Em 1983, saiu “POWER, CORRUPTION AND LIES, recentemente relançado em edição luxuosa e, para muitos, o melhor LP do NEW ORDER. O disco foi gravado no “BRITANNIA ROW, o ESTÚDIO DO PINK FLOYD.
Eles se recordam de que nunca haviam sido tão bem tratados. Serviram lanches, bebidas e, principalmente, tiveram à disposição equipamentos eletrônicos de ponta, normalmente fora do alcance para uma banda como a deles. Ou seja: era tipo um imenso bananal para um bando de saguís famintos!
Quase todos sabem que o “NEW ORDER” ressurgiu do “JOY DIVISION”, em crise quase terminal por causa do suicídio do vocalista IAN CURTIS, em maio de 1980.
O que veio daí em diante, foi uma epopeia de ressurreição e criatividade não tão comum história do rock. O quê fazer? Como seguir em frente? O três que sobraram tatearam meio às cegas…
O “ambiente musical inglês” tinha outras bandas algo DARK, a caminho do GOTHIC ROCK, e com certas características parecidas com a deles: guitarra e bateria; e mais o baixo proeminente mixado algo acima do tom, como os de PORL THOMPSON, no “THE CURE”; STEVEN SEVERIN, com “SIOUXIE AND THE BANSHEES”…
…e PETER HOOK, no JOY DIVISION; que manteve esse jeito de tocar em parte das composições do futuro NEW ORDER, mas cedeu à predominância do som eletrônico que a banda criou, onde o baixo era, também, parte da massa sonora e criador de melodias e não apenas de andamento e ritmo.
Foi em meio ao lusco-fusco existencial que GILLIAN GILBERT entrou para o grupo, em 1980. Ela era estudante e namorada de STEPHEN MORRIS, o baterista da banda (continuam casados); e teve de pedir autorização ao pai para acumular escola e música.
GILLIAN tocava teclados, e não era lá essas coisas musicalmente; mas tinha ideias. E, como os outros três, trabalhava duro, paciente e persistentemente até acertar. Fazer a integração banda/eletrônica deu trabalho imenso, afirmam.
O NEW ORDER, enquanto conceito, modelou-se a partir daí. Um mix de ROCK e DANCE MUSIC; eletrônica e guitarras; melodioso e, às vezes pesado; animado e dançável, mesmo retendo um quê de melancolia e cheiro de um certo bucolismo britânico. Nunca perdeu o travo BITTER e DARK do GOTHIC ROCK.
Muitos consideram esta sacada pioneira. Eles não eram PUNKS, e nem TECHNO-POP; não seguiam a linha dos SMITHS e nem a do U-2. Abriram vereda própria observando o KRAUTROCK alemão; e os nascentes DANCE MUSIC, o RAP e HIP-HOP americanos e a intromissão criativa de seus D.Js.
Em 1982, foram a NOVA YORK e ficaram fascinados com o que viram por lá: imensas danceterias, que não existiam na Inglaterra, e a criação e criatividade de produtores e “mixadores” tipo GEORGE BAKER – que produziu um MAXI-SINGLE para o NEW ORDER. Era época e ambiente para AFRIKA BAMBAATA, GRAND MASTER FLASH, e a nova música negra que até hoje inunda o planeta. E todos eles frutos principalmente da evolução tecnológica dos sintetizadores, baterias eletrônicas, processadores e a parafernália que mudou a música popular, do início dos anos 1980 em diante.
Na opinião do TIO SÉRGIO aqui, o NEW ORDER, é um dos agentes dessa transformação radical de processos e perspectivas; trouxe vida nova aos “SINGLES”, que deixaram de ser apenas “música única” e isolada, para possibilitar que uma “única música” se transformasse em várias semelhantes.
A “invenção” do “MAXI-SINGLE”, que tem o tamanho de um LP normal com 12 polegadas, revolucionou as pistas de danças mundo afora. E o NEW ORDER rompeu uma regra consagrada: o “SINGLE” antes muitas vezes retirado ou reduzido de uma faixa maior de algum LONG PLAY, com eles passou a ser “outra música”; diferente da que estava no disco de origem. É outro conceito, acreditem!
O MAXI-SINGLE virou uma proposta à parte. Uma extensão diferente dos LONG PLAYS e dos SINGLES comuns da banda.
Com eles, tornou-se possível trabalhar novos e quaisquer conceitos em uma ou duas faixas. As remixagens e recriações que os D.Js passaram a fazer, encontraram o formato e a duração ideal.
A música do NEW ORDER foi um oceano de possibilidades para essa turma que produzia e produz “RAVES”e festas. Que, em contrapartida, expôs e recriou a música deles à exaustão, trazendo mais uma boa grana para a banda!
É interessante observar o efeito na prática. Em coletâneas, por exemplo, fica explícito que eram “reflexões” diferentes sobre a suposta “mesma música”. E como gravaram dezenas de SINGLES e MAXI-SINGLES, é possível inferir que uma obra paralela e pronta em si mesma habita cada um. É MÚSICA PROGRESSIVA? (Acho que é).
