Nós, os colecionadores, somos caçadores e mercadores de ilusões.
Quem olha de fora não tem ideia do que nos fascina. Não sabe do “pré-sal” imenso, recheado por discos esquecidos, ou inviabilizados comercial ou artisticamente por tantos e tontos motivos. Obras formadoras de banquetes culturais que jamais serão repetidos.
Querem exemplo?
Entre os originais lançados pela gravadora ELENCO há um disco de TOM JOBIM, VINÍCIUS DE MORAES e JOÃO GILBERTO chamado “ENCONTRO”. Jamais foi relançado!
Depois da morte dos três é quase impossível que os detentores do espólio permitam ou se interessem. Principalmente na edição original – que é para poucos!
Não vou citar. Mas quase a metade do que foi lançado originalmente sob este selo, nem de longe veio a público novamente. Acreditem: tem ouro puro no Acervo.
A ELENCO foi criada por ALOYSIO DE OLIVEIRA, que entre várias coisas produziu o seminal “CHEGA DE SAUDADES” de JOÃO GILBERTO. Currículo melhor, impossível!
Porém, a origem da gravadora respondeu a duas realidades de mercado. 1) A MPB tradicional, pré BOSSA NOVA, fora ultrapassada e marginalizada; 2) O conceito de BOSSA NOVA, enquanto moda – e não como fora internacionalmente interpretada, espécie particular e simbiótica ao JAZZ , também estava em crise por aqui.
O que tínhamos ou teríamos, então?
Foi quando surgiram os BEATLES, e o POP INTERNACIONAL que desaguaria na JOVEM GUARDA, concorrentes fortes e excludentes do que estava acontecendo.
ALOYSIO sacou a oportunidade surgida para acomodar o melhor da MPB TRADICIONAL, como ARACY DE ALMEIDA e DORIVAL CAYMMI, com os que estavam sendo excluídos das grandes gravadoras, como SYLVIA TELLES, AGOSTINHO DOS SANTOS, e mais os que ainda estavam em atividade e com algum sucesso, TOM JOBIM, ROBERTO MENESCAL, EDU LOBO…
A intenção encoberta era dar uma resposta à ODEON, que o dispensara. E seguir com o melhor na tradição e na vanguarda.
ALOYSIO DE OLIVEIRA criou a ELENCO, em 1963: foi a PRIMEIRA GRAVADORA BOUTIQUE DO BRASIL. E ele a levou até 1966, com 60 LPS lançados!!!!
A história ainda não está completamente explicitada. Mas, como não tinha grana, o empreendimento foi financiado por CELSO FROTA PESSOA, padrasto de TOM JOBIM; e por um dono de vários “NIGHT-CLUBS” no RIO DE JANEIRO de sobrenome RAMOS.
Vingou. Até onde poderia ir, claro…
ALOYSIO um bom aluno, observou GRAVADORAS como a BLUE NOTE e a VERVE, e percebeu que se distinguiam por dois elementos onde os americanos sempre foram craques: MARKETING e e identidade visual, DESIGN. O conceito das capas da ELENCO seguiam as MESMAS CORES, TENDÊNCIAS e DESIGNS.
E ALOYSIO também implantou uma certa similitude na produção dos discos, expondo o que era brasileiro nos artistas, a modernidade que representavam; o que se comunicava muito bem no exterior. Tornou a gravadora parte do contemporâneo.
Em 1968, a ELENCO foi vendida para a PHILIPS, hoje POLYGRAM, que manteve por certo tempo o nome, até desativa-lo de vez, em 1984. Para vocês terem ideia de alguns absurdos! chegaram a gravar discos de cantores como Francisco José, sob o sacrossanto nome ELENCO. Mas, esses não interessam…
Os discos que juntei até hoje, e expus aqui, foram os que saíram em CD mundo afora.
Percebi que o primeiro LONG PLAY do EGBERTO GISMONTI, lançado em 1969, já sob a nova administração, não segue o padrão de cores original. Que pena! Ou seria uma contravenção?
Para mim, não importou. Juntei ao box que eu mesmo fiz, para acondicionar o que der e vier desse “REPASTO CULTURAL ÚNICO e INIGUALÁVEL” ( pronto; cunhei frase brega, antimoderna, mas perfeitamente definidora).
Procurem VINIS e CDS da ELENCO, são colecionáveis até o infinito!
POSTAGEM ORIGINAL: 23/08/2020

POSTAGEM ORIGINAL: 23/08/2020
