A DISCOTECA – parte 1
Os que me conhecem têm certeza de que o comportamento e interesse que mais bem me definem são o amor pelos discos e a música.
Sim, nessa ordem: primeiro os discos, a bolacha preta e principalmente a prateada, minha declaração maior de bigamia e não-racismo!!! E, por consequência, a música.
Há, para mim, nesta relação eivada por fetiches, um alto componente de infantilidade e memória afetiva. Adoro pegá-los, vê-los e, se possível, ouvi-los. Muito raramente dei ou dou de cara com pessoas que realmente gostem ou gostassem de discos. Mas, quando me deparo peço licença e vou bisbilhotar. Fiz isto em meio a uma reunião de negócios – e foi bom para mim e a outra parte, também.
Já contei que lavei muita louça para minha mãe em troca de um compacto simples no final do mês?
E que deixei a Angela, minha mulher, em casa depois de uma voltica no quarteirão, em 1969, quando éramos namorados e ela me deu o LP dos Moody Blues, “In search of the lost chord”, de presente?
Isto não se faz! Mas, eu fiz, e fui correndo à casa de um amigo para escutar e comemorar a maravilha incrivelmente cara, naquela época.
Permanecemos casados, e vamos continuar.
No começo foi o rock – entre mais ou menos 1962 e 1977 – e seus diversos formatos, como o Blues. Depois, incluí o Jazz, alguns Clássicos mais instigantes; e certa MPB tipo Egberto Gismonti.
Evolui bastante nesse trajeto, principalmente depois que abri minha primeira loja de Cds, em 1990. Lá colocamos, eu e meu sócio e amigo Silvio, nossas coleções de vinis para vender. Eram substanciosas e bastante raras, o que alavancou o negócio.
Foram doze anos de aprendizado e abertura de cuca.
Re-formei minha discoteca particular ampliando o meu gosto para horizontes nunca dantes por mim navegados… O Silvio e o filho fizeram o mesmo e com louvor e extensão das mais invejáveis.
Hoje, estou criteriosamente desmontando parte do acervo. Pois deixou de me interessar.
(continuo)
A DISCOTECA – PARTE 2
No começo, simplesmente organizava por ordem alfabética, pois o meu interesse principal era o rock, do Beat ao progressivo, passando pelo Hard e algum nascente Heavy Maetal. O que saía um pouco fora não alterava o contexto e o conteúdo.
Com o tempo, percebi que Oscar Peterson e Jeff Beck não bebiam no mesmo bar; que Jimmy Page e Aretha Franklin não se continham no mesmo quarto…
Então, abri um espaço para o jazz, e outro para música negra…
Com o tempo e depois de algum Beethoven, um pouco de Sibelius e Bartók, e até chegar a Stockhausen e Schoemberg, inferi que seria melhor colocá-los em outro galinheiro.
Aí, veio a “Roda Viva” e carregou o destino para lá… Vida outra, muito instigante, e mais um problema: Otis Redding e Tom Jobim bebiam whiskies diferentes. Então, a MPB cavou seu nicho na estante…
E, pronto: quatro grandes universos: o Rock, incluindo a Black Music; o Jazz; o clássico e a MPB. E parou por aí?
Não, claro que não…
Para que facilitar se é possível complicar visando o específico e a descomplicação para explicar tudo, não é mesmo? Entenderam? Não?
(segue)
A DISCOTECA – PARTE 3
Quando criança o meu maior desejo era ganhar um saco imenso ( de plástico, essas coisas, não confundam… ) cheio de brinquedos. Sonhava com isso, mas jamais rolou por óbvios motivos de ordem financeira. Éramos bastante pobres.
Quando me tornei adolescente, fui juntar times de botão – eu os tenho até hoje!!! – e ampliei meu fascínio pelos discos, possivelmente herdado de meu avô, que escutava algumas óperas e cantatas, nos anos 1950.
O primeiro cara de quem gostei foi Chubby Checker…o rei do twist! Em tradução literal, “O gordinho do xadrez”. Naqueles tempos, início dos anos 1960, era moda você ter esses nomes: Fats Domino ( o gordo do dominó ) Billy Fury, Marty Wild, Pepino di Capri, Nicola di Bari… associar o nome do artista a localidades, ou a características físicas ou de personalidade…
Foi o primórdio de meu interesse por discos e música, que se expandiu ao absurdo no decorrer da vida.
Aconteceu, também, a partir de meados dos anos 1960, uma divisão interna no mundo pop. Para efeitos de catalogação e mercado, o que era quase uno passou a fragmentar-se. Exemplo: jazz era um ritmo específico, mas com características musicais estanques, e feito pelos negros a partir do final dos anos 1910. Nos anos 1960 tornou-se universo muito maior, abarcando muito mais coisas, estilos. E principalmente tornou-se um jeito de tocar e improvisar.
