Vou escrever sem pensar, apenas usando a memória e justificando emocionalmente os porquês!
Vou errar, mas quem disse que, naqueles tempos, tínhamos a informação mais correta, ou a percepção mais adequada? Certamente, eu não tinha…
Vou na raça.
BARULHO?
Sim, ROCK sempre foi música barulhenta, mas piorou e muito, em meados dos 1960, quando implementaram de vez os DISTORCEDORES para as GUITARRAS, e as técnicas de amplificação evoluíram demais….
Minha catarse número 1?
“I FEEL FINE” com os BEATLES! A primeira música “YARDBIRDIANA” DO ROCK, 1964.
Seria?
Ou teria sido “YOU REALLY GOT ME”, com os KINKS?
Mas, esta não vale, porque “simplesmente” KINKIANA!!!
Não importa. Quando ouvi o compacto dos BEATLES, na casa de um amigo antes de a gente sair pra jogar bola na rua com a molecada. Eu quase caí de costas!
Depois, uns três anos, consolidei meu desvario com “Mr. YOUR´RE A BETTER MAN THAN I” com os YARDBIRDS, original de 1965, e JEFF BECK dizendo a quê veio antes de HENDRIX e tudo o mais.
Foi por aí! Era o BEAT virando PSICODELIA; abandonando, aos poucos, o “ROCK AND ROLL”, para ser chamado apenas de ROCK!
Nesse ínterim, muito FERRO, FOGO e BARULHO foi rolando, tornando-se cada vez mais pesado!
Acho que minha conversão total foi no começo de 1968, quando comprei compacto do BLUE CHEER, que saíra no Brasil.
Um escárnio monumental; BARULHO AMPLIFICADO e decorado pelo nascimento do “VOCAL GALINÁCEO”, que PLANT, OZZY, GILLAN, NODDY HOLDER e vasta “sequela” tornaram hábito e vício, dali