MARVIN GAYE – WHAT´S GOING ON? – 1971 ELEITO, em 2020, PELA REVISTA “ROLLING STONE “, “O MAIOR DISCO DE TODOS OS TEMPOS”!!!

O MUNDO PASSOU POR TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS PROFUNDAS DURANTE A DÉCADA DE 1960. HOUVE OTIMISMO E HEDONISMO, E, TAMBÉM, RADICAIS MUDANÇAS DE COMPORTAMENTOS E PROPOSIÇÕES POLÍTICAS.
FORAM TEMPOS PLENOS DE EVENTOS CONTRADITÓRIOS MUITAS VEZES SIMULTÂNEOS; E FREQUENTEMENTE NÃO COMPREENDIDOS À ÉPOCA. PORTANTO, HÁ VASTA COLEÇÃO DE FATOS ESTRUTURANTES PARA O MUNDO CONTEMPORÂNEO.
A HISTÓRIA PASSADA CONDICIONA A “HISTÓRIA FUTURA”, MAS NÃO A DETERMINA. NOVOS FATOS, NO CORRER DOS TEMPOS E A TODO MOMENTO, ABREM CAMINHOS PARA A REVISÃO DE IDEIAS E CONCEITOS NESSA INTERAÇÃO ININTERRUPTA .
A HISTÓRIA NÃO TEM FINAL; ELA É UM PROCESSO CONTÍNUO. E A DINÂMICA DO PRESENTE DESTACA A PERCEPÇÃO DO PASSADO, E POSSIBILITA NOVAS CONCLUSÕES, MESMO QUE TRANSITÓRIAS.
O PASSADO DESTE PONTO DE VISTA NÃO ESTÁ “MORTO”. OS FATOS ANTES DE SERVIREM COMO BASE CONSISTENTE PARA ANÁLISES, REQUEREM CERTO CONSENSO SOCIAL PARA SE IMPOREM COMO DE IMPORTÂNCIA EFETIVA.
AINDA ASSIM, O QUE É COMPREENDIDO NO PRESENTE COMO A “VERDADE”, SEMPRE PODERÁ SER CONTESTADO E RECUSADO NO FUTURO. A INCERTEZA E A IMPERMANÊNCIA SÃO AS “CONSTANTES INCONTESTÁVEIS” NA HISTÓRIA DOS HOMENS.
“WHAT’ S GOING ON ?”
O CONSENSO ATÉ 2018, CONSIDERAVA A OBRA PRIMA DOS “BEATLES” LANÇADA EM 1967, “SGT PEPPER´S LONELY HEART CLUB BAND”, O MAIOR, MAIS AMPLO E INOVADOR DISCO DE MÚSICA POPULAR GRAVADO EM TODOS OS TEMPOS. FOI PERCEBIDO COMO ESTÁGIO ADIANTE SOBRE O QUE HAVIA SIDO REALIZADO ATÉ AQUELE MOMENTO.
O ÁLBUM COMBINA, EM ALGUMAS FAIXAS, O MAIS MODERNO DO ROCK COM A MÚSICA ERUDITA DE VANGUARDA. E PRESERVA, EM OUTRAS CANÇÕES, ARRANJOS E RITMOS TRADICIONAIS.
E TUDO EMBALANDO LETRAS BEM FEITAS, COMENTÁRIOS POLÍTICOS E DE COSTUMES QUE DESCREVEM O PANORAMA CAMBIANTE DAS RELAÇÕES SOCIAIS EM MEADOS DA DÉCADA DOS 1960. A SOMATÓRIA DESSES FATORES FAZ A OBRA FUNCIONAR COMO “DOCUMENTÁRIO”; UM ÁLBUM CONCEITUAL, CRÔNICA SENSÍVEL REVERBERANDO NO PRESENTE.
O ÁLBUM FOI GRAVADO COM AS TECNOLOGIAS DE ESTÚDIO MAIS INOVADORAS DA ÉPOCA, QUE POSSIBILITARAM SONORIDADES E RESULTADOS ATÉ HOJE PERCEBIDOS COMO “CONTEMPORÂNEOS”. O DISCO DOS BEATLES SOBREVIVEU E TRANSCENDEU AS DÉCADAS; É OBRA GRANDIOSA E AINDA VIVA.
