Será que tudo isto é possível em um só cara?
Sim! Porque o compósito humano é o indivíduo. É o agregado que o forma faz sentido. A coerência é presumida em torno do que se sabe sobre cada pessoa. É explicável partindo de cada história, atos, e suas consequências.
Indivíduos são únicos e constro’em vidas únicas, perspectivas próprias; e sempre dentro de um psicológico exclusivo, que não dá para repetir. O resultado, mesmo assim é mensurável; mesmo que imprevisto e imprevisível.
PHIL SPECTOR era um indivíduo especial. Por suas boas qualidades e pela falta delas. Virou um astro combinando “si mesmo” ao que realizou profissionalmente. Em certos momentos foi glorioso! Mesmo fruto do monstro repulsivo, que foi!
Aliás, vamos combinar: No POP há vários monstros repugnantes. MARVIN GAYE era de tal maneira intratável, que seu pai o assassinou com tiros na cara! ROY BUCHANAN matou a própria mãe. LINDOMAR CASTILHO assassinou a esposa por puro machismo, já em época de contestação a tais características masculinas…
PHIL assassinou LANA CLARKSON, em 2003, e pegou prisão perpétua, em 2009. Morreu aos 81 anos. Era um completo doido asqueroso!
Enfim…
Não seguirei cronologia.
Em 1977, PHIL SPECTOR assistiu a show dos RAMONES, no WHISKEY A GO GO, em Los Angeles. Gostou de verdade, e ligou para JOEY RAMONE. Disse a ele que poderia transformá-los na maior banda de ROCK do mundo!
Pô, claro!!! já à procura por novos caminhos, porque a banda não tentar com um dos grandes produtores da História?
Eu suspeito que PHIL SPECTOR percebeu que os RAMONES eram excelentes em seus acordes básicos: e a SONORIDADE DA BANDA perfeita para a pregação que ele fazia, a VOLTA AO “MONO”.
O “WALL OF SOUND”, a grande criação de SPECTOR, não pode ser conseguido em STEREO. Eu explico mais à frente
Breque. ( mas, sem samba… )
Vocês assistiram ao filme sobre a parte final da vida de PHIL SPECTOR, depois de ter matado, com um tiro na boca a mulher que havia descolado em um bar, em 2003, a garçonete LANA CLARKSON?
Andou passando no HBO, acho.
A resposta pra quase tudo está lá. Em cena qualquer, ele simplesmente manda uma banda continuar tocando indefinidamente no estúdio da casa dele. Um músico reclamou. E SPECTOR deu dois tiros no teto!!!!
Ele sempre tratava os músicos e os contratados na porrada, aos palavrões, ou ameaçando com armas.
Era um PSICOPATA!
Os RAMONES aceitaram, e a gravadora contratou PHIL SPECTOR. No GOLD STAR STUDIO, onde as mágicas aconteciam, SPECTOR obrigou os RAMONES a ensaiarem exaustivamente! Colocou os amplificadores acima de 130 decibéis, e o barulho era tal que eles só conseguiam se comunicar via gestos!
Em certo momento, depois de mandar JOHNNY RAMONE repetir o acorde de abertura de “ROCK AND ROLL SCHOOL” por horas!, o guitarrista deu um basta. PHIL tentou evitar na marra que ele abandonasse tudo. Rolou “bacobufo”, e JOHNNY perguntou, “O que você vai fazer? Atirar em mim?”
o nome daquilo tudo é TORTURA!!!
A gravadora, empresário, banda e SPECTOR se acertaram. E o disco “END OF CENTURY”, saiu em 1978. Apesar do imenso desgaste, os RAMONES disseram que a participação do produtor foi “cosmética”! Vale a pena ouvir algumas faixas para constatar, ou não…
Se vocês quiserem saber como um SOM MONAURAL pode ser impactante, procurem a versão para o SINGLE de “I CAN SEE FOR MILES”, do THE WHO, 1968. É demolidora!!! Os RAMONES jamais conseguiram atingir tal impacto…
PHIL SPECTOR foi prestigiado por um histórico de realizações, que dificilmente serão repetidos. Coproduziu para os BEATLES, LENNON, HARRISON, LEONARD COHEN, YOKO ONO … com bons resultados, mas nada que se comparasse ao que fizera no passado. E nem poderia…
Em sua carreira, SPECTOR produziu 23 álbuns, e mais de 50 SINGLES de sucesso, entre 1958 e 2003.
Gravou IKE & TINA TURNER, por exemplo. Lançou grupos vocais femininos de muito sucesso, como as CRISTALS. E as RONETTES, onde cantava sua futura mulher, RONNIE SPECTOR, mantida presa em casa, em um dos vários escândalos que patrocinou em sua vida. Aliás, o nome disso é PARANÓIA!