Da mesma forma o Rhythm and Blues, que juntava Ella Fitzgerald a B.B.King a John Lee Hooker a John Coltrane. E dispersou- se em rock and roll, doo-wop, soul, funk…foi se bifurcando, trifurcando6 no beat, na psicodelia, progressivo… até chegarmos a hoje em incompreensíveis sub-divisões do sub-dividido onde mais ninguém realmente se entende.
Partinfo desse caos, em nome da ordem passei a organizar a minha discoteca…
segue…
A DISCOTECA – PARTE QUATRO
Pois, é! Enlouqueci em nome da virtude, e pela causa da boa ordem para mais bem entender o que estava e estou ouvindo.
Em princípio, organizei quatro grandes universos: Rock, Jazz, MPB e Clássicos.
A partir disso, eu desbundei – mas, estou tentando loucamente rebundar a coleção!!!!
Clássicos eu tenho relativamente poucos discos, porque meu interesse é centrado em alguns compositores e intérpretes, e não pretendo ser completista em nada.
Imaginem o tio Sérgio correndo atrás para conseguir os três ciclos completos e diferentes feitos por Karajan dos Concertos e Sinfonias de Beethoven? Não, caras! Isso é para a turma do ramo. Então, ordem alfabética e os deixo em puleiro estanque…
MPB eu ando gostando e tenho muitos discos.
Mas, como não invado certas áreas, e sambas, axés, forrós e o vasto etc… tipicamente nacional não são de meu interesse; então dividi simplesmente em instrumental e vocal. No futuro talvez eu abra um cela para a Bossa Nova, que coleciono. Então, está fácil.
O JAZZ é uma das minhas paixões. Mas também não complico. Ficam separados em dois grandes sistemas: vocal e Instrumental. Porém no controle geral, no computador, eu abro várias sub-espécies: bebop, tradicional, vanguarda, moderno, fusion, e o que mais me lembrar na hora. Eu os encontro facilmente.
Agora o rock…esse é o motel para suínos, onde a porca torce o rabo! – para ser… digamos… espirituoso!!!
segue…
Uma sessão de pop tradicional: Elton John, entre vários
A DISCOTECA – PARTE CINCO – FINAL
Vamos deixar claro que não existe única forma para se organizar a discoteca. E, a meu ver, todas são complicadas, imperfeitas e deixam a desejar.
Eu assino a revista “Record Collector” , que há vários anos tem uma sessão onde colecionadores de discos de todos os tipos e lugares comentam e explicam suas coleções.
Todos falam de suas preciosidades, buscas, interesses, nichos. Mas, até hoje, nenhum – eu disse nenhum! – explica de que forma organiza internamente seus discos!
Suponho que seja um delírio e um martírio. E dou exemplo: dá para colocar junto Led Zeppelin e Beatles, se você tem algumas centenas ou milhares de discos de rock? São universos que não se tocam. Então, o que fazer?
A minha solução atual não me satisfaz, porque cheia de buracos, dúvidas e incompreensões, mas aí vai:
1) Por sugestão de um amigo, eu tenho uma sessão de “Fundadores”: Elvis, John Lee Hooker, Muddy Waters, Carl Perkins, B.B.King e todos os que vieram antes do beat, em 1962.
2) Tenho duas sessões de “Beat”: uma para americanos e outra ingleses. Basicamente Beatles, Four seasons, Beach boys, Byrds, Small Faces e vasto etc.
3) Tenho duas sessões de “Psicodelia”, garagem, sunshine pop e adjacências. Claro, inglesa e americana e subsidiárias;
4) Uma sessão para o rock progressivo, Kraut-rock, art-rock,vanguardas e afins, basicamente anos 1970
5) Sessão de hard rock e heavy metal;
6) Sessão de pub-rock, e proto – punks “espirituais” e indecifráveis como Stooges, Velvet Underground, Dr. Feelgood, Dave Edmunds;
7) Uma sessão de rock alternativo, que inclui techno-pop, punks, DREAM pop, e até a atualidade: Bjork, David Silvyan, e pequena vastidão do que acho que vale a pena manter…

9) Uma sessão de Black Music: soul, funk, pop negro em geral e que me interesse;
10) Duas sessões de folk e blues. Uma para ingleses e outra para os americanos.E, claro, no cadastro do computador eu os separo para entender.
De qualquer forma, como já disse, isto não me agrada, porque há muitos e muitos artistas que estão classificados e colocados em diversas sessões Ex: Rolling Stones: no beat, na Psicodelia e no Hard Rockl. Os Moody Blues, beat e progressivo e assim vai. No fundo, acho que só eu entendo. Mas, seja como for, está aberto o debate. Comentem.
POSTAGEM 17/06/2017