COLIN BLUNSTONE é um cara tímido que entrou para o mundo da música meio por acaso, e foi ser vocalista de banda.
Mas, deu alguma sorte: os ZOMBIES estouraram mundialmente, em 1964, com um MEGA HIT que trouxe peculiaridade ao BEAT INGLÊS: em SHE´S NOT THERE há um solo de teclado bem jazzístico. Uns doze segundos que serviram de cartão de visitas para ROD ARGENT, músico profissional de verdade….
Pois, é; o SINGLE vendeu mais de um milhão de cópias, mundo afora! Mas, vida de músico é difícil. Os ZOMBIES gravaram um LP e outros SINGLES; a maioria foi mal. Participaram de shows, excursionaram, ganharam uns trocos. E finito.
Antes do final, em 1967, deixaram pronto um álbum conceitual de “PSYCH – BAROQUE ROCK”, o clássico inesperado ODISSEY & ORACLE. Procuraram seguir a onda que aparecera na sequência do BEAT, com o SGT PEPPERS, dos BEATLES; e DAYS OF FUTURE PASSED, dos MOODY BLUES.
Mas, os que recebiam alguma grana eram “ROD ARGENT”, tecladista, e o guitarrista CHRIS WHITE, os compositores na banda. Tinham direito a royalties. Por absoluta insustentabilidade financeira, os ZOMBIES romperam em fins de 1967.
E cada um foi cuidar da própria vida. COLIN BLUNSTONE aceitou o emprego de “recepcionista/atendente” em uma Companhia de Seguros. E contou : “eu topei o primeiro emprego que apareceu, em vez de passar fome.”
Vocês sabem para o quê serve um PRODUTOR?
Bem, para muitas coisas artístico – práticas.
Mas poucos, muito poucos, têm a visão do todo e das possibilidades como AL KOOPER. Músico e arranjador americano muito inspirado, mas cantor nada empolgante. Para ampliar a história, KOOPER esteve com os BLUES PROJECT e havia gravado com BOB DYLAN. Inclusive o clássico LIKE A ROLLING STONE. Em 1968, estava envolvido com BLOOD, SWEAT & TEARS e outros projetos na COLUMBIA RECORDS.
AL KOOPER passeava em LONDRES e, por algum descaminho, acabou conhecendo e comprando o ODISSEY & ORACLE. Adorou e compreendeu o tamanho da obra. Convenceu a EPIC RECORDS a bancar a edição do disco nos Estados Unidos, através de uma de suas subsidiárias, a DATE.
Para mais bem expor os talentos de KOOPER, vamos lembrar que ele descobriu e produziu um dos maiores fenômenos do ROCK AMERICANO, a banda LYNYRD SKYNYRD. Entre outros e outros…
Pois, ótimo! O restante é a história da fama crescente de ODISSEY & ORACLE, álbum hoje entre os 50 maiores da música popular!
COLIN EDWARD MICHAEL BLUNSTONE, tem nome “british”, sonoro e formal. Disse que ouviu “TIME OF THE SEASON”, o “SINGLE” retirado de ODISSEY & ORACLE, quando trabalhava na seguradora.
E, a partir daí, o interesse na voz dele renasceu.
CHRIS WHITE e ROD ARGENT haviam fundado uma produtora e o convidaram para gravar alguns demos. Fizeram. e, daí, outros SINGLES…
Mas COLIN foi além disso, e detém enorme legitimidade que pode ser medida pelas frases de colegas admiradores; muitos de tendências musicais antagônicas.
NEIL TENNANT, considera “ONE YEAR”, o primeiro disco solo de BLUNSTONE, um incrível e romântico álbum POP”. Tudo bem! Ele se afina com a linha musical dos PET SHOP BOYS.
Mas que tal a opinião de THURSTON MOORE, guitarrista do SONIC YOUTH: “É um exemplo clássico do melhor BRITISH POP. Um disco muito sofisticado e pessoal”! Aí, pessoal, já é admiração pelo talento explícito mesmo!
Para confirmar a reputação, após a gravação de três LPS para a EPIC, ele foi convidado pela ROCKET RECORDS, propriedade de ELTON JOHN, onde fez mais três álbuns. Depois, foi trabalhar com ALLAN PARSONS, e gravou com bastante frequência.
