GRAND FUNK RAILROAD – FINALMENTE!

Nos ESTADOS UNIDOS aconteceu “evolução da música popular” em determinada direção, que teve seu auge em meados da década de 1950. Foi o momento supremo da grande canção americana, onde convergiram grandes compositores e intérpretes talvez não superados até hoje.
Existiam COLE PORTER, o lado popular de GERSHWIN, JEROME KERN, JOHNNY MERCER e outros, interpretados por ícones não removidos e talvez irremovíveis, como ELLA FITZGERALD, BILLIE HOLIDAY, SARAH VAUGHAN, DINAH WASHINGTON, BILLY ECKSTINE, SINATRA, TONY BENNETT, e tantos e tontos diversos.
Talvez esse processo de evolução técnica e artística tenha tido seu último estertor com a BOSSA NOVA, adotada nos EUA como LOUNGE – JAZZ, e que estendeu o novo belo à frente até o princípio dos anos 196O, talvez…
Mas, tudo isso foi enterrado “musical – ideologicamente” pelo advento da FREE JAZZ, que descartou a beleza imediatamente identificável, e redefiniu parâmetros para os tempos seguintes, e outras estéticas que herdamos e sempre nos revisitam.
De outro lado, houve a emergência do R&B e do ROCK AND ROLL, por volta de 1954/55. Que passaram a dar cartas e mercados para outro tipo de público, mais jovem, mas não tão apartado dos grandes do passado imediato.
Aquele processo muito bem representado por ELVIS PRESLEY, teve certa redefinição de públicos e mercados, simbolizados pelos BEATLES, e o suposto GENERATION GAP que se explicitou entre o público deles – mas não por eles, que adoravam.
A história aqui, para simplificar, é parte do legado da era BEATLES.
O GRANDFUNK RAILROAD é um dos fascínios da turma do ROCK, dos anos de 1970 em diante.
Fizeram sucesso brutal! Cinco Long Plays gravados em menos de três anos! A banda atuava em um misto de iconoclastia estudada, e um projeto de marketing com lances bem sucedidos.
A primeira aproximação que tive com eles foi um “COMPACTO”, um “SINGLE”, lançado por aqui, em 1969. “TIME MACHINE” tem RIFF duro, rústico, matador, e deixa entrever uma “GARAGE BAND” a caminho de algo talvez mais sofisticado. Eles sempre foram assim!
Os dois discos iniciais são rudes e bem garagem. ON TIME e GRANDFUNK, ambos de 1969, revelam a cara da banda, e do gosto que parte dos jovens iria desenvolver pelo tipo de ROCK PESADO que viria a ser mais embrutecido por grupos como STOOGES E MC5.
O GRANDFUNK do começo estava mais para o PROTO PUNK, do que para o POWER TRIO mais clássico, ainda que eivados por BLUES e SOUL MUSIC, feitos do jeito LOW-FI que desenvolveram.
Outro contato com a banda, e que me deixou babando, foi nas lojas importadoras da época.
O LP GRANDFUNK LIVE ALBUM, 1970, junta repertório dos dois primeiros discos em show dinâmico, tosco, barulhento, mal gravado e divertido.
O disco tem uma das capas mais impactante e definidora que já vi, do que seria a imagem de um concerto de ROCK!
Principalmente no vinil original, onde a foto é muito bem captada!
E vendeu muito! Tornou-se “DUPLO PLATINA”, quer dizer 2 milhões de cópias vendidas!!
Um fenômeno, 53 anos atrás!
O quarto disco do GRANDFUNK os catapultou para o estrelato. CLOSER TO HOME foi lançado através de campanha de marketing inovadora. “Compraram” por $ 100 mil dólares, em 1970, espaço em um OUTDOOR em plena TIME´S SQUARE, em NOVA YORK, e mostraram a capa do disco! Retumbou!!!!
O álbum em si é parte do nascente HARD ROCK, em mescla com o R&B. Está na companhia do HUMBLE PIE, do FREE, da JAMES GANG e do MOUNTAIN. E é descendente do CREAM e do TASTE.
É o disco deles que mais gosto. Há um quê, um “leve retro – gosto” de ROCK PROGRESSIVO, em algumas faixas…seria? E MARK FARNER, se pudesse, teria nascido STEVE MARRIOTT…
A faixa título é nitidamente inspirada no FOLK do CROSBY, STILLS, NASH & YOUNG. Eu sempre recomendo aos amigos ouvi-la na coletânea CAPITOL COLLECTOR´S SERIE, porque o “take” escolhido para entrar no disco original é precedido por “cafungada” histórica de cocaína, o que deve ter ajudado a garantir o “brilho” eterno que esta música manteve!