“SGT PEPPER´S… ” REFLETE CERTA CONSTÂNCIA DA HISTÓRIA HUMANA EM ALGUNS DE SEUS “MACRO -TEMAS”: LIBERDADE, DROGAS, POBREZA, SOLIDÃO, CONSERVADORISMO, REBELDIA, SOLIDARIEDADE. É O COTIDIANO E SUAS MÁS NÓTÍCIAS; AS GUERRAS, E VÁRIOS ETCs…; EXEMPLO DE ARTE EM COMPASSO COM A REALIDADE MUTANTE. É UM SUMÁRIO DA CONTEMPORANEIDADE.
NO ENTANTO, PROFÉTICO MESMO FOI “TOMMY”, OBRA CONCEITUAL CRIADA POR “THE WHO”, EM 1969: METÁFORA SOBRE A ALIENAÇÃO E ATOMIZAÇÃO DO INDIVÍDUO, REPRESENTADO PELO PERSONAGEM TOMMY, GAROTO SURDO E MUDO, MAS CRAQUE OBSECADO POR MÁQUINA ANTECESSORA DOS ATUAIS JOGOS ELETRÔNICOS: O PIMBALL, FLIPERAMA, EM PORTUGUÊS..
OS “TOMMYS” CONVIVEM CONOSCO HÁ DÉCADAS. ESTÃO NOS LARES, NOS BARES, NAS ESCOLAS; EM ÔNIBUS E METRÔS. E PROVAVELMENTE NOS ULTRASSARÃO, PORQUE LINKADOS À VIDA COTIDIANA, QUE É ELETRÔNICA, VIRTUAL, ATOMIZADA; ONIPRESENTE.
MAS, OUTRO DISCO MONUMENTAL TOMOU A LIDERANÇA NESSE ETERNO “AGORA”. E A SENSAÇÃO DE ANTECIPAÇÃO QUASE PROFÉTICA FICOU MAIS UMA VEZ EXPLÍCITA.
SERIA “WHAT´S GOING ON”, DE “MARVIN GAYE”, LANÇADO EM 1971, MELHOR, MAIS ADEQUADO E ATUAL DOS QUE OS BEATLES?
Em primeiro lugar, repare que ambos têm mais de cinquenta anos! E a diferença entre o surgimento de um e outro foram menos de quatro anos.
Mas quê quatro anos!!!!!
Quando o disco de “MARVIN GAYE” saiu, o pessimismo e o desencanto haviam tomado conta do mundo. A utopia hippie entrara em desuso; e continuaram as guerras e disputas entre potências e seus arsenais nucleares nas alturas. Ficou escancarado que ditaduras se espalhavam por todo o planeta, trivialidades que se repetem, nos tempos atuais. Tudo se reposicionou. Mas essencialmente pouco mudou.
Observe também, que em 1967 já havia brotado um ROCK PESSIMISTA, eivado por drogas, realista e marginal; e longe do “SUNSHINTE POP” e dos BEATLES. De certa forma, o “VELVET UNDERGROUND”, de “LOU REED”, anteviu o que ficara explícito, em 1971; e continua regra até agora…
Sobreviveram do passado vários temas retrabalhados por “MARVIN GAYE” em seu álbum imprescindível: pobreza, vida marginal, violência, drogas, racismo…desigualdade social e racial…
Para entender o “MARVIN GAYE de “WHAT´S GOING ON?”, é preciso notar que, em 1970/1971, foram lançados discos notáveis abordando as mazelas com muita crítica social explícita e militante. Todos eivados por tom pessimista e algo resignado. Inclusive o novo assunto daquele momento, e que todos nós, dali para frente, passamos a nos preocupar: a ECOLOGIA!
Naqueles tempos “JONI MITCHELL” lançou “BLUE”, e “NEIL YOUNG” fez “AFTER THE GOLD RUCH”. Mais além, o “JETHRO TULL” criou “ACQUALUNG” – um olhar esquivo e duro sobre religião, educação, marginalidade e outros temas eternos.
E os “MOODY BLUES”, lançaram álbuns muito vendidos. “A QUESTION OF BALANCE”, 1970; e “EVERY GOOD BOY DESERVES FAVOUR, 1971, são os pioneiros em falar em ECOLOGIA.
E não se pode esquecer CHICO BUARQUE, na mais perfeita descrição poética das agruras da pobreza e do desalento, que ainda nos assolam: “CONSTRUÇÃO” e sua “complementar”, “DEUS LHE PAGUE”, 1971, são canções interativas com elementos de ROCK PSICODÉLICO-PROGRESSIVO SINFÔNICO, em arranjo “claustrofóbico” do maestro ROGÉRIO DUPRAT – que lembra os feitos pela banda americana SPIRIT, em 1968/1970. Isto só para ficar em um exemplo, entre tantos possíveis.