E daí seguiu errática, mas ininterrupta carreira.
Sem dúvidas, COLIN BLUNSTONE tem voz única, frágil, de pouca extensão e marcante originalidade. Levemente metálica, talvez “sparkling”, como um champagne; e algo “enfumarada” – um sutil aproach a tabaco? Se consigo definir assim…
Na voz dele habita um quê de DUSTY SPRINGFIELD; um timbre tangenciando o feminino, como DEMIS ROUSSOS, do APHRODITE’S CHILD; ou JON ANDERSON, do YES…. Mas, ele é um tenor sem arroubos; controlado. E suas eventuais “alegrias incontidas” duram micro segundos.
Quem sabe?
“ONE YEAR, lançado em 1971, completou 50 anos e será brevemente relançado com destaque. A obra vem subindo paulatinamente de STATUS junto aos colecionadores, e à turma que conhece música POP e ROCK PROGRESSIVO.
Para mais ou menos definir, é tido como sequência ( ou seria consequência? ) de ODISSEY & ORACLE. Um dos focos, é óbvio, está no excelente vocal de COLIN, também compositor de quatro faixas, e que se revelou talentoso para baladas e músicas românticas.
O disco foi produzido por CHRIS WHITE; e gestado e gravado, em 1971, por outra derivação dos ZOMBIES, o ARGENT. Ótimo grupo de ROCK PROGRESSIVO inglês; com RUSS BALLARD, na guitarra; BOB HENRITT, baterista; JIM RODFORD, no baixo. E ROD ARGENT, teclados e vocal, que foi o arranjador da parte instrumental da banda para acompanhar COLIN BLUNSTONE; e sugeriu o uso de cordas e alguns sopros.
Foi assim: ROD andava escutando os quartetos de BELA BARTÓK, e inspirou o diferencial marcante, e hoje definidor desse disco. Mas foram os arranjos para grupo de câmara feitos pelo compositor inglês de trilhas sonoras, CHRIS GUNNING, que deram o clima e o acabamento final da obra. Duas faixas foram produzidas por TONY VISCONTI, à época entretido com MARK BOLAN e DAVID BOWIE; e, mesmo sendo boas, estavam pouco encaixadas no todo. Ainda assim, o que conseguiram gravar foi aproveitado.
O projeto foi realizado com orçamento muito limitado, gravado quando dava, e no decorrer de um ano – por isso o nome “ONE YEAR”.
A produção de CHRIS WHITE conseguiu dar cara e coesão à obra. Ouça a versão de MISTY ROSES, de TIM HARDIN – naqueles tempos, um compositor de sucesso. É um “compósito-amálgama” altamente criativo entre a BOSSA NOVA “quasi” JOÃO GILBERTO, justaposta a uma pequena obra de câmara nitidamente evocando BELA BARTÓK, e que se estende até o final da faixa! O efeito é lindíssimo! Como, aliás, toda intervenção dos arranjos de GUNNING!
Alguns talvez considerem o resultado um pouco açucarado. Mas, os MOODY BLUES, ALLAN PARSONS e KATE BUSH também são. E todos entregam trabalhos de alto nível.
O disco teve relativo sucesso; e de lá foram retirados três excelentes SINGLES que venderam razoavelmente: “SAY YOU DON´T MIND”, “CAROLINE GOOD BYE” e “I DON´T BELIEVE IN MIRACLES”.
COLIN saiu em turnê, mesmo dificultado pela necessidade em levar a banda e mais um quarteto de cordas. E, também, atrapalhado pela timidez e problemas na voz, que se tornaram recorrentes por muito tempo.
A EPIC lançou mais dois LPS interessantes; e um tanto disformes, mas com momentos que lembram o primeiro álbum. Eu aconselho aos que tiverem interesse em ONE YEAR, que procurem um pequeno, bem gravado e barato box da série “ORIGINAL ALBUM CLASSICS”. Lá estão, também, ENNISMORE, 1972 e JOURNEY, 1974, tudo o que ele produziu nesta fase.
COLIN BLUNSTONE é talentosos e diferente! E vale a pena descobrir sua voz inesquecível.
POSTAGEM ORIGINAL:02/05/2022

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