ALEXANDRA ELENE McLEAN DENNY era muito baixinha, ativa, bem humorada – geralmente -, depressiva e mercurial; segura em seus propósitos profissionais e insegura nos resultados e realizações que obteve durante a carreira.
Sempre achava que sua parte não estava boa. Mas, tocava com proficiência violão, piano e acordeom. Sobre o cantar eu falo já-já!
ALEXANDRA, a SANDY, era contraditória. Quase bonita, um quase talvez inquestionável e talvez enganador com seu rosto suave e nariz perfeito. Muito carente afetivamente, porém determinada e briguenta!
SANDY era bagunçada e caótica. Esquecia objetos nos quartos de hotéis; atrasava ônibus em meio a turnês, disseram seus companheiros de banda. E fumava loucamente!!!
No início de carreira, foi tão maltratada quanto o resto do grupo, durante o horror “sacro-infernal” das turnês inacabáveis; na falta de tempo para ensaios; e na loucura de gravar até 3 Lps em um ano – além de aparições na BBC e nas revistas da época.
SANDY foi lançada pelo FAIRPORT CONVENTION, banda símbolo do FOLK ROCK INGLÊS que, logo após o primeiro disco com JUDY DYBLE no vocal, e aqui postado, se viu em Marte sem nave para prosseguir ou voltar à terra.
O FAIRPORT CONVENTION fez audições com montes de cantoras até escolher SANDY.
E aí a banda ficou pasma: qual foi a reação de ALEXANDRA quando quiseram contrata-la?
Bem; ousadamente fez “ela” mesma uma audição com os futuros colegas para saber se era, mesmo, “aquele tipo de banda” que pretendia!
Era! Aos19 anos, ela já havia cantado na BBC e feito um disco com os STRAWBS!
Em pouco tempo, SANDY encaixou-se com o guitarrista e gênio subavaliado, RICHARD THOMPSON, e forjaram a sonoridade que transformou o rumo do FOLK nos álbuns “WHAT WE DID ON HOLIDAY” e “UNHALFBRICKING”, ambos de 1968.
E, principalmente, “LIEGE AND LEAF’, 1969, – considerado o “mais importante disco do FOLK britânico de todos os tempos.
Esses três discos mudaram o rumo e a simbiose da música folclórica da Inglaterra com o ROCK, a retirando da cola do FOLK ROCK PSICODÉLICO AMERICANO, e forjando um caminho mais baseado nas raízes britânicas.
Porém, ficaram pouco mais de 18 meses juntos.
Foi SANDY a componente fundamental dessa transição com sua voz exuberante, forte, peculiar, bem colocada e afinadíssima. Algo entre graciosamente metálica e, ao mesmo tempo, sedosa.
Ela também escrevia letras inspiradas, perspicazes e inteligentes. E compunha melodias belíssimas, que continham a tristeza e a solidão sempre encontrada na música inglesa. Observe o PROCOL HARUM, por exemplo.
Há orquestrações nas gravações de SANDY que remontam àquele “mood” britânico. Procure ouvir “NEXT TIME AROUND”!
As composições de ALEXANDRA detêm um senso de comunicabilidade tal, que muitos de seus amigos próximos juravam que certas canções teriam sido escritas exclusivamente para e sobre eles!
A fama e a importância artística de SANDY DENNY cresceu com o tempo, feito a de NICK DRAKE, seu contemporâneo, cujas obras projetaram-se dos anos 1960 para muito após…
SANDY DENNY tinha fraseado original. Ia do sussurro ao pleno pulmão no espaço de duas linhas cantadas! Os que a ouviram disseram que era capaz de interpretar os longuíssimos versos sem desafinar, sem errar e, sempre, mantendo o interesse do ouvinte no que estava fazendo. SANDY tinha Carisma!
Agora, pensem ALEXANDRA em contraponto ao BOB ZIMMERMAN – aquele -, que cantava e compunha caudalosamente e, é quase consenso, enche o saco e o espírito de quem o escuta pela monotonia expressada.
Com SANDY era e “permanece diferente. Ouçam as suas versões das músicas do americano – claro, é o DYLAN- ; e observem a moça cantando – e quase narrando – as imensas histórias que povoam o imaginário e o cancioneiro FOLK britânico.
Ela tem enorme empatia e imediatamente repassa credibilidade. O nome disso é talento.
Mas, sua carreira foi muito curta e cheia de erros. Deixou abruptamente o FAIRPORT CONVENTION, nos EUA, em meio à turnê para promover “LIEGE AND LIEF”, que despontava com sucesso.
A causa do terremoto foi o guitarrista australiano TREVOR LUCAS, que participava da turnê, e por quem ela se apaixonou perdidamente, e largou tudo para segui-lo, com medo de perdê-lo.
Línguas ofídicas disseram que o moço era boa pinta e chegado à variedade e a inconstância nas companhias femininas. Mulherengo, em resumo.
Claro, isso abalou a estrutura da banda, que definhou até que tentaram todos juntos voltar em 1973, e depois cada um seguir o próprio caminho
Com LUCAS, SANDY fundou e gravou o FOTHERINGAY, 1970, outra banda de curta duração, e mais ou menos no estilo do FAIRPORT, onde um dos destaques é o excelente guitarrista JERRY DONAHUE, que mescla o FOLK e o COUNTRY em seu estilo de tocar.
E TREVOR LUCAS também produziu os memoráveis discos solo: “SANDY”, 1972; “THE NORTH STAR GRASSMAN, AND THE RAVENS”, 1971; “RENDEZ VUS”, 1977; e “LIKE AN OLD FASHIONED WALTZ”, 1973.
Além de várias gravações inéditas até a edição deste “WHO KNOWS WHER THE TIME GOES” – o título de sua canção mais famosa, gravada por JUDY COLLINS e NINA SIMONE.
Apesar de haver tentado um repertório mais abrangente, e até com certo êxito artístico, SANDY não era uma cantora versátil. Sua formação FOLK a determinou o tempo inteiro. Mudar ou cantar diversos gêneros é para poucos. E ela teve carreira curta demais para reaprender.
SANDY morreu em 1978, aos 31 anos de idade, em decorrência de hemorragia cerebral após ter levado um tombo na escada da casa de um amigo, marcando o término de uma carreira um tanto errática quanto significativa.
Ela jamais foi uma POP STAR.
Era um talento evidente, objeto de 3 grandes reportagens na revista RECORD COLLECTOR. E venceu duas vezes a indicação como a melhor cantora da Inglaterra pela revista MELODY MAKER.
É honraria para poucos!
Três curiosidades marcantes:
É SANDY DENNY quem faz dueto com ROBERT PLANT em “BATTLE OF EVERMORE”, no LED ZEPPELIN IV. Eles eram fãs dela!
Em uma das voltas do FAIRPORT CONVENTION, em 1975/76, DAVID PEGG, o baixista, recorda que faziam uma turnê pelos EUA, com o RENAISSANCE, que abria os shows para eles.
Em NOVA YORK, eles inverteram e aqueceram para que o RENAISSANCE gravasse ao vivo o famoso LIVE AT CARNEGIE HALL, que saiu em 1976!
SANDY DENNY e ANNIE HASLAN, duas grandes vozes, são baixinhas.
