos e eras. Edições e renovações de tecnologias. Colecionou, guardou, acumulou. Em última análise, PRESERVOU um acervo inacreditável!!!!
Descreveu a reportagem que, na mansão dele, havia um pequeno teatro completamente montado com o fino em equipamentos de som! Coisa para os muito ricos
Pois, bem; o cara morreu e a família começou o inventário e a “prospecção” dos acúmulos e coleções. Encontraram milhares e milhares de discos, e nos lugares mais inusitados. Havia pacotes ainda fechados enviados pela BRENO ROSSI e BRUNO BLOIS, lojas em que a elite comprava música de qualidade, dos anos 1950 ao início dos 1990 – e que os enviava aos montes para o sujeito, e outros clieentes selecionados. Era quase tudo importado, claro.
Bom, o que fazer com aquilo?
Eram tempos de vinil em baixa e sendo sucateado.
Primeiro, procuraram um SHEIK ÁRABE que, dizia-se, era o maior colecionador do mundo, com mais 400 mil itens à época. Mas, ele não se interessou porque possuía a maioria dos discos…
Acabaram se aproximando de uma famosa loja de discos usados, em São Paulo, que existe até hoje Mas, não chegaram a um acordo.
Porém, o filho do dono topou abrir uma loja só para vender o acervo. Houve cisão na família…
Pois bem, com essa “Meca Vinílica” solta por aí, colecionadores babões engalfinharam-se como hienas. E, tempos depois, o que sobrou foi parar no sebo subterrâneo da Penha.
Em uma tarde de sábado, eu fui até lá dar uma olhada. Era o ano 2000. Estava lá CARLOS CONDE ajudando um amigo a comprar alguns “lixos”: ELLA FITZGERALD, MILES DAVIS, SARAH, ELLINGTON e outros “menos votados”… O sujeito estava iniciando no colecionismo. Conversamos e trocamos telefones.
Havia mais gente garimpando JAZZ. Eu comprei alguns discos que estavam sendo vendidos a R$ 4,00 cada um. Não era pouco tão pouco dinheiro, mas valia a pena. Eu peguei um original da BLUE NOTE, do HORACE SILVER, o que está postado aqui; eu o mantenho até hoje. E manterei vida afora… OOOPPPSSS. E, também, o BOX com 10 long plays de KEITH JARRET, a edição japonesa do ‘THE SUN CONCERTS” – estava incompleta, mas e daí!!! Encontrei, também, um original americano da cantora de BLUES inglesa, JO ANNE KELLY. Custam uma baba, hoje!
Anos depois, eu me desfiz de tudo junto com mais uns 500 discos de vinil de MÚSICA CLÁSSICA que ainda tinha, conseguidos como descrevi em outra postagem – que qualquer hora eu acesso…
Troquei a coleção toda por um equipamento de som HIGH END de entrada. Na época, o Up grade valeu a pena para mim…Hoje, eu não teria feito…
Pois, é! Ninguém prevê as voltas e piruetas que a história e a vida fazem…

Curtir
Comentar