ELLA FITZGERALD, HAROLD ARLEN, BILLY MAY E NORMAN GRANZ. E O B.B. KING COM ISSO?

Um de meus fascínios é observar o mundo da música de um metafórico terraço, vendo passar a história da intensa, contraditória, rica e diversificada produção artística entre mais ou menos 1955 E 1962.
O período talvez esteja para a MÚSICA o mesmo que a virada do século XIX para o XX esteve para a FILOSOFIA, ARTES PLÁSTICAS, CIÊNCIAS, ARQUITETURA… O melhor que a razão e a criação humanas haviam chegado – e se instalado.
ELLA FITZGERALD já era cantora suprema no início dos 1950, quando gravava para a DECCA. Sua enorme sensibilidade e técnica estavam meio limitadas por repertório um tanto popularesco, e produções aquém de sua genialidade como cantora e intérprete.
Foi em 1954, quando entrou de sola NORMAN GRANZ, empresário e produtor, e conseguiu negociar e contratar ELLA para a VERVE RECORDS.
Ele talvez tenha sido o primeiro a incentivar a definição do que viria a ser o JAZZ como gênero moderno e autônomo. Algo diverso e à parte das criações musicais da BROADWAY, e do RHYTHM’ AND BLUES imperante na música negra.
NORMAN GRANZ percebeu a grandeza de ELLA FITZGERALD, e providenciou o fino entre os músicos, e a elite de arranjadores e orquestradores para destacar e construí-la como estrela.
Trouxe gênios ou perto disso, comoDUKE ELLINGTON, BILLY STRAYHORN, NELSON RIDDLE, BILLY MAY…, e organizou os famosos e imprescindíveis SONGBOOKS, gravados à partir de 1955.
O primeiro deles foi o “THE COLE PORTER SONGBOOK”. Mas, vou concentrar atenção em “HAROLD ARLEN”, que tinha fama imprecisa de ser um compositor de “BLUES”.
Mas, não apenas isso, é claro. Seu foco maior eram peças e musicais para a BROADWAY.
Ele compôs a clássica “OVER THE RAINBOW”, por exemplo; que faz parte deste disco. Mas ELLA e o maestro BILLY MAY não gostaram do resultado. A escolha para o disco foi imposta por NORMAN GRANZ…
O repertório aqui é uma OVERDOSE DE STANDARDS do BLUES, aqui em sua concepção “JAZZÍSTICA”: “STORMY WEATHER”. “BLUES IN THE NIGHT”, “COME RAIN OR COME SHINE”, “ONE FOR MY BABY”, “I GOT THE RIGHT TO SING THE BLUES” … e várias de igual nível formando álbum excepcional.
As gravações remasterizadas para essa edição em 2001, estão em absoluto estado da arte! E foram realizadas em poucas sessões, quase todas feitas em janeiro de 1961. A produção com TINTURA JAZZY de NORMAN GRANZ, é o Topo do TOP, claro!
ELLA estava com 42 anos e no auge de seu domínio técnico e expressão artística! A voz de pureza e doçura absolutas, a dicção perfeita, e a compreensão das letras e interpretação, estão em nível de poucos cantores de quaisquer épocas!
Mrs. FITZGERALD é a minha cantora predileta entre as imprescindíveis SARAH, BILLIE e DINAH WASHINGTON.
BILLY MAY, o arranjador e maestro deste SONGBOOK, contou que ELLA era tímida, algo insegura, tremendamente crítica, e tinha ouvido musical perfeito.
Foi fácil trabalhar com a Deusa; que acertava no primeiro “take”, mas não se conformava e sempre pedia outros…. Era comum após o término das gravações os músicos, todos do mais alto nível artístico, aplaudirem de pé!
A orquestra e os arranjos de BILLY MAY são absolutamente sensacionais! Os metais tocam à perfeição; a bateria e o baixo BLUESY são precisos e requintados.
A gente ouve tudo com nitidez cristalina; cada instrumento em seu lugar. E quando as cordas participam jamais caem no lacrimoso ou flertam com o brega. É o suprassumo da grande canção americana, que não é JAZZ, mas POP no estamento mais alto!
Mas, TIO SÉRGIO, o que faz B.B.KING por aqui?
Eu penso que ELLA, MAY e GRANZ trouxeram o BLUES NA CONCEPÇÃO JAZZÍSTICA ao APOGEU, nessas gravações. B.B.KING pegou o remo, e foi um dos que o apresentou para o reino do ROCK, e ajudou a desenvolver a fama, contribuindo para defini-lo como estilo autônomo. É curioso observar como B.B.KING em 1950, lembra os ROLLING STONES, em 1964… Ou não?
Mas, não esqueçam: sempre foi B.B.KING ORCHESTRA. E ELLA FITZGERALD fez, também, parte da mesma geração.
Se tudo isso não te convenceu, saiba que a capa original de “ELLA FITZGERALD SINGS THE HAROLD ARLEN SONG BOOK”, é uma ilustração feita por HENRI MATISSE, e sob encomenda…
Desfrute, consiga e mantenha na discoteca. Melhor não há!
POSTAGEM ORIGINAL: 13/05/2020
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