THE WHO E ROGER DALTREY: JORNADA INTENSA E GLORIOSA

Eu me lembro da circunstância em que cheguei ao meu primeiro SINGLE do THE WHO. Foi em 1968. Por algum jeito, contatei um cara que possuía o primeiro LP. dos “ELECTRIC PRUNES” – ‘I HAD TOO MUCH TO DREAM”, 1967, e queria vendê-lo. Ele morava no bairro do Planalto Paulista, em SAMPA, e perto de onde vim morar uns 12 anos depois. E hoje, também mora por lá o FERNANDO HADDAD – ah, vocês o conhecem…
Cheguei; e lá estava o LONG PLAY em MONO, hoje raro de dar soluços! Comprei junto com outros dois SINGLES fenomenais: “TIME FOR LIVING” dos “ASSOCIATIONS”; e, principalmente, “I CAN SEE FOR MILES” com “THE WHO”.
Bom, se vocês acham “MY GENERATION” pesada e violenta, então ouçam a versão mono de “I CAN SEE FOR MILES”: É demolidora! E no lado B, está a ode à masturbação que PETE TOWNSHEND compôs: “MARIANNE WITH THE SHAKING HANDS” . Não preciso descrever a especialidade da guria moça com os rapazes… Duas músicas sensacionais!
TIO SÉRGIO já conhecia o primeiro LP deles, lançado por aqui em 1966, “THE WHO SINGS MY GENERATION”. Era do meu amigo Silvio Dean. Disco de estreia, em 1965, com KEITH MOON destruindo na bateria, e JOHN ENTWISTLE detonando o baixo. Os dois formaram uma das melhores cozinhas do ROCK.
E claro, PETE TOWNSHEND na guitarra. Trio pesado, violento, em mescla de BEAT e R&B. No vocal ROGER HENRY DALTREY, o fundador da banda, moleque agitado, briguento; e que havia sido expulso da escola. No entanto, como é comum, quando encontrou a mulher certa, Heather, no segundo casamento; e criou juízo para sempre…
Dia desses, postei dizendo que DALTREY é mau cantor. Talvez eu tenha exagerado. Mesmo porque isso não importa. THE WHO é banda completa em si mesma, vívida, clássica, histórica. E o conjunto da obra recomenda qualquer esforço para colecioná-los.
Se você quer saber a intensidade do grupo no palco, ouça “THE WHO LIVE AT LEEDS”, 1970, gravado na fase áurea da banda.
E veja, inclusive, a imortal apresentação no “FESTIVAL DE WOODSTOCK”, 1969, com “WE´RE NOT GONNA TAKE IT” ( SEE ME, FEEL ME), que até hoje me dá arrepios, tal a eletricidade e a violência da performance! Foi gravado depois deles esperarem 9 horas para subir ao palco, sem comida, no meio do barro, excrementos e bebidas ruins. Experiência rascante, trágica, mas que suplantaram com emoção… É uma das grandes performances do ROCK!
ROGER DALTREY é um ser humano forte, resiliente, corajoso. Nasceu em 1944, durante a segunda guerra mundial, sob intenso bombardeio alemão. Em 2015, ele estava desenganado no Hospital, com meningite viral. Havia se despedido dos amigos e da família. Está curado! É um sobrevivente acostumado a intempéries e lutas. ROGER é casado com a mesma mulher há quase 50 anos, Heather; eles têm 8 filhos!!!! Volúpia não faltou….
DALTREY é um vencedor!
Em 2019, já totalmente recuperado, DALTREY gravou versão orquestral ao vivo de TOMMY, considerada excepcional e inovadora. Foi arranjada pelo maestro DAVID CAMPBELL, que é pai do cantor/compositor prodígio BECK. A performance vocal de ROGER é tida como excelente!
THE WHO teve carreira atribulada, e quase romperam definitivamente duas vezes. A ideia de DALTREY, que no início dava as cartas na banda, era seguir a linha R&B do primeiro disco. Mais ou menos como no excelente disco dele com WILCO JOHNSON, do DR. FEELGOOD, feito em 2014. Mas, o estilo de composição de PETER TOWNSHEND não ia muito por aí…
Com o sucesso do single “MY GENERATIOM” excursionaram exaustivamente pelo Reino Unido. Geralmente faziam como JOHN MAYALL descreveu: iam 200Km, 300km além, e voltavam na mesma noite! No dia seguinte, outra turnê. Coisa que só jovens aguentam. E é aí que entram as drogas.
Em 1966, gravaram um álbum ainda um tanto desprezado: “A QUICK ONE”. Degrau além do primeiro disco; e flerte mais direto com o ROCK PSICODÉLICO. As músicas são quase todas de TOWNSHEND; e lá está o esboço do que pode ser interpretado como MINI-ÓPERA, a faixa título. Ensaio geral para o que viria a ser TOMMY.
