DAVID BOWIE, BRIAN ENO & PHILLIP GLASS – E AS SINFONIAS BASEADAS EM THE BERLIN YEARS – 1977/1979

PERIGEU E APOGEU DE TRÊS GÊNIOS QUE ALINHARAM ÓRBITAS
A intuição também é instrumento de trabalho para gênios e superdotados. Do palmilhar sobre as ideias até pensa-las como transcendentes, há grande caminho a percorrer.
Tudo é plural. Ao enxergar magnitudes é preciso criar estratégias e perspectivas para realizá-las. O que é intuído pode esconder – e sempre esconde – armadilhas que observadores menos sagazes não conseguem ver.
Em quaisquer artes, e na música talvez principalmente, ouvir, pensar, compreender, dissecar e recompor fragmentos pode trazer diferenças. E grandes compositores fazem isso.
Paul McCartney, talvez o maior compositor popular vivo, também compôs música clássica, trilhas e música eletrônica. Seara complexa. Mas, a dele é fazer música POP.
A chamada FASE BERLIM de BOWIE, 1977/1979 que, aliás, não foi gravada só em BERLIM, traz os discos em estúdio “LOW”, 1977; “HEROES”, 1978; e “LODGER”, 1979. E, também, o SHOW ao vivo de BOWIE, no espetacular álbum duplo STAGE, de 1978.
Este momento na carreira dele foi antecedido e sucedido por discos próximos aos que fez com ENO.
O álbum “STATION TO STATION”, 1976, tem algo do KRAUT e da vanguarda eletrônica daqueles tempos. E “SCARY MONSTERS” ressoa ao PUNK antecipando o P.I.L., banda experimental de JOHN LYDON.
Seriam?
O ROCK criativo e mutante de BOWIE ao juntar-se com a música eletrônica “AMBIENTE”, e ao
,”KRAUTROCK” – hoje, nome genérico para o ROCK PROGRESSIVO ALEMÃO E SUAS ADJACÊNCIAS E ANTECEDÊNCIAS – , que BRIAN ENO vinha desenvolvendo, gerou a TRILOGIA.
Nem DAVID BOWIE ou BRIAN ENO tinham a intenção de compor música clássica; em compensação apareceu PHILLIP GLASS, o grande compositor minimalista contemporâneo, que ouviu e intuiu na obra elementos para três grandes sinfonias. E pediu para compor em cima da FASE BERLIM.
BOWIE adorou a ideia e a primeira das SINFONIAS, LOW, veio a lume em 1993; depois saiu HEROES, 1996. E, por último, em 2022, foi lançada LODGER, a Sinfonia No. 12 do catálogo de GLASS.
Para dizer o mínimo, são três álbuns espetaculares, essenciais inclusive para a produção erudita contemporânea.
Estas Sinfonias não são simplesmente “músicas orquestradas baseadas nos temas propostos pelas canções”. PHILLIP GLASS não é o maestro GEORGE MELACHRINO, nem RAY CONNIFF, ou PAUL MAURIAT.
Uma sinfonia é outra “escritura” original baseada nos temas componentes que, em certos momentos, mal lembram as músicas que lhes deram vida. É obra muitíssimo mais complexa.
GLASS colheu os vários temas, todos ROCKS, de cada um dos discos originais e os retrabalhou.
As sinfonias individualmente são obras coesas em si próprias, mas que se comunicam e abrangem cada uma das outras seguintes. As três sinfonias, foram regidas pelo maestro DENNIS RUSSEL DAVIES, e são, na verdade, estágios de um “TRÍPTICO”.
Não apenas pelos temas principais selecionados, mas também as “pontes” compostas por GLASS amalgamando e expandindo cada tema até gerar um novo “Movimento” singular.
As duas primeiras obras são totalmente orquestrais. Porém a terceira, “LODGER”, além da primorosa composição, traz CHRISTIAN SCHMIDT no órgão de tubo, um artista grandioso! E principalmente a sensacional cantora ANGELIQUE KIDJO. Preta do BENIN, e ganhadora de três GRAMMYS, é considerada a “PRIMEIRA DIVA DA ÁFRICA”.
Sua arte é combinar a voz e interpretação, que ressoam aos cantos tribais com influências do JAZZ e do R&B. Sua emissão potente, “libertária, explícita e aberta, lembra VAN MORRISON em sua emoção derramada.
A participação de ANGELIQUE expõe o lado limite quase PUNK de algumas canções de LODGER – e de SCARY MONSTER, o disco seguinte e fora da FASE BERLIM e da sinfonia. Tudo se casa com a sofisticação moderna dos arranjos.
As composições minimalistas de GLASS envolvem, desenvolvem e destacam os elementos componentes em um todo orgânico e abrangente. O resultado é belíssimo, tenso, empolgante. Inesquecível!
As três sinfonias alinham o talvez apogeu criativo de ENO e BOWIE, com o perigeu de GLASS. Órbitas que se justapuseram em viagem cósmica rara. São discos imprescindíveis!

Procure ouvir e, se possível, ter.

POSTAGEM: 05/07/2023
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