STEVIE RAY VAUGHAN & DOUBLE TROUBLE, NAS MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE “MALÍCIAS” – O TIO SÉRGIO…

Tarde incerta em 1987, fui ao centro velho da cidade para fechar a venda de um imóvel. Era uma boa propriedade, no Paraíso, ótimo bairro de SAMPA.
Um dos vendedores representava mais uns quatro ou cinco, e as reuniões foram com ele. Boa gente, mas chatinho ao limite da exaustão mental. Ele vendia selos e moedas para colecionadores. Detalhista, voz chata e monocórdica feito mantra num templo TIBETANO – não confundir com a SIMONE TEBET… -; o cara perguntava, truncava, voltava, e não definia…Voltei lá umas três vezes até resolver.
Feito; ele propôs “TOMAR UM NEGOCINHO” pra comemorar. E sacou uma garrafa de WHISKY DRURYS, monumento da infâmia etílica brasileira, e atentado contra o aparelho digestivo de algumas gerações de brasileiros daqueles tempos…
Por sorte, colocou dois copinhos molambentos, e sem gelo despejou o “limpador de privadas”: Tomamos em gole único!
Saúde! Disse o cara… Duvido, pensei eu…
Ele perguntou o que eu iria fazer em seguida. Eu disse que, dali, daria uma passada no MUSEU DO DISCO, ainda loja ícone que ficava nas imediações. Fui ver as novidades…
E o chato arrematou pra fora: “nem recebeu a comissão e já vai gastar por conta?” Rimos. Eu de raiva, e ele porque era um chato mesmo…
E foi naquela tarde, no MUSEU DO DISCO, que vi e ouvi discos de STEVIE RAY VAUGHAN pela primeira vez. Estava rolando no PICK UP o TEXAS FLOOD, de 1983. Fiquei fascinado!
Eu sempre gostei de HARD BLUES, BLUES ROCK e imediações. E, no final da década de 1980, acontecia um REVIVAL de BLUES mundo afora. E graças principalmente ao chamado TEXAS BLUES, estilo em que as guitarras são o foco. Solos espetaculares, muito balanço, sensualidade, swing; e tudo o que tornou BLUES uma festa por gerações várias.
Vou contar mais um pouco:
O VINIL ainda imperava, e o MUSEU estava lançando com exclusividade no BRASIL, em acordo com a CBS – COLUMBIA, os três discos feitos por STEVIE RAY VAUGHAN & DOUBLE TROUBLE.
Trio integradíssimo, tanto profissional como pessoalmente, tocavam quase por telepatia. O baixista TOMMY SHANNON, a bateria de CHRIS LAYTON e a guitarra mágica de STEVIE fizeram a turma do ROCK, e um cenário nascente de BLUES por aqui vibrar.
Resumo da tarde: comprei os três LONG PLAYS, e fui pra casa ouvir e comemorar tomando umas cervejas.
É impossível dizer qual dos três discos é o melhor. Tanto “COULN´T STAND THE WEATHER”, 1983; ou “SOUL TO SOUL”, 1985, estão em mesmo nível do primeiro. Eles fizeram outro álbum de estúdio, em 1989, “IN STEP”, lançado depois de um período inativo de STEVE para tratamento contra o uso de drogas.
STEVIE RAY tinha 1.65m de altura. Era um baixinho de voz BLUESY, intensa, afinada e adequada para o estilo. E guitarrista “divino infernal” e muito criativo! Foi indicado 12 vezes ao GRAMMY. Levou SEIS!!! Ele está, é claro!, no “BLUES HALL OF FAME”.
Além de BLUES, ele gravou com JACKSON BROWNE e DAVID BOWIE – que, todo mundo sabe, cheirava talentos e hipóteses de utiliza-los independentemente de qual estilo proviessem…
STEVIE RAY VAUGHAN é de uma geração posterior a
ERIC CLAPTON, BECK, PAGE, JOHNNY WINTER, MIKE BLOOMFIELD, e vários.
Então, além de CLÁSSICOS DO BLUES GUITAR, como ALBERT KING, BUDDY GUY, FREDDIE KING e ALBERT COLLINS, a estirpe que mais diretamente o inspirou; ele observou bem HENDRIX, e se percebe uma garoa forte de ROY BUCHANAN e LONNIE MACK em sua levada e jeito de tocar.
Uns quinze anos atrás, por aí, a SONY lançou, inclusive no BRASIL, esse BOX da foto, com os três primeiros álbuns dele. Edição à época barata, CDS remasterizados acrescidos com faixas bônus. Há no exterior o excelente “STEVIE RAY VAUGHAN AND DOUBLE TROUBLE” LIVE AT CARNEGIE HALL, gravado em 1984, e lançado em 1997. Há “otras cositas mas” pelaí. Porém, o sumo desse artista fantástico está aqui.
Em 27 de agosto de 1990, depois de um show e sob tempo ruim, STEVIE RAY aproveitou lugar no helicóptero que levava a equipe técnica de ERIC CLAPTON – que já flertou com a morte várias vezes. Mas, naquele dia escapou por sorte e acaso, porque embarcou em outro aparelho.
Sob nevasca, o piloto dirigiu o helicóptero para o lado oposto, chocou-se com uma pista de SKI, e todos morreram!
STEVIE RAY encerrou a carreira cedo demais, e possivelmente por causa de negligências. O DOUBLE TROUBLE, consternado, entrou em crise por algum tempo. Hoje, acompanham o guitarrista NUNO MINDELIS, um ótimo BLUESMAN moçambicano bem conhecido por aqui.
Sobre o cliente chatinho nunca mais tive notícias. Mas, de alguma forma ele me jogou nos braços de STEVIE RAY VAUGHAN. Então, uma dose de “OLD EIGHT” pra ele!!!
POSTAGEM ORIGINAL:30/07/2023
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