Certa vez eu comentei com um excelente crítico e jornalista musical marcante, meu amigo até hoje, sobre certo disco que ele havia resenhado. Eu só recordo que alguém tocava um “guitarron”…
Eu disse ao Fernando Naporano que não havia gostado. E ele não muito surpreendentemente respondeu: “sabe o que é, vez por outra a gente precisa escolher naquele monte de lançamentos medíocres ao menos um que seja algo criativo… Foi o que fiz. Eu preciso seguir a pauta e trabalhar…É difícil.”
Anos depois, lá por 1994, outro amigo, também jornalista e crítico musical muito bom, apareceu na CITY RECORDS, a minha ex-loja de discos, na Avenida Paulista.
Ele pôs no balcão uma edição especial de “O CHAMADO” de MARINA LIMA. E disse: “Arrasei esse disco chato em uma crítica na FOLHA de SÃO PAULO. Ela ficou enfurecida e ligou pra mim na redação xingando, dizendo que eu não sabia nada de música, e mandou eu “entubar uma brachola”. “Deu um puta bafafá…”
Dias depois, em um churrasco na minha casa ouvindo CHARLIE PARKER, eu disse a ele que, infelizmente já morreu:
“JEAN YVES ( de NEUFVILLE ), talvez você tenha se precipitado. Eu achei o disco baixo-astral, sim! Mas, é bonito e delicado. Talvez fora do “moody” que ela costuma assumir, mas ruim não é não”…
Ele se defendeu: “Porra, Sérgio, eu realmente não gostei. Mas, tem hora que a gente pede apenas que nos enviem um “disquinho POP, ou sei lá, algo mais razoável”. Aparece uma enxurrada de mediocridades, e à vezes a gente perde a paciência”.
Dois caras gabaritados, anos de diferença, e o mesmo diagnóstico!
Fiz este baita “intróito” para dizer que a observação das coisas me deixou mais cético e cauteloso. Eu não bato mais de frente.
O disco de DENNIS WILSON foi lançado há mais de 45 anos. Foi meio desprezado na época, mas com o tempo foi conquistando fãs. A revista RECORD COLLECTOR o considera disco muito bom, cult; um pequeno clássico.
Dia desses, fiz um rolo com amigo e peguei o álbum, agora duplo, em edição japonesa, remasterizado e produzido cuidadosamente, como os “brothers” do oriente sempre fazem.
Ao disco original foi acrescida uma segunda parte; outro álbum, que não saiu à época. É bem diferente do que fizeram os BEACH BOYS. Eu diria que é um FOLK MODERNIZADO, talvez a caminho do que hoje se considera um disco “PROG”.
DENNIS era o baterista dos BEACH BOYS, e como seu outro irmão, CARL WILSON, também ofuscado pela fama de BRIAN… AHHH, não vou citar os sobrenome!
Ele era parte dos backing vocals famosos, que juntaram o DOO-WOP à SURF MUSIC. E “autor” supremo do uso da palavra SURF nas canções do grupo. DENNIS funcionava bem na estrutura da banda. Esteve em todos os discos do início até o final.
DENNIS era o único dos cinco que surfava; os restantes…FLOP! E tornou-se ícone depois de morrer afogado em 1983, aos 39 anos. Ele era casado com a ex – de ROBERT LAMM, o líder do CHICAGO.
WILSON andou com CHARLES MANSON, o líder de seita e psicopata assassino, que perpetrou aquele “suicídio coletivo” famoso, e onde estava a atriz SHARON TATE.
MANSON também compunha, e os BEACH BOYS gravaram música dele: “NEVER LEARN TO DIE”. Para não falar mal da escolha, o GUNS & ROSES também gravou; E o “plasmático” MARILYN MANSON tirou seu nome do psycho referido!
DENNIS fez um álbum nostálgico, bonito, e nada empolgante; discreto. Talvez tenha acontecido de ele sacar o que percebeu DAVID BOWIE, em “SPACE ODDITY”: que a palavra BLUE é ambivalente, tem potencial poético, e também pode significar triste. Aqui parece o caso.
O disco emana ecos daqueles tempos, década de 1960 e resquícios da produção nos anos 1970, dos BEACH BOYS.
Porém, dá pra identificar certa sonoridade dos DOOBIE BROTHERS; o jeito de fazer “a la” THE BAND; um travo à LEON RUSSELL. E irrefreável influência GOSPEL permeando a transição musical do fim dos 1970: alguma reincidência “light” do ROCK PROGRESSIVO…
PACIFIC OCEAN BLUE é criação de um americano branco, que assume um “sofrimento” BLUESY em direção de TOM WAITS, que também não é pretão.
DENNIS WILSON não nega de onde veio.
Seria?
Eu recordei os dilemas de meus amigos jornalistas, porque talvez em 1977 eu não comprasse o disco de WILSON. A minha perspectiva mudou muito de lá para hoje. Ouvi o disco e gostei.
Da mesma forma que aprecio o disco da MARINA, desde 1994. Aquela edição especial permanece comigo.
POSTAGEM ORIGINAL: 15/07/2023

POSTAGEM ORIGINAL: 15/07/2023
