TENHO DUAS EDIÇÕES DIFERENTES. A COM A CAPA INGLESA, BRANCA E LETRAS EM PRETO, DERIVADA DO ORIGINAL DA RCA. AS 4 PARTES ESTÃO EM ÚNICO CD.
E A EDIÇÃO AMERICANA, COLORIDA, MAIS BONITA E ATRAENTE, EM DOIS CDS COMO AS EDIÇÕES EM LONG PLAY, EM ÁLBUNS DUPLOS.
Conheço o disco faz décadas. É um CULT do COLECIONISMO tanto para a turma do ROCK PROGRESSIVO, quanto para o pessoal do JAZZ mais experimental, ou da FUSION, que procura jacarés nos pântanos da música.
Só que o álbum é um ornitorrinco!
Imagine o seguinte: KEITH TIPPET, é pianista, arranjador e compositor desta peça difícil, e muito complicada para ser gravada.
É obra cheia de sutilezas expressas ou requeridas, que junta uma orquestra com 50 músicos ( na verdade 55 ) – daí o nome “CENTIPEDE”, centopeia -, para executar as 4 partes que a compõe!
O quebra cabeças é imenso. Há vinte violinos, 7 cellos, 3 baterias, 6 baixos ( elétricos, ou não ), 1 guitarra, 1 piano e 4 vocalistas. E todos servem de suporte para 5 trompetes, 4 sax altos, 4 tenores, 3 barítonos e 4 quatro trombones!!!! Que tal?
E, não para por aí!
O disco foi pensado em núcleos, por assim dizer; e é executado nos instrumentos de sopro por duplas, trios, quartetos, e quintetos de “solistas” !!! E todos procuram tocar em contraponto, ou em massa, suportados pela turma das cordas, que faz base harmônica em alguns momentos um pouco mais identificável e mais próxima do tradicional. Em outros, porém, gerando “pseudo anarquia”.
Captaram?
Seria FREE JAZZ?
Eu acho que não totalmente.
Mas, vamos caminhar com “os ouvidos” um pouco além, e ver no que dá…
KEITH TIPPET é o pianista inglês de vanguarda, que em 1971 havia participado em 3 discos do KING CRIMSON: “LIZARD”, “ISLAND” e “IN THE WAKE OF THE POSEIDON”. Ele consegue ser simultaneamente lírico e ousado. É um MESTRE DAS SUTILEZAS!
TIPPET para fazer o disco convocou amigos, gente do SOFT MACHINE, DO KING CRIMSON, do IAN CARR & NUCLEUS, e outros luminares da linha de frente britânica da música contemporânea.
Se vocês clarificarem o tamanho da encrenca encontrarão lá;
Trompetes e corneta (?): IAN CARR e MARK CHARING; sax alto: ELTON DEAN, IAN McDONALD; tenor: ALAN SKIDMORE; barítono: KARL JENKINS; trombones: NICK EVANS, PAUL RUTHERFORD; bateria: JOHN MARSHALL e ROBERT WYATT; baixo: ROY BABBINGTON, JEFF CLINE, DAVE MARKEE. Em resumo, a raiz, o caule e as folhas do novo JAZZ INGLÊS da época!
Nos vocais, e só para garantir anarquia, MIKE PATTO ( literalmente grasnando!!! ), ZOOT MONEY; e JULIE TIPPET, ex – JULIE DRISCOLL, conhecida e CULT cantora que participou com o tecladista BRIAN AUGER em vários discos legais no ” melting pot que abrange R&B, ROCK PROGRESSIVO, JAZZ, BLUES, e vasto enfim!!!
Pois, então: e para coordenar os trabalhos, produzir, organizar o caos possível e comprovável?
ROBERT FRIPP.
Mas, o FRIPP????!!!, TIO SÉRGIO?
Sim, escolha exata!
Ele retribuiu a TIPPET a participação nos discos do KING CRIMSON. É o cara certo para botar ordem, convencer, mandar. Tem um intelecto organizado, sabe deixar rolar, colocar, vírgulas, e mandar parar… E conhece as experimentações e vanguardas.
FRIPP é ousado e meticuloso. E conhecido como um déspota do bem: discute; mas, “não é não”!!!
Quanto ao disco em si, li que a ideia de KEITH TIPPET era “ROMPER FRONTEIRAS FEROZMENTE”; buscando no “momento executado” o “AGORA”; mas dentro de uma lógica que fugisse do “conforto” e das regras rígidas da “HIGH ART”!
Entenderam? Estou tentando…
Talvez, como também está no livreto: “ele orientasse os riffs básicos do JAZZ – ROCK para sustentar estruturas mais “soltas”, mais próximas do FREE-JAZZ.” Ou, a ideia central quem sabe fosse captar a energia das BIG BANDS com a sensibilidade dos pequenos grupos!
Sacaram? Eu vou tentando desvendar e descontruir o quebra-cabeças!!!
Presumo, resumindo, que ele pretendesse deixar o time improvisar com liberdade, mas dentro da melhor técnica musical possível. Em alguns momentos, a turma da base também participa do forrobodó; em outros, a turma de frente volta-se à base harmônica. É bonito, e distinguível quando se ouve a obra com mais atenção…
Curiosamente, em alguns momentos tudo parece rompido ou consolidado por alguns riffs e solos de guitarra, feitos por BRIAN GODDING. Porque FRIPP não tocou uma linha sequer no disco!
Lembram-se do show do KING CRIMSON, no último ROCK IN RIO?
FRIPP comandava a banda com a guitarra; mandava e desmandava; rompia o construído, ou deixava andar a seu comando. Vi semelhanças entre os dois gestos…
Quando o disco foi lançado, houve uma avalanche de críticas. A turma do ROCK, que o comprou por causa de ROBERT FRIPP, frustrou-se: ele só produziu. A turma da VANGUARDA achou o disco não coeso, um monumento desencontrado…
Talvez merecesse uma remasterização com algum craque de estúdio contemporâneo. Fico imaginando STEVEN WILSON. Ou algum japonês meticuloso em atividade. Mas, quem sabe um alemão desses que fazem o trabalho espetacular com a BEAR FAMILY RECORDS!
Gente capaz de colocar as coisas no lugar, limpar excessos, realçar trechos esquecidos ou mal masterizados. Essas coisas complexas, que deixam audiófilos e ouvintes sofisticados de orelhas em riste!
TIO SÉRGIO aqui passou duas tardes escutando para ver se compreendia o que foi esboçado e feito… Comparei, observei, bebi…. depois, tomei a vacina contra a COVID e fui ouvir o disco de novo…
E de tanto pensar virei jacaré!
POSTAGEM ORIGINAL: 01/04/2021

POSTAGEM ORIGINAL: 01/04/2021
