Eu me lembro com bastante nitidez de certo sábado à tarde, em 1973. Eu recordo a luminosidade daquele dia, e suponho que tenha sido entre e abril e maio.
Por motivo que não identifico claramente, eu estava tranquilo e feliz. Não alegre, eu sei. Mas, desfrutando momento de rara completude.
Quase 50 anos se foram, mas aquele sábado reteve-se em mim.
Em 1973, ainda não existiam a WOOP BOP e a BARATOS AFINS, as duas lojas que fizeram história por conseguir congregar um certo público que curtia o UNDERGROUND, o ROCK e arredores.
Informações do exterior existiam, mesmo poucas e truncadas, e aguçavam desejos.
Estavam condensadas em publicações como a ROLLING STONE, já circulando por aqui, e jornais alternativos onde esforçados jornalistas, como LUIZ CARLOS MACIEL, nos informavam sobre o novo “perenizado” pós a suposta revolução trazida por HIPPIES e a NOVA ESQUERDA INTELECTUAL.
Claro, não durou o suficiente, mas deixou marcas não removidas, feito tatuagens.
Existiam grandes lojas que importavam, traziam discos e novidades. Eram tão caros como hoje é, e sempre foram.
Não consigo visualizar claramente se foi na BRUNO BLOIS, na BRENO ROSSI, onde naquela tarde inesquecível comprei dois entre os discos de que mais gosto até hoje.
Eu já conhecia o BOB SEGER. Cantor potente, BLUESY e pesado. Teve dois SINGLES lançados por aqui, “2+2” e “RAMBLING GAMBLIN MAN”, estilingadas certeiras!
SEGER é uma espécie de antecessor de BRUCE SPRINGSTEEN, naquela coisa do americano solitário contra o sistema, sempre “ON THE ROAD”, e torturado pela imprecisão psicológica, feito um JAMES DEAN ou JIM MORRISON, que os antenados de minha geração conheceram. E daí o fascínio que me causou.
BOB chegou ao real sucesso alguns anos depois, 1977/1978, Mas, jamais fez álbum tão bom e consistente quanto “BACK IN 72”.
O disco foi gravado no “MUSCLE SHOALS STUDIO”, onde a elite do SOUL e R&B gravava. Gente como ARETHA FRANKLIN, por exemplo.
Ele é acompanhado por craques como J.J.CALE, JIMMY JOHNSON, BARRY BECKETT, DAVID HOOD e ROGER HAWKINS, para ficar no primeiro time. E mescla SOUL, R&B e ROCK com eficiência e sofisticação. É um grande e desconhecido disco. Brilhando no fundo do poço do ROCK. Experimente.
Também me recordo de ter visto o disco de BOB SEGER e separado. Enquanto isso, rolava no PICK UP disco chegado naquele momento, o primeiro álbum do BLUE OYSTER CULT. Impacto fulminante. Um míssil direto no cérebro e no corpo!
Para mim, é o melhor disco que fizeram.
Está entre o HARD ROCK e o PROGRESSIVO. Tem pegada BLUESY, algumas novidades tecnológicas, como delays e outros “babados”, faixas interligadas e sem espaço, que dão sensação de continuidade, não importando as músicas que se sucedem.
É um disco bastante original de ROCK PESADO americano.
Sim, claramente americano, como um CAPTAIN BEYOND e o KANSAS; ou o DUST e o GRANDFUNK RAILROAD.
O BLUE OYSTER CULT foi grande sucesso, na década de 1970. E tem outros discos bastante bons.
Mas, nenhum se compara a este.
Talvez seja por causa dos discos, que a memória daquele inesquecível sábado me sequestra até hoje.
Desejo a todos experiência tão cativante…
POSTAGEM ORIGINAL: 30/07/2022

POSTAGEM ORIGINAL: 30/07/2022
