CHARLIE WATTS era um diferenciado e um diferente. Músico preciso, ideal para os ROLLING STONES, banda pesada e algo volátil, e que congrega personalidades carismáticas e/ou simplesmente doidas:
MICK JAGGER, KEITH RICHARDS, RONNIE WOOD e até BILL WYMAN. Tá, stop por aí. Mas, houve BRIAN JONES… Todos provocantes, excêntricos e provocadores.
E houve CHARLIE WATTS, o “não – ídolo”, o discreto, o animal imprescindível do mesmo zoológico, mas que não precisava e nem admitia jaulas. Vivia solto, livre, independente.
Sua vida e comportamento discretos talvez tenham influenciado diretamente a precisão da “COZINHA” dos STONES. BILL WYMAN e CHARLIE WATTS eram a estrutura estável que garantiu o som da banda durante décadas . BILL saiu antes. Mas, CHARLIE permaneceu.
É folclore do ROCK que WATTS não usava telefone celular. E comunicar-se com ele exigia certo rito, o que deixava MICK JAGGER, um trêfego notório, à beira da loucura… Pressa? Pra que pressa!
O POP é o habitat dos paradoxos e das imagens propositalmente construídas deturpadas.
CHARLIE WATTS conheceu a mulher, SHIRLEY ANN SHEPHERD, antes da existência dos ROLLING STONES. Casou-se com ela em 1964, viveram juntos 57 anos, e até a morte de CHARLIE, em 2019. Tiveram filha e neta. SHIRLEY, que sempre se deu bem com todos os STONES, morreu dois anos depois…
A paixão e fidelidade de CHARLIE tornou-se mítica, em uma banda de faunos. Era caseiro, gostava de arquitetura, cavalos e colecionava carros – mas não dirigia…
Ele não foi o único discrepante, no cenário, da algo falsa mística sobre os ROCKERS:
ROBERT SMITH, THE CURE, é um chorão apaixonado; ROGER DALTREY, eterno crooner do THE WHO, e ainda vivo; e GARY BROOKER, do PROCOL HARUM, já na cachoeira das eras, também viveram a vida inteira com as mesmas mulheres. Acho explicável: estabilidade emocional ajuda suportar rotinas dissonantes e desconcertantes…
CHARLIE era membro fundador da banda. Saiu do ALEXIS KORNER BLUES INCORPORATED, em 1963, nos primórdios da cena BLUES, na INGLATERRA, e ajudou a fundar os ROLLING STONES.
Na banda, participava na definição dos visuais, palcos e tudo o que tivesse a ver com artes gráficas. Antes de ter sido músico, era DESIGNER GRÁFICO profissional.
CHARLIE gostava de JAZZ e, nas folgas, mantinha um quinteto dedicado. Aqui, vão três discos diferentes e muito interessantes.
O BOX “FROM ONE CHARLIE”, 1991, é uma preciosidade para colecionadores. Dentro, há um livreto escrito e desenhado por ele, sobre outro CHARLIE, o PARKER. É parte de um estudo em suas aulas de design gráfico.
O livreto foi publicado pela primeira vez, em 1964, quando WATTS começava a fazer sucesso com os ROLLING STONES.
Ficou bonito, e hoje é difícil de encontrar. Mas, ele selou a paixão por CHARLIE “YARDBIRD” PARKER, à sua formação. O JAZZ, e o VISUAL combinados.
O disco que acompanha o BOX traz cinco músicas compostas por PETER KING, o sax alto, e um dos músicos do quinteto de CHARLIE WATTS. E mais dois clássicos de CHARLIE PARKER, “BLUE BIRD” e “RELAXING AT CAMARILLO”.
O nível técnico e artístico das gravações é excelente.
Os dois outros CDS, também foram gravados pelo exuberante CHARLIE WATTS QUINTET; que é formado por PETER KING; BRIAN LEMON, piano; GERARD PRESENCER, trompete e fluegelhorn; e DAVID GREEN, baixo. E, claro, o próprio WATTS, na bateria.
Eles gravaram “WARM AND TENDER”, 1993; e “LONG AGO AND FAR AWAY”, 1996; que formam deliciosa coleção de clássicos da grande canção americana, e do JAZZ.
São dois ótimos discos, e trazem o excelente cantor BERNARD FOWLER – que acompanha os ROLLING STONES desde 1989, fazendo backing vocals em discos e turnês.
Este é o CHARLIE WATTS eterno: refinado, independente e discreto. Mas que pouca gente conhecia.
Desfrutem!
POSTAGEM ORIGINAL 04/04/2020
DEDICADO A MEU AMIGO @klaus Sveigner

POSTAGEM ORIGINAL 04/04/2020
DEDICADO A MEU AMIGO @klaus Sveigner
