AQUI, DEZOITO DOS QUARENTA E SETE DISCOS QUE GRAVOU.
GEORGE HARRISON era; e MILTON NASCIMENTO é tímido e calado.
VAN MORRISON É QUIETO E INTROSPECTIVO. Disse que falava pouco, e que a mente dele estava permanentemente invadida por sons, arranjos, músicas, ideias…
Então, ele ouvia-se o tempo inteiro.
VAN MORRISON é baixinho. E daí?
E daí? MICK JAGGER, ERIC BURDON E JON BONJOVI também são… E todos têm voz forte e potente.
Assisti a um vídeo dele um tanto paradoxal: a banda que o acompanhava era composta por gente alta, muito alta.
Meu irmão, Ciro de Moraes, contou que, num evento de negócios, quem se apresentou foi o sertanejo DANIEL: também baixinho referendado. Mas, havia um detalhe: as BAILARINAS que o acompanhavam eram todas do mesmo tamanho, o menores do que ele!!!!
Estratégias diferentes para se destacarem? Sei lá…
VAN MORRISON nasceu em Belfast, na Irlanda do Norte, e começou a carreira no início dos anos 1960. Fez algum sucesso com um grupo BEAT, o THEM. Gravou alguns SINGLES e dois LPs.
Chegaram a excursionar na América junto com os DOORS. E JIM MORRISON E VAN se conheceram, tornaram-se amigos…o que é lendário. Há gravação memorável de GLORIA, música de VAN e também gravada pelos DOORS.
Voltando à Inglaterra, VAN separou-se do grupo – que prosseguiu… E, depois rebatizou-se para BELFAST GYPSYES
Mas, na América, viram em VAN MORRISON talentos a serem explorados. Retornou, gravou o que recentemente foi relançado por aqui e mundo afora “THE AUTHORIZED BANG COLLECTION”, coisa menor. Mas, indicativa de talento em ascensão.
Imaginem o seguinte: um artista jovem lança, de cara, o que é conhecido como seu melhor disco, e um dos vinte maiores de todos os tempos!!!
Foi isso, ASTRAL WEEKS, 1968, é um marco POP tido como obra de arte. Um amálgama de ideias, que vão do FOLK IRLANDÊS, agrega muito de BLUES; transita no JAZZ, mas é ROCK!
Um ROCK não muito bem definido? Defendo que, sim. Vai além do que fizeram JETHRO TULL, FAIRPORT CONVENTION e outros vários…
No início vendeu pouco.
É do porte e importância do VELVET UNDERGROUND & NICO, de 1967. Disco seminal que, consistentemente nunca sai de moda.
Ambos foram legados de geração para outra, e até sabe-se lá quando? Dois clássicos esquisitos; e, para muitos, um tanto incompreensíveis…
VAN MORRISON desabrochou a partir dali. Partiu do cume. Exigente e focado, sua produção na década de 1970 é sucessiva entrega de bons discos baseados em RHYTHM´N´BLUES, SOUL, BLUES, perpassados por algum JAZZ e ROCK .
É desse tempo um dos maiores shows ao vivo da história: o álbum duplo “IT´S TOO LATE TO STOP NOW”,1974, perfeição gravada e lançada sem qualquer “overdubing”. Na raça, no jogo duro do palco. Pauleira brava imperdível!
VAN MORRISON tem voz e timbre únicos.
É um grande cantor?
Antes de tudo, ele é um BLUES-SHOUTER explícito. Porém, contido em arranjos de bom gosto, com forte influência de SAM COOKE, RAY CHARLES, OTIS REDDING, e outros americanos raiz.
O tempo todo MORRISON nos dá o retrogosto da tradição americana; dos metais aos riffs de guitarra. Um feeling do R&B americano, porém puxando para algo do FOLK IRLANDÊS, e do BRITISH BLUES. Está claro?
VAN tem algo indefinível que só encontrei em JOHN MAYALL e sua enorme e consistente carreira: MORRISON e MAYALL são artistas sedentos e curiosos. Frequentaram todos os recantos e escaninhos da melhor música popular de seus tempos!
Talvez boa definição para o trabalho de VAN MORRISON seja: “O CRIADOR DE UMA ENCICLOPÉDIA DE SONORIDADES CONDENSADAS”. Às vezes, uma quase FUSION, amarrada por seu talento único. E, quem sabe, o uso de muitos músicos ingleses traga esta coloração cultural híbrida: AMERICAN R&B + BRITISH BLUES.
VAN MORRISON foi muito além disso tudo. Sua imensa discografia abarca a MÚSICA CELTA, e aquela sonoridade peculiar das ilhas britânicas; e, ouso dizer, ultrapassa os limites britânicos e circula por um certo “soar” do norte europeu. Transita por coisas meio nórdicas, e meio quase fora da casinha da tradição inglesa-americana. Um retro gosto talvez de New Age. E, talvez, devesse gravar ao menos um disco para a gravadora alemã E.C.M.
Seria?
E para não dizer que não falei de tradição, gravou muitos STANDARDS, BLUES, e o que se quiser procurar ao longo de sua vida artística.
Fez Álbuns com artistas consagrados também dos EUA. JOEY DE FRANCESCO, aqui na foto, por exemplo. E outros grandes da Inglaterra e sua vizinhança, como GEORGIE FAME, ou LONNIE DONEGAN.
A curiosidade que VAN MORRISON sempre teve, vez por outra o levava propositalmente para algum descarrilamento temático.
Em uma canção do disco DOWN THE ROAD, 2002, em que cita nominalmente dois baixos-barítonos do pop inglês SCOTT WALKER e P.J. PROBY, lembrados junto com o desvairado, e quem sabe o maior gritalhão do ROCK da inglaterra, LORD SUTCH. Miscelânea criada pela cabeça deste superdotado peculiar e indispensável.
A exigência que MORRISON sempre fez em sua carreira, e ao longo dos tempos, é que seus discos fossem bons, muito pessoais, e impressionantes.
E todos são!
Aqui, temos uma refeição. Mas é possível conseguir um banquete. Está faltando muita coisa que fez e continua fazendo.
Então, percam-se no mundo que ele criou!
Com certeza vão encontrar vida e arte que nunca imaginaram que existiria…
