Tempos atrás, passei horas escutando este box de minha coleção. Ele está comigo há duas décadas ou mais e, confesso, nunca dei muita bola.
Dia desses, comentei que o REGGAE e estendo para a música jamaicana em geral, como o SKA, DUB, ROCK STEADY… são de chatice abissal.
Minha opinião não mudou muito, porém quando se escuta em sequência e sob uma perspectiva histórica, outras nuances e características vêm à tona.
O “BOX” tem quatro CDS e abrange de 1958 até 1993. Portanto, a nata do que foi criado no gênero está contemplada.
A música jamaicana melhora bastante a partir dos anos1970, com estúdios de gravação melhores e músicos mais refinados. O resto, é questão de gosto.
E se escuta nitidamente quando gente como SLY DUMBAR E ROBBIE SHAKESPEARE introduziram maior qualidade ao GÊNERO, com baixo e bateria mais pesados, variados, negros e dançantes, em meados dos 1980.
A coleção neste box é muito bem organizada, com ótimo livreto explicativo e interpretativo e, mesmo pegando em sua maior parte o acervo da GRAVADORA ISLAND, fica nítida a evolução dos diversos estilos, que mantêm como cerne o ritmo e a característica base de guitarras. O que nos dá a permanente sensação da unidade, um tanto óbvia e previsível, atravessando desde a transformação de um RHYTHM´N´BLUES quase tradicional americano; e caminhando lentamente para os ritmos jamaicanos e suas derivações. Tudo é dançável, festeiro, CLARO!l!
São 95 músicas, entre elas o primeiro grande HIT INTERNACIONAL que notei, o excepcional e até hoje delicioso e animador de festas “MY BOY LOLLIPOP,” um SKA cantado por MILLIE SMALL, no início dos anos 1960!
Tem “ISRAELITES”, com DESMOND DEKKER, mega hit em 1968; há “THE HARDER THEY COME “, com o lendário JIMMY CLIFF, quase hino de 1972. Está lá, também, “NO WOMAN NO CRY”, com BOB MARLEY, gravação ao vivo de 1975, em show histórico em Londres, entre tantas várias.
E não se pode esquecer que I SHOTT THE SHERIFF, com ERIC CLAPTON, que obviamente não está na caixa, trouxe o REGGAE para o público do ROCK. E daí em diante, a porteira se abriu!
Nos anos 1980, a MÚSICA JAMAICANA tomou conta das pistas de dança mundo afora. E frequentou inclusive FESTIVAIS DE JAZZ, ao redor do planeta. Os mais velhos talvez se recordem do “histórico e histérico” show de PETER TOSH, no FREE JAZZ FESTIVAL, de SAMPA!
Na época, a REVISTA ISTO É observou que o público presente havia FUMADO UM ALQUEIRE DE MACONHA durante o evento…
Mas, hoje não é somente a música que surgiu na JAMAICA. Se dermos olhada no cenário político, ele expandiu-se quando a globalização econômica e o multiculturalismo se tornaram presentes ( e até hoje ). E, com eles, eclodiu a chamada WORLD MUSIC, denominação para artistas de várias culturas, nacionalidades e localidades colocarem seus trabalhos para o mundo observar e consumir.
De BOB MARLEY a EGBERTO GISMONTI; de MILTON NASCIMENTO a GILBERTO GIL – o nosso REGGAEMAN! -; De NUZRAT FATEH ALI KHAN e FELA KUTI, a incontáveis músicos africanos, do leste europeu e Ásia todos tiveram sua hora.
A MÚSICA JAMAICANA têm DNA forte e identificável. Se olharmos de perto o BLUES e o SAMBA, percebemos que são vastos e característicos, também.
É impossível deixar de observar que, de certa forma, as tendências musicais desse…digamos… VASTÍSSIMO CARIBE , que vai do GOLFO DO MÉXICO à BAHIA, e passando por tanta coisa díspar e diferente, tem em comum um senso de ritmo dançante e sensual, e se comunica intensamente.
Do REGGAE ao AXÉ e o FORRÓ; da GAJIRA à CUMBIA, e etc.. são ritmos que põem o povo pra dançar, e ajudam a congregar pessoas e culturas.
São notáveis algumas técnicas e tecnologias para respaldar a diversão. O “SOUND – SYSTEM”, por exemplo, inventado nos anos 1950, nada mais é do que um D.J. com PICK UP ou CD PLAYER cercado por amplificação e caixas. É tocando em cada esquina da JAMAICA, e se comunica com as RADIOLAS do nordeste, e com os TRIOS ELÉTRICOS BAIANOS.
SÃO TECNOLOGIAS A SERVIÇO DA “MAGIA CULTURAL” PARTICIPANTE.
Em resumo: se a música jamaicana tem pouco a ver comigo; é muitíssimo desejada e curtida em todo o PLANETA TERRA ( quem sabe em outros, também… ). No gênero, tenho certeza de que este BOX histórico é excelente pedida. Um ótimo guia para começar a colecionar os vários subgêneros – que é repleto de discos raríssimos e muito disputados internacionalmente.
Portanto, divirtam-se e respeitem os “Januários” do Pop!
