Sempre a curiosidade. Inimiga da monotonia e da repetição, mas desafiadora do bom senso e da auto-contenção.
Caçando discos no MERCADO LIVRE, pois o CORREIO cassara minha tranquilidade, porque eu sempre fora previamente avisado da chegada de meus … humm… “stuffs”… e, agora não mais… OOOPS…, parece que voltaram a notificar…
Mas, já aconteceu do “MAIL NACIONAL” devolver Europa adentro as compras que fiz. Fiquei surpreso e indignado, mas adequei-me ao novo método da estatal, que mescla vagabundagem com economia porca em prejuízo da clientela. Paciência sem resignação; mas, fazer o quê?
Então, fiz.
Procurando alguns itens de JAZZ e MÚSICA MAIS SOFISTICADA, tentei encontrar discos da GRAVADORA ECM. Achei vários; e nada baratos. Ouvi apenas um deles, que juntei à foto na expectativa de um possível mix artístico-conceitual para um comentário.
Sei lá se consegui…E aqui vai a falta de auto-contenção.
A ECM tem uma série de CLÁSSICOS MODERNOS buscados nas fronteiras da música ocidental. E, como sempre, em nível máximo.
A enorme fama do estoniano ARVO PART foi levantada por MANFRED EICHER e sua turma, que lançou incontáveis obras do, hoje, mais executado compositor contemporâneo.
PART começou “SERIAL – DODECAFÔNICO” e foi nada sutilmente “analisado” por um “COMISSÁRIO-CRÍTICO-CULTURAL” da próspera e desenvolvida Estônia dos anos 1950.
A obra dele foi incluída no “Index” como “ocidental e decadente”. E teve a carreira retardada por aquela gente aberta e progressista…
Em 1980, desentendeu-se de vez com os soviéticos e o governo. Então, saiu do país, instalou-se na SUÍÇA, e de lá foi para o mundo. Ele é cristão e sua arte exala isto…
A música de ARVO PART não é nacionalista; não se inspirou no folclore e raízes de seu país. Ele faz MÚSICA ATEMPORAL, um arco incandescente unindo ideias do presente, passado e o “do futuro”, também!
ARVO foi inspirado pela MÚSICA RENASCENTISTA e no CANTO GREGORIANO. E construiu dentro do MINIMALISMO um estilo que batizou de “TINTINABULI” – algo como “o soar dos sinos”…
Ele trabalha na linha de PHILLIP GLASS, STEVE REICH e GÓRECKI, compositores criativos contemporâneos.
A música de ARVO PART é uma “hipnótica espiral descendente” cuidadosamente construída – se me faço compreender. É de beleza total!
Procurem o disco “TABULA RASA”, lançado pela ECM, em 1984. Escutem a versão com o violinista GIDON KREMER e dois outros músicos. Lá você verá o que é e como se toca e “aplica” um “PIANO PREPARADO”. Emocionante!
Falando de fronteiras e religiosidade; e de estar só num mundo isolado e limítrofe com outras culturas, vamos a um achado instigante e único:
A ARMÊNIA FOI O PRIMEIRO “ESTADO” QUE ADOTOU O CRISTIANISMO COMO RELIGIÃO. Foi no ANO DE 304!
E os armênios foram os primeiros a construir uma linguagem de notações musicais! É isso aí, caras! Há composições do século X que sobreviveram e são executadas até hoje, porque escritas, notadas!
É um povo profundamente religioso, mas isolado dos países cristãos, e muito perto dos muçulmanos. Estão na fronteira cultural OCIDENTE-ORIENTE.
A MÚSICA CLÁSSICA deles abarca elementos de CANTOS GREGORIANOS, e se combina aos folclores local e dos vizinhos. O resultado é sonoridade exótica, e muito particular.
Aqui há dois discos que exploram exatamente isso, lançados pela excepcional gravadora “CELESTIAL HARMONIES”.
E também há outro da ECM, com música do armênio TIGRAN MANSURIAN, gravada pelo ARMENIAN CHAMBER CHOIR cantando poemas desse compatriota moderno.
Aliás, é outro disco que comprei porque não estava caro. Escuta-lo fez – me pensar, e remeteu-me à IMENSA RIQUEZA QUE O MULTICULTURALISMO oferece, em oposição ao nacionalismo rústico e impeditivo.
Em fevereiro de 2020, assisti pela TV a um concerto gravado na Espanha com o maestro sul-coreano “MYUNG – WHUN CHUNG” regendo a “ACADEMIA NAZIONALE DE SANTA CECILIA” (italiana), e tocando adivinhem quem?
ARVO PART.
Somatória multicultural magnífica e instigante!
TIO SÉRGIO recomenda efusivamente!
Publicação original em 23/01/2020
