Dia desses, vi o moço e banda na televisão. Gostei; e resolvi tentar.
GREGORY PORTER está por aí faz um bom tempo. E faturou GRAMMY, em 2014, por seu álbum LIQUID SPIRIT. Foi premiado na categoria de melhor cantor de JAZZ.
JAZZ? Eu acho que não é.
Coisa imprecisa e irritante nos tempos atuais, é classificar qualquer música que tenha arranjos mais elaborados, usem instrumentos presentes na tradição jazzística, e sejam tocados de maneira similar ao “JAZZ”, como sendo verdadeiramente JAZZ.
Nem tudo; pensando melhor, quase nada é JAZZ. Venderam também a BOSSA NOVA como JAZZ. E ela não é; ainda que música de alta qualidade, portanto “jazzificável”… BOSSA NOVA é MPB.
GREGORY PORTER não canta JAZZ, mas RHYTHM ´N´BLUES, o popular R&B. Ele é bom e versátil cantor, e tem iniciativas e estratégias de repertório muito adequadas. Está dentro da tradição da melhor música negra – ooopss!, melhor dizer BLACK MUSIC americana.
Ele vem bem acompanhado por banda competente e integrada. E TIVON PENNICOTT, o sax tenor, é muito bom; com fraseado elegante, pessoal, inteligível e cheio de balanço. Ouvir GREGORY é muito agradável. Mesmo ele tendo sutis deficiências nos registros baixos, e pouca extensão de voz para tentar alcança-los.
Paciência; porque isto não o diminui. Apenas o torna um cantor um pouco menos interessante do que supõe-se que seria… Ele é BARÍTONO. Vai bastante bem em registros médios, e atinge fácil o TENOR.
STILL RISING, CD DUPLO lançado pela UNIVERSAL mundo afora, através do selo BLUE NOTE ( que não se perca pelo Status ), saiu também no BRASIL.
É um projeto bem pensado. O primeiro disco é coletânea de sucessos e melhores faixas. E PORTER segura o jogo em repertório com várias possibilidades do R&B, e da SOUL MUSIC MODERNA.
Estão por lá, inclusive, surpresas como “WHY DOES MY HEART FEEL SO BAD, música do famoso D.J. MOBY; além de faixas acompanhadas por ORQUESTRA. Tudo é adequadamente produzido e cantado. GREGORY foge do açucarado nas músicas românticas. E o jeito NEGÃO de cantar cobre legal as faixas mais ritmadas e dançáveis.
O segundo disco é, também, surpresa interessante. Virou prática na indústria da música pegar um artista de sucesso e testa-lo em duplas com outros artistas – mortos ou vivíssimos. E, também, em repertórios além do encontrado em seu estilo habitual.
Eu acho muito bom, porque expõe os limites e as potencialidades; e de alguma forma renova em tempo real o próprio artista. Aqui há outra música dele e MOBY; e duplas com gente atual: JAMIE CULLUM, PALOMA FAITH, RENÉE FLEMING, LAURA MVULA, a para mim desconhecida e impronunciável TRIJTJE OOSTERHUIS. O venerável violoncelista YO YO MA também contribuiu refinando PORTER um pouco mais ainda.
Muito legais são as duplas com “de cujos” famosos. GREGORY foi bem com ELLA FITZGERALD, BUDDY HOLLY, JULIE LONDON, NAT KING COLE e DIANE REEVES. Ressuscitou defuntos célebres, eternamente insepultos. O NEGÃO mostra talento, versatilidade, bom gosto e competência cantado com todos.
O seu estilo de cantar é influenciado por gente do naipe de RAY CHARLES, DONNY HATHAWAY, BILL WITHERS e, acrescento eu, GIL SCOTT- HERON e BOBBY WOMACK. Tudo fica mais nítido enquanto ouvimos.
Outro disco agradável e bem feito por GREGORY PORTER é “NAT KING COLE & ME”, também lançado pela BLUE NOTE, em 2017.
Achei as versões muito boas, porque fogem do jeito de cantar do grande NAT COLE, e de seus contemporâneos JOHNNY MATHIS e EARL GRANT: aquele “algo mais exótico, tipo um certo branqueamento” da VOZ NATURAL da maioria dos PRETOS.
GREGORY mantém o jeitão mais R&B, e o resultado é uma atualização dos clássicos para os tempos correntes. Ele é acompanhado pela LONDON STUDIO ORCHESTRA, regida por EVERTON NELSON, que emula o estilo do grande maestro e arranjador alemão CLAUS OGERMAN. Os que ouviram as orquestrações que ele fez para TOM JOBIM, JOÃO DONATO, e DIANA KRALL entenderão.
Aqui, a orquestra soa “ao POP romântico” e algo açucarado dos tempos áureos de COLE, MATHIS, etc. Agradará aos mais velhos e saudosistas; e, também, a turma que aprecia BLACK MUSIC artística, melódica e mais tradicional.
Tente. É interessante e bonito!
POSTAGEM ORIGINAL: 05/08/2023

POSTAGEM ORIGINAL: 05/08/2023