Foi outro “DUPLO PLATINA” da banda!!!!
Procure ouvir.
O disco da época, 1971, tem versão pesada de GIMME SHELTER, dos STONES; e outra algo R&B de FEELING ALRIGHT, do TRAFFIC. Para variar, SURVIVAL também “platinou”.
Em dezembro lançaram mais um “platinado”, com diferencial de design exuberante. A capa da edição original de E PLURIBUS FUNK, o quinto gravado por eles, é redonda, em formato de moeda. Saiu aqui, no Brasil. E é cult e colecionável como poucos!
Eles deixaram de usar o “RAILROAD”, e o nome restringiu-se a GRAND FUNK.
Em meio ao crescimento exponencial da fama, eles entraram em choque mortal com TERRY KNIGHT, que gerenciava o grupo desde o início, e o havia carregado para a fortuna.
A briga custou uma enormidade de grana, processos, e culminou no arresto dos equipamentos ao final de um SHOW em pleno MADISON SQUARE GARDEN, em 1972!
Foi briga tipicamente norte-americana: matar ou morrer. Tudo ou nada!
E PHOENIX, o álbum seguinte, lançado no mesmo ano da encrenca, foi o maior fracasso de vendas da carreira carreira deles. Talvez por causa da crise e da instabilidade que passaram.
Mas, seguiram…
Em todo canto do mundo certos discos sobressaem em relação a outros. Talvez o grande sucesso de público do GRANDFUNK, por aqui e mundo afora, tenha sido “WE´RE AN AMERICAN BAND”. Disco produzido por TODD RUNDGREN, o incensado mago de estúdio daquela época.
Lançado em 1973, está no “hinário” do ROCK; e é cantada pelo baterista DON BREWER, um “barítono”, substituindo o canto “galináceo” do guitarrista MARK FARNER – desde sempre a marca registrada do agora quarteto.
A música é do próprio DON. Mas, talvez tenha a ver com a memória do vocal de DOUG INGLE, do IRON BUTTERFLY; e de ROD EVANS, no CAPTAIN BEYOND.
Dois cantores vocalistas com vozes bem mais graves, e no caminho inverso de PLANT, GILAN, e do próprio FARNER… E deu certo, também.
Gosto muito da versão pesada e dançável que fizeram para THE LOCOMOTION, original de LITTLE EVA, e clássico do R&B no início dos sixties.
Claro, botaram adrenalina e fogo no R&B; como, aliás, é do estilo deles. E a música se tornou um dos maiores Hits da banda.
Talvez seja impressão minha, mas MEL SCHACHER, o baixista, em quaisquer dos discos sempre parece a um átimo de segundo atrás do andamento geral das músicas. Há um certo charme e personalidade nisso, mas…
Pode-se argumentar que o GRANDFUNK foi sucesso absoluto enquanto durou. Claro, o auge criativo foi entre 1969 e 1975, mais ou menos.
Foram amados pelos fãs, e pela garotada em geral; e tratados com animosidade muitas vezes cortante pela crítica.
Como sempre, danem-se os críticos! O KISS e o STATUS QUO concordariam em coro, de rabo a cabo!
E a discografia foi se ampliando: SHINE ON, 1974; ALL THE GIRLS IN THE WORLD BEWARE E CAUGHT IN ACT, 1975; BORN TO DIE e GOOD SINGING, GOOD PLAYING – produzido por FRANK ZAPPA – os dois lançados em 1976.
E mais, GRAND FUNK LIVES, 1981; WHAT´S FUNK, 1983 e BOSNIA, 1997. Todos de qualidade artística variável. E, sempre, discos de Ouro, no mínimo!
A carreira deles seguiu, meio aos trancos e barrancos. MEL SCHACHER, tinha medo de voar, o que restringiu as turnês no exterior.
Aliás, quando estiveram na Inglaterra, foram friamente recebidos. O que é compreensível. Afinal, lá era a terra do BARULHO BRANCO, com o BLACK SABBATH, LED ZEPPELIN e incontáveis. Uma concorrência talvez demasiada para eles.
MARK FARNER contou que o grupo acabou por causa de DON BREWER, que entrou em crise com a morte da primeira mulher. Saiu batendo a porta e foi procurar “algo mais estável” para fazer.
E o próprio FARNER, após uma crise no casamento, virou “cantor cristão”, em 1995, e passou a gravar discos de gospel, e músicas de fundo religioso…
Resumindo, eram uma verdadeira AMERICAN ROCK BAND, com suas idiossincrasias, qualidades, defeitos e características culturais.
E muitos e muitos fãs gerações e mundo afora.
Desfrute-os. Eles são imprescindíveis, e muito divertidos!
POSTAGEM ORIGINAL: 18/10/2022
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