Entre suas criações estão “UNCHAINED MELODY”, 1966, tema do filme GHOST. E o clássico supremo, “YOU´VE LOST THAT LOVIN FEELING”, 1965, que desbancou YESTERDAY, dos BEATLES! E foi a música mais tocada na AMERICA, durante o século XX!
Ambas foram gravadas pelos RIGHTEOUS BROTHERS. E são exemplos perfeitos do uso da técnica do WALL OF SOUNDS.
SPECTOR entrou para o ROCK AND ROLL HALL OF FAME, em 1989, pelo conjunto da obra artística. Era, também, bom pianista, e curiosamente, produziu muito POP romântico, um contraponto notório com a sua personalidade – muito além de um PUNK, digamos!
O ESTÚDIO E A MÁGICA
“THE WALL OF SOUND” é uma técnica de gravação para capturar músicas gravadas ao vivo, em meio ao “caos e a saturação sonora”. O som “saltava ao redor do estúdio em meio à bagunça sonora e a riqueza de sobre tons” gerados – descreveu um músico. É um jeito, técnica, para criar e manipular o eco.
O GOLDEN STAR RECORDING era estúdio muito pequeno. E PHIL SPECTOR juntava 36 músicos, todos muito próximos, impossibilitando a captação individual do som de cada um.
Ele usava simultaneamente 4 guitarras ou mais, 4 pianos e teclados, 2 baixos, sendo um deles elétrico. Além de naipes de metais, coro, e se preciso, cordas. Tudo junto e ao mesmo tempo!
PHIL SPECTOR trabalhava sempre com os mesmos músicos de base, o famoso WRECKING CREW, responsável por milhares de gravações de artistas como os BEACH BOYS, e os RIGHTEOUS BROTHERS…
Pertenciam ao grupo gente como a cantora CHER, que fazia BACKING VOCALS e o o guitarrista GLEN CAMPBELL. E, também, dois dos mais perfeitos músicos de estúdio da História, o baterista EARL PALMER, e a baixista CAROL KAYE.
Resumindo, uma constelação de craques talentosos e experientes. Mas, SPECTOR os fazia ensaiar exaustivamente antes de gravar. Sadismo, claro!
Um dos músicos frequentes, era o saxofonista NINO TEMPO, que gravou com a cantora APRIL STEVENS, em 1962, talvez o primeiro grande HIT de sensualidade explícita em disco, “TEACH ME TIGER”. Foi bem antes de JANE BIRKIN e SERGE GAINSBOURGH lançarem “JE T’AIME ”( 1965).
TEMPO contou que o objetivo de PHIL SPECTOR era cansar os músicos de tal forma, até que criassem massa compacta, onde a individualidade de cada um se dissolvesse no todo!!!
Era a TORTURA e o abuso como instrumentos de arte!!! PHIL SPECTOR os tratava como coisa, andava armado, e ameaçando quem não fizesse o que ele ordenava.
Esse grupo tocava em conjunto, em volume muito alto, que era gravado por microfones espalhados pelo teto, e pelo estúdio. Os sinais, durante a gravação, eram “transmitidos” para uma “câmara de eco, digamos “natural” no SUB SOLO DA SALA DE GRAVAÇÃO, também equipada como microfones e caixas acústicas!!!!!!!!!!!!
Lá, se formava uma “saturação” de FEEDBACK retransmitida em tempo real ao estúdio, onde se juntava ao que estava sendo produzido na hora pelos músicos. O resultado era captado no gravador AMPEX 350, na cabine de controle.
Essa “MAGICA ACÚSTICO TECNOLÓGICA” era o segredo do MURO DE SOM. E, segundo entendi, o produto gravado era massa espessa que mais ou menos voava, por causa do Eco gerado!
Na sala de gravação, o engenheiro de som, LARRY LEVINE, organizava a captação, e PHIL SPECTOR dava seus toques finais.
Em rápido resumo, a sonoridade captada só era possível em um estúdio com tais características. E, muito importante: a TÉCNICA DO “WALL OF SOUND” SÓ ERA EFICAZ EM SUA PLENITUDE NAS GRAVAÇÕES EM MONOAURAL!
Não fazia sentido separar tal massa sonora em STEREO, porque perdia o ECO e a FORÇA. Daí a pregação de SPECTOR PELA VOLTA AO “MONO”.
Remasterizar as coisas que PHIL criou é muito difícil de fazer. Um dia, quem sabe, a gente vê tentativas por aí…
Para o meu amigo Elvio Paiva Moreira, que gosta do artista, mas duvido que apreciaria o homem.
POSTAGEM ORIGINAL 15/04/2022

POSTAGEM ORIGINAL 15/04/2022