E a eletrônica chegou a permear de tal forma os discos do NEW ORDER, que GILLIAN ironizou dizendo que, no LP TECHNIQUE, até os instrumentos acústicos foram “sampledos”…
Passaram por minha discoteca vários SINGLES e MAXI-SINGLES diferentes com a mesma música remixada, extendida, modificada e o escambau a quatro! Tive coisas doidas, por exemplo da BJORK, uma das seguidoras e consequência do modo de ver proposto pelo NEW ORDER e os d.Js. Na década de 1990, houve enxurrada de SINGLES E MAXI-SINGLES também em CDS.
Quando voltaram à INGLATERRA, atulhados de discos de RAP, HIP-HOP, TECHNO, ELECTRO, e outras tendências eletrônicas, entraram de cabeça neste novo mundo. E, juntos com o pessoal da gravadora FACTORY, por onde lançavam seus trabalhos, abriram a famosa e cult “FAC-51 THE HAÇIENDA”, um misto de clube e danceteria, em espaço muito maior do que havia por lá… Tocaram ao vivo muitas vezes lá.
O MAXI-SINGLE mais vendido da história é BLUE MONDAY, do NEW ORDER, lançado em 1983. Mais de 400 mil cópias!
GILLIAN conta que foi dificílimo fazer. Os sequenciadores da época eram complicados de usar. E a programação feita quase item por item, nota por nota…Um trabalho imenso!
TIO SÉRGIO ousa argumentar que a música foi se tornando uma “CONSTRUÇÃO ELETRÔNICA”. Por isso, um D.J. pode operar como construtor/desconstrutor da obra de um artista.
Depois do surgimento dos computadores pessoais, e dos “Smart Phones”, possibilitando facilidades que os antigos D.Js. e músicos ainda não tinham; o uso do “RECORTA-COLA-REMIXA” abriu caminho para mais outra revolução!
A tecnologia digital atomizou cada curioso, ou interessado em música e tecnologia, em sua discoteca e computador. Mas, tornou possível a intervenção/desconstrução/reconstrução da própria obra e a dos outros. Pode-se, hoje, livremente criar uma nova, uma outra música e transforma-la em “AUTO-ELETROFAGIA CONTÍNUA E CONTROLÁVEL”. Porra, tio Sérgio, que “metalingualização”, heim!!!!
O box aqui postado, RETRO (Ô?), com 4 CDS, lançado em 2002, é excelente resumo do que fez o NEW ORDER. São 57 músicas, entre elas 21 SINGLES E MAXI-SINGLES; 20 faixas retiradas dos LPS de carreira; 2 de origem não especificada; e15 gravadas ao vivo. É sensacional!!!
O BOX está dividido em 4 “curadorias”. Isto mesmo, CURADORIAS: POP ( coisas dançáveis, alegres ); FAN: aparentemente músicas mais conceituais e elaboradas; CLUB: faixas remixadas por D.Js mundo afora; e LIVE: diversos show e épocas, selecionados por BOB GILLESPIE, do PRIMAL SCREAM, amigo e fã da banda.
Quando resolveram coligir para o box, eles acharam muito difícil chegar a um acordo sobre o quê entraria, ou não. E deixaram para amigos fãs, entre eles dois jornalistas fazerem.
Eu acho que deu certo.
TIO SÉRGIO vai fazer um vaticínio: será que um dia o NEW ORDER não será também enquadrado nos PROGRESSIVOS? – PROG, na linguagem de hoje?
Explico: Entre as divisões existentes para o ROCK PROGRESSIVO estão os PROGRESSIVOS ELETRÔNICOS – TANGERINE DREAM e o KRAFTWERK, por exemplo. E como vários MAXI-SINGLES e músicas esparsas nos LPS têm alguma conotação e desenvolvimento mais viajante, climático, e elaborado musicalmente, eu não ficaria surpreso se surgisse a ideia.
Observar o CD “CLUB” deixa nítido o imenso potencial para criar longas viagens, climas e RAVES eletrônicas em disco.
E ouvindo mais atentamente as gravações ao vivo – CD LIVE -, reluz a “possível justaposição comparativa” entre os concertos ao vivo, lotados de inacabáveis improvisações, solos, e etc… de bandas dos anos 1960, tipo GRATEFUL DEAD e JEFFERSON AIRPLANE; e as longas viagens eletrônicas modernas em “RAVES” e SHOWS recheados de cores, improvisações, lisergia – e drogas, como sempre.
São tempos, modos e eventos diferentes; mas tudo é música, festa, dança, clima, curtição… Às vezes, no lugar das bandas, os DJs. E, frequentemente, ambos misturados e coesos…
Afinal de contas, se no final dos anos 1970 algum doido chegasse na BARATOS AFINS, ou na WOP-BOP, e dissesse que o SUPERTRAMP era ROCK PREGRESSIVO teria corrido sério risco de ser açoitado na PRAÇA da REPÚBLICA…
Hoje, o pessoal diz que é….e nem se discute!
POSTAGEM ORIGINAL: 18/04/2021