Em 1967, lançam “THE WHO SELL OUT”, outra experiência conceitual em clima da PSICODELIA vigente, e que relançado em BOX super bem-produzido com 5 CDS e adornos outros. É caro, bem caro!
PETE TOWNSHEND disse que ao entrar para o WHO achava que tinha ido para uma gangue. Quase! Quebrou 35 guitarras, só em 1967. Prejuízo imenso, que DALTREY reprovava – mas entendia que era parte da “imagem que estavam construindo”.
ROGER comenta que a zoeira, e quartos de hotéis arrebentados foram ideia e “performance” de KEITH MOON, que achava a destruição “um ato criador, uma obra de arte”. “Conceito” que trouxe para o grupo muita confusão, e quase os levou à falência. DALTREY disse que nunca participou daquilo tudo…
Em 1968, lançaram uma quase coletânea com singles recentes e faixas retiradas do disco anterior. “MAGIC BUS – THE WHO ON TOUR”, tem capa linda e é LP CULT, e muito legal de se ter na coleção.!
Finalmente, a obra definidora e definitiva da banda. PETE TOWNSHEND vinha elaborando um CONCEITO que havia sido usado em “S.F.SORROW, o principal disco da banda inglesa “THE PRETTY THINGS”, de 1967; que foi tido como a primeira “ÓPERA ROCK” da história. Porém, na real, é um álbum CONCEITUAL.
PETE já havia flertado com a ideia.
Em 1968, tecnicamente falidos e endividados, resolveram arriscar. TOMMY foi gravado em 1969, e a primeira performance integral ao vivo da banda deu-se no RONNIE SCOTT´S JAZZ CLUB, em Londres em 02 de maio do mesmo ano. Que “sacra ironia”. Obra que revigorou o ROCK divulgada em CLUBE DE JAZZ!!!!
O disco estourou no Reino Unido e na América. Foi lançado e relançado no mundo inteiro; e salvou THE WHO e os trouxe para o grau de importância artística que ainda hoje desfrutam.
Visto sob perspectiva “histórico-sociológica”, na época o disco parecia uma brincadeira infanto – juvenil. A história de um garoto cego, surdo e mudo que se torna campeão de pebolim (?) . Mas foi muito além!
O mundo caminhou em direção ao desenvolvimento do lazer, trabalho e outras formas de integração com os equipamentos eletrônicos. Não há menino ou menina que não saiba mexer, ou não se fascine com vídeo games e outros apetrechos e aplicativos do mundo eletrônico e, hoje, virtual.
Todos somos agentes e pacientes dessa realidade. O detalhe é que PETER TOWNSHEND a transformou em saga artística; viu primeiro.
THE WHO sempre foi percebido como a mais inglesa entre as bandas de ROCK. Há discussões e divergências.
THE KINKS, por exemplo, sempre cantaram a vida cotidiana do inglês médio com ironia e texto normalmente superiores. É deles outra obra conceitual contemporânea a TOMMY, e talvez mais passível ainda de encenação: “ARTHUR: THE DECLINE AND FALL OF BRITISH EMPIRE” . É terrivelmente sarcástica, divertida e crítica. Mas talvez não tenha alcançado a grandeza que merece, porque ainda “BEAT” demais na formulação musical, para tempos que já eram outros. O som já era ultrapassado.
THE WHO, na mesma época, estava transcendendo a PSICODELIA. Daí para frente, o caminho se abriu para DALTREY, TOWNSHEND, ENTWISTLE & MOON.
“WHO´S NEXT”, de 1971, é a primeira incursão que realizaram no ROCK PROGRESSIVO. E, talvez seja o disco preferido do pessoal da nova geração que os coleciona. É ROCK PESADO, criado também por sintetizadores e outros instrumentos que fizeram prevalecer bandas como KING CRIMSON, YES, GENESIS e infindáveis. É OBRA CLÁSSICA POR EXCELÊNCIA.
Outro clássico, QUADROPHENIA, mais um projeto grandioso de TOWNSHEND prospectando a própria memória de MOD adolescente, veio ao mundo em 1973. Envolveu orquestra e arranjos sofisticados; decididamente mais ROCK PROGRESSIVO do que o anterior. E também foi sucesso de crítica e público; manteve a banda na midia. E virou filme.
O caminho continuou para eles. E outras memórias deverão ser tecidas por quem mais bem os acompanhou. ROGER DALTREY há pouco tempo vinha trabalhando em script para um filme sobre KEITH MOON. Não sobre THE WHO, mas a respeito de um baterista suis-generis e indivíduo inigualado naquele mundo coalhado por doidos e visionários, onde todos eles fizeram parte excencial.
LONG LIVE ROCK!!!
POSTAGEM ORIGINAL: 23/05/2021
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