CROSBY, STILLS, NASH & YOUNG: SÍMBOLOS DA TRANSIÇÃO DE UMA ERA MÍTICA

 

“Hey, STILLS! Deixa a tua guitarra preparada. E assim que eu ligar, nem pergunte o por quê, corre pra minha casa, tá?!”

Com essas palavras, CASS ELLIOT, famosa por ser parte do grande grupo vocal do SUNSHINE POP dos anos 1960, MAMAS & THE PAPAS, abordou o amigo STEPHEN STILLS, na saída de um NIGHT CLUB, em LOS ANGELES.

Ele conta que “TODO MUNDO” estava no show que o grupo inglês THE HOLLIES havia dado no “WHISKY A GO-GO”, local histórico naqueles tempos doidos.

E CASS, muito entrosada e comunicativa, havia feito amizade com a banda e os convidou para uma “canjinha” entre amigos na casa dela.

Eles foram. E lá estavam STILLS, que fora do BUFFALO SPRINGFIELD; DAVID CROSBY, que saíra dos BYRDS. E mais JERRY GARCIA, do GRATEFUL DEAD; JOHN SEBASTIAN, ícone com os LOVIN SPOONFUL; JONI MITCHELL, estrela nascente, e talvez JUDY COLLINS, que era a namorada de STEPHEN STILLS.

Em resumo, era para juntar o “O Grand Monde” do ROCK da costa oeste americana, em 1968!

MAMA CASS ficou sabendo que os HOLLIES estavam em crise. Eles haviam sido importantes no BEAT inglês, com muitos SINGLES de sucesso internacional. E foram dos poucos que conseguiram transitar para o ROCK PSICODÉLICO, e até ensaiar passagem para o PROGRESSIVO.

THE HOLLIES Já havia gravado 9 LPS até aquele momento! Porém, GRAHAN NASH não gostou de um que fizeram só com músicas de BOB DYLAN. E andava na contramão dos colegas, querendo testar novas ideias e possibilidades…

Foi na casa de CASS onde o embrião do CROSBY, STILLS & NASH foi gerado.

DAVID CROSBY e STEPHEN STILLS já vinham trabalhando juntos, e apresentaram o que estavam fazendo. Nos dois dias seguintes, houve outras reuniões na casa de JONI MITCHELL e, pela primeira vez, GRAHAN NASH cantou com os futuros companheiros.

Os relatos são de furor e surpresa pela completa e histórica integração vocal dos três!

O primeiro disco, lançado em 1969, foi sucesso de público e crítica.

Estava mais ou menos na linha do que faziam SIMON & GARFUNKEL, mas com tempero WEST COAST ROCK. Despojado, acentuadamente FOLK, e toques de ROCK PSICODÉLICO.

Eles pretendiam fundir o acústico ao elétrico. Mais ROCK e menos FOLK.

STEPHEN STILLS é dinâmico e talentoso. O apelido dele era “CAPTAIN MANY HANDS”, por ser multi-instrumentista, e capaz de intuir arranjos partindo de uma simples DEMO.

Desde o início, STILLS queria trazer mais alguém para completar o grupo. Os outros dois não estavam muito convencidos.

Mesmo assim, tentaram primeiro com JOHN SEBASTIAN. Não rolou. Ele já havia assinado com a REPRISE para carreira solo. Dizem que se arrependeu…

A preferência de STILLS sempre foi por STEVE WINWOOD, outro diferenciado. Muito bom tecladista e guitarrista, era um ícone e cantava de jeito BLUESY e marcante. Talvez um contraponto instigante…

Pois bem; sem marcar nada, STILLS e o baterista DALLAS TAYLOR viajaram para a INGLATERRA. Lá, se encontraram com CHRIS WOOD, do TRAFFIC; e KEITH MOON, o baterista do WHO, e notório encrenqueiro e “Maluco Beleza”…

E foram para a casa de WINWOOD, que tinha problemas com o TRAFFIC e estava montando o BLIND FAITH, com ERIC CLAPTON e GINGER BAKER.

Quando viu pela janela os quatro batendo na porta, WINWOOD escondeu-se no banheiro e não os atendeu…

Então, entraram na parada DAVID GEFFEN, produtor, e AHAMET ERTGUN, o CEO da ATLANTIC RECORDS, e convenceram STILLS a conversar com NEIL YOUNG.

STEPHEN e NEIL, dois ótimos guitarristas, são assertivos, competitivos, individualistas e diretos. Sabiam impor o que desejavam.

Os dois estiveram juntos no BUFFALO SPRINGFIELD, que gravara na ATLANTIC, e não se davam muito bem… Mas, adoravam tocar juntos e se completavam. Lembram-se de GINGER BAKER E JACK BRUCE?

GRAHAN NASH também se reuniu com NEIL e o questionou bastante. Depois, disse que o papo foi tão convincente, que “se YOUNG pedisse ele acabaria o nomeando PRIMEIRO MINISTRO DO CANADÁ!”

DAVID CROSBY conhecia bem os dois e concluiu, corretamente, que haveria “quatro garrafas de nitroglicerina prontas para explodir”. Mas, depois de uma conversa, acabou topando.

