VANGUARDA PAULISTANA DE “ONTEM”? – HOJE, PÔ!

 

Fala sério, Tio Sérgio! Se é VANGUARDA não pode ser de ontem, tem de ter uma certa perenidade peripatética, pô!

Seria?

É argumento possível que nem tudo se pereniza, e o que foi significativo ontem não necessariamente se derramou sobre os dias de hoje, ou terá relevância no futuro.

Tá; mas se é bom, se permeou o tempo com significados, é muito provável que tenha deixado rastros e raízes.

Falo aqui da chamada VANGUARDA que se instalou e se expressou no TEATRO LIRA PAULISTANA, nos 1980, em São Paulo. E de lá teceu artes, criou portas, que se abriram, lógico…e deram, entre outras coisas, nesse disco, décadas depois.

Estou comentando isso, porque no mix bêbado da trilha sonora que está rolando, hoje, há um CD GRAVADO AO VIVO, no SESC POMPEIA, também em SAMPA.

São três artistas de VANGUARDA: ARRIGO BARNABÉ, LUIZ TATIT e LÍVIA NESTROVSKI, com e o nome do disco é instigante “DO NADA MAIS A ALGO ALÉM”:

A frase é bem paulistana, e está em ANO BOM, canção emocionante que talvez deva ser interpretada como alento para sofridos quase conformados; e que encontram, de repente, a oportunidade para voltar a perscrutar a hipótese de ser feliz com alguém.

É canção de amor não linear.

Aliás, como é todo ato que expresse um afeto motivador para se construir um relacionamento emocional significativo; e talvez uma situação para amar; ou mesmo o amor.

Papo de urubu?

Pode ser. Mas, é melhor do que papo de Urutu, aquele veículo blindado que o Brasil produzia…

A maioria das letras no disco são de TATIT; E a maior parte das música são de ARRIGO.

E, ambos, apesar de coetâneos e contemporâneos, nunca haviam composto juntos. Há, também, parcerias com NÁ OZZETI e ZECA BALEIRO;

E JOSÉ MIGUEL WISNIK – que também escreveu o texto de apresentação, com a precisão sofisticada de sempre. Uma aula de como “ver” e “ler” o que as músicas nos mostram.

O disco, claro, é musicalmente belíssimo!

Estão nele, os vários arranjos de ARRIGO BARNABÉ, que também empresta sua “VOZ algo BLUESY meso pós PUNK”, como as intervenções de ELVIS COSTELLO, em discos “melhores” do que a voz dele permite, dando um sabor entre o convergente e o destoante no projeto.

E há LÍVIA NESTROVSKI, e seu cantar dinâmico, preciso, em clara e linda voz; e o canto correto e interpretação sensível de TATIT.

Todos juntos acompanhados por músicos como o guitarrista MÁRIO MANGA; o cantor RENATO BRAS; o baterista EDU RIBEIRO e o pianista PAULO BRAGA. Gente acostumada com a música de vanguarda…

Tudo considerado, ficou bom; muito bom!

Mas, se quiser compreensão imediata, mensagens diretas e simples, emolduradas por arranjos óbvios e decifráveis no ato, o disco não é para você.

Essa verborragia toda que depus, a mim parece definir um jeito paulistano de se expressar. Eu falo demais; sempre buscando dizer com o máximo de precisão o que penso, sinto ou percebo.

A maioria das pessoas que conheço também fala demais!

E nesse disco também se fala demais!

Agora, por que essa turma tão encastelada veio parar aqui nesse texto? É o contexto? talvez pretexto?

Foi principalmente por causa de uma estrofe, na música BABEL:

“Ser humano é tudo igual;

É bom, mas é falho;

Ser humano é cerebral;

Cerebral, o caralho!”

Nítido e verdadeiro!

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