Em tudo o que se faz é aconselhável acrescentar empenho e prazer; impor certa volúpia controlada para que dê mais certo e valha a pena realizar.
Claro, eu não falo com sádicos, torturadores, assassinos, e “que tais”. Então, porções de prazer são sempre bem-vindas. Na apreciação de artes, principalmente!
Escrevendo, ouvindo, lendo e conversando criei frase que sempre cito: “GOSTO, MAS NÃO PREFIRO”. Foi mais ou menos a minha relação com ARETHA LOUISE FRANKLIN, e as cantoras de R&B, POP, SOUL e BLUES mais extrovertidas.
Eu não gostava dos excessos minuciosamente perpetrados por ARETHA, para evidenciar a potência e alcance de sua extensa, bela, educada, cristalina e nítida voz.
Pensando e ouvindo melhor, ARETHA cantava, e sempre cantou bem. Aliás divinamente bem, e de maneira perfeita, quaisquer estilos a que se dedicou. Ela singrou por vários. E arrasava tecnicamente: sua voz alcançava do agudo extremo ao grave; tinha ritmo e timing precisos; e muito senso melódico.
Um resumo adequado para o currículo dessa verdadeira DIVA, que morreu aos 76 anos, é afirmar que foi legítima sucessora, e está no mesmo time que ELLA FITZGERALD, SARAH VAUGHN, BILLIE HOLIDAY e DINAH WASHINGTON. Tá; TIO SÉRGIO admite: elogio pouco é bobagem….
ARETHA gravou 11 LONG PLAYS, à partir de 1961, para a COLUMBIA RECORDS. Discos vigorosos de RHYTHM”N”BLUES, com a verve jazzística da transição entre a década de 1950 para a de 1960. Seu “THE ELECTRIFYING”, de 1962, é ótimo. Mas, “UNFORGETABLE, A TRIBUTE TO DINAH WASHINGTON”, 1964, é essencial!!!!
A voz espetacular de ARETHA FRANKLIN foi devidamente “amoldada” para manter as características essenciais do canto GOSPEL. Partiu do RHYTHM´N´BLUES clássico, eivando paulatinamente de sensualidade discreta a música negra americana, e transitando para a SOUL MUSIC.
SOUL tornou-se a denominação pela qual parte do R&B foi batizado lá por 1960, e dali em diante. E ARETHA tornou-se a grande voz feminina do novo “subgênero”.
Porém, ninguém troca de gravadora para repetir-se. E a mudança de ares foi essencial para reposicionar seu talento único.
ATLANTIC RECORDS foi criação de dois turcos, os irmãos AHMED e NESUHI ERTGUM, que tinham uma coleção com mais de 15 mil discos de 78RPMs!!!!. Juntos com o “judeu”, HERBIE ABRAHANSON, em 1947 fundaram uma das gravadoras mais importantes da história. Os três eram amantes de JAZZ e R&B!
Quando ingressou na ATLANTIC, em 1967, ARETHA FRANKLIN era mulher e artista madura. E, por lá gravou 24 LPS, até 1979. Foi a sua fase de maior sucesso, em aproximação sucessiva com a POP MUSIC daqueles tempos.
A extroversão vocal também era característica da época. Lembram-se de JANIS JOPLIN? Ela e ARETHA brilharam em paralelo. JANIS de certa forma preencheu o espaço deixado por ARETHA na COLUMBIA RECORDS. E as duas se modernizaram simultaneamente, satisfazendo o gosto do público jovem também chegado ao ROCK.
O repertório, na ATLANTIC, é coalhado por HITS, como “THINK”, “RESPECT”, “DO RIGHT WOMAN, DO RIGHT MAN”, “SPIRIT IN THE DARK” e, também, uma série de clássicos e standards da BLACK MUSIC.
No BOX ORIGINAL ALBUM há os 5 principais discos para a ATLANTIC. Estão aqui postados; inclusive, ARETHA LIVE AT FILLMORE WEST, onde mostra toda garra e energia que liberava gravando ao vivo. Inclusive “vertendo” para “SOUL” músicas como “BRIDGE OVER TROUBLED WATERS”, sucesso marcante da época com SIMON & GAARFUNKEL. E “MAKE IT WITH YOU”, baba POP do pegajoso e competente grupo BREAD. Para variar, o ritmo e principalmente o andamento são esfuziantes!
A gente também percebe nos discos de ARETHA o que rolava por aqueles tempos. Ela gravou compositores da estatura de BURT BACHARACH, de quem fez versão para “I SAY A LITTLE PRAYER”. E outros HITS atemporais, como “GROOVIN”, grande sucesso dos RASCALS, também contemporâneos e colegas na ATLANTIC RECORDS.
ARETHA era boa pianista e tocou em diversas gravações. Sempre foi acompanhada por time invejável de craques. Músicos como o baterista ROGER HAWKINS; o baixista JERRY JERMMOTT; o saxofonista KING CURTIS; e até o guitarrista DUANE ALMANN estiveram presentes.
A produção esmerada de JERRY WEXLER, e a qualidade técnica das gravações dirigidas pelo engenheiro TOM DOWD, tornou o elenco e discos da ATLANTIC sucesso artístico e comercial.
ARETHA FRANKLIN reinou por lá até assinar com a ARISTA RECORDS, em 1980. O disco JUMP TO IT, 1982, é uma atualização do R&B com pitadas de FUNK, e alguma FUSION jazzística na instrumentação.
Para variar … , traz muito balanço; e produção primorosa, desta vez de LUTHER VANDROSS, outro que espocou na década de 1980, e conseguiu manter-se.
Li, por aí, que ARETHA intimidava ERIC CLAPTON, que a reverenciava a ponto de quase travar quando perto dela!!!!
Ao mesmo tempo, ARETHA foi ícone e artista imensa e cidadã exemplar – muito presente e ativa em movimentos para os direitos civis, nos EUA. Claro, isto potencializou sua fama e importância além música.
ARETHA FRANKLIN recebeu 18 GRAMMYS!!!! Isso mesmo! E vendeu 75 milhões de discos. Eu espero que esteja arrasando no céu com outros “anteriormente convidados”.
HOJE, EU “GOSTO E PREFIRO” ARETHA, A INSUBSTITUÍVEL!
POSTAGEM ORIGINAL:: 24/08/2022

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