E estava formado o CROSBY, STILLS, NASH & YOUNG. O PRIMEIRO SUPERGRUPO MULTINACIONAL DA HISTÓRIA DO ROCK!

A gravação do segundo álbum foi concluída em 28 de dezembro de 1969. Não houve festa ou comemorações. Apenas alívio pelo compromisso cumprido.

E DJAVU, saiu em março 1970. Foi considerado o disco mais aguardado daquela época! Só de pedidos antecipados atingiu dois milhões de unidades! Vendeu, até hoje, em variados formatos, mais de 8 milhões de discos! Um sucesso sob quaisquer perspectivas!

DJAVU é um marco da passagem das loucuras dos anos 1960 para uma certa melancolia e desilusão da década seguinte. Um sinal do famoso “O SONHO ACABOU”, propalado por JOHN LENNON.

Durante sua concepção e gravação muita coisa ruim aconteceu aos quatro.

No mesmo dia em que o primeiro disco atingia um milhão de cópias vendidas, a namorada de DAVID CROSBY foi levar os gatos ao veterinário. Enquanto dirigia, um deles pulou sobre ela, que perdeu a direção e bateu o carro de frente com um ônibus.

Ela morreu na hora.

CROSBY entrou em depressão profunda, e nunca se recuperou do impacto da tragédia. Viciou-se em heroína e teve dificuldades para prosseguir as gravações.

NEIL YOUNG é um personagem egocêntrico e desagregador. E mesmo no auge do C.S.N & Y, encarava a banda como um trabalho à parte. Seu foco sempre foi a carreira solo.

Durante a produção de DJAVU, NEIL gravou, também “AFTER THE GOLD RUSH”, um de seus principais discos, lançado em setembro de 1970. Ficou nítido que o melhor que produzia guardou para si próprio.

STEPHEN STILLS fez o mesmo com o seu primeiro disco, recheado de craques ( HENDRIX, CLAPTON… ) e lançado em novembro 1970. Naquele ano, rompeu com JUDY COLLINS. E GRAHAN NASH e JONI MITCHELL começaram a se separar…

O C.S.N&Y sempre foi uma colcha de retalhos. É argumentável supor que apenas GRAHAN NASH e DAVID CROSBY trabalhavam em função do grupo. E, não por acaso, os dois permaneceram juntos por décadas.

Mas, DJAVU, com apenas dez faixas, é considerado obra de arte primorosa.

São duas canções compostas e cantadas por cada um dos 4. E outra por STILLS e CROSBY. JONI MITCHELL compôs a sensacional e pesada WOODSTOCK, na mesma noite em que foi proibida pelo empresário de apresentar-se naquele festival. O ROCK e ela agradecem!

BLUE está entre os discos seminais feitos por JONI, saiu em julho de 1971. CROSBY e GRAHAN NASH também gravaram os deles.

Resumindo, 1971 foi o ano zero do início do fim da contracultura musical. E da explosão dos cinco principais participantes do projeto.

Olhando em retrospecto, o primeiro disco pode ser considerado a obra que firmou o conceito do grupo. É onde CROSBY, STILLS & NASH expõem a ideia central do que pretendiam.

DJAVU, o segundo, é a obra principal, moldada a quatro mãos, e deixando nítido o contraponto com a presença de NEIL YOUNG.

O terceiro e último, nesta fase, “FOUR WAY STREET”, 1971, gravado ao vivo, deixa nítida a separação entre eles. A banda era uma vasta avenida com quatro pistas largas e paralelas. Serve de veículo para cada um falar de si mesmo, e pilotar o próprio destino.

Aqui, a versão atual, lançada pela RHYNO RECORDS, em 2021. É um BOX com 1 LONG PLAY de 180 gramas, réplica do original. E

4 CDS: OUT TAKES, VERSÕES ALTERNATIVAS, e as DEMOS feitas por cada um deles.

Claro! também a versão ORIGINAL, muito bem remasterizada, com excelente sonoridade. Aliás, providência que poderiam ter tomado com o restante das faixas, que acabaram ficando tecnicamente aquém do trabalho feito com as originais.

A parte gráfica, muito bonita, quase repete a espetacular edição original, também bastante artesanal e cult. Há um excelente livreto com fotos e ótimo texto escrito por CAMERON CROWE, de onde tirei parte das informações aqui.

Tomei coragem e me dei de presente de aniversário e natal, em 2021. Já que sempre persegui para novamente comprar a primeira edição do LP original.

É a capa mais bonita que conheço. E ainda mais luxuosa do que “Living in the Past” original do JETHRO TULL!

CROSBY, STILLS, NASH & YOUNG influenciaram o ROCK do pesado ao FOLK. Mesmo que não haja qualquer referência ao trabalho de dois parceiros presentes o tempo todo: o baterista DALLAS TAYLOR, e o baixo preciso de GREG REEVES.

Shame on you, rapazes!!!

E, se você duvidar, vá à discoteca e ouça a música I’M YOUR CAPTAIN, no álbum CLOSER TO HOME, lançado pelo GRANDFUNK RAILROAD, em 1970.

Lá você sentirá o perfume delicioso da “SWEET JUDY BLUE EYES”, que STEPHEN STILLS compôs para a namorada e o C.S&N imortalizou.

 

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