Dado fundamental une as obras daquele contexto histórico relevante: todos são DISCOS DE VANGUARDA, MUSICALMENTE FALANDO. E de acordo com o espírito de “FINAL DOS TEMPOS”.
MARVIN GAYE é produto daquele momento: um “SINGER/SONGWRITER”; a tendência que tomou conta do mercado musical no início dos 1970. Ele é contemporâneo de outros grandes artistas, como PAUL SIMON, CARLY SIMON, JAMES TAYLOR, GIL, CAETANO e CHICO, claro; e vasto etc…
MARVIN GAYE não foi um precursor, mas articulou artisticamente várias ideias daqueles momentos… O disco “WHAT´S GOING ON” é, antes de tudo e simultaneamente, ÁLBUM CONCEITUAL, e de BLACK MUSIC! Um diferencial único entre seus pares. A faixa título é considerada a “quarta música mais importante da discografia americana”!
Da segunda à sexta faixa é uma SUÍTE “SOUL/FUNK com percussão latina mesclada ao JAZZ. Verdadeira FUSION dançante, com faixas ininterruptas e interligadas. E tocada pelos magníficos e precisos “FUNK BROTHERS”, à época a banda principal da gravadora “MOTOWN”; portanto, garantia de excelência. As três faixas restantes esbanjam qualidade e ritmo, com destaque para a melhor de todas: “RIGHT ON”, um show!
O álbum é pequeno inventário dos desencantos e desesperanças. Observação da violência e das iniquidades da sociedade americana, misturadas a um tom espiritualizado típico da melhor BLACK MUSIC feita no “HOSPÍCIO DO NORTE…” OOOPPPS, nos ESTADOS UNIDOS A AMÉRICA!
MARVIN canta sobre desemprego, inflação e a crise econômica da época. Cita, inclusive, a poluição, a superpopulação e outros temas candentes, e cada vez mais preocupantes e onipresentes, ligados à ECOLOGIA. Ele constata o racismo, a violência policial, o ódio e as injustiças contra os pobres e, principalmente, contra os pretos.
O álbum também chama a atenção sobre aqueles que lutaram guerras para nada. Que tal recordar um filme com TOM CRUISE chamado “Nascido em 4 de Julho? Pois bem, “MARVIN GAYE” é um preto que entendeu o drama daquele “branco” aleijado e descartado, o personagem de CRUISE, que a seu modo interpreta um deserdado da utopia americana, e sentiu as iniquidades da sociedade que o usou e o abandonou, como faz com incontáveis…
Pois, é! Acontece com a maioria dos pobres. E muitos e muitos pretos pobres, e pobres e pretos, que também viraram buchas de canhão nas constantes guerras do Império americano mundo afora…
MARVIN GAYE CANTOU A AMÉRICA NUA E CRUA SOB A PERSPECTIVA DOS PRETOS! Mesmo que os temas das letras magistralmente compostas por ele e “RENALDO BENSON”, um dos exuberantes vocalistas do “FOUR TOPS”, já houvessem sido expostos quando ele foi gravado.
Os tempos de TRUMP, a radicalização política à direita, e a recorrente violência contra os pretos, e o recrudescimento do racismo mundo afora, elevaram o disco ao status alcançados. Por isso tudo, os passos que a HISTÓRIA abriga tornou o disco mais relevante, a cada dia.
A premiação recebida é, também, uma reação cultural ao ultraconservadorismo excludente desses tempos de ignorância, falta de compaixão e pouca empatia. WHAT´S GOING ON é disco de altíssima relevância artístico – social. E traz canções perfeitamente apreciáveis 50 anos depois. Um verdadeiro marco.
Mas, não promoveu a REVOLUÇÃO ou inovação na estética musical, como fizeram os BEATLES, em “SARGENT PEPPERS”. E isto parece claro.
Por isso, eu mantenho dúvidas de que seja o melhor disco da história do POP. Se é que isto realmente existe… A revista RECORD COLLECTOR faz listas anuais por gêneros, estilos, etc., o que é mais realista, perspicaz e “mensurável”.
Seja como for, é obra que sempre estará entre as dez melhores. E a sua história e peripécias acompanharemos por muito tempo.
Ouçam e tenham na discoteca: é mandatório.
POSTAGEM ORIGINAL: 03/10/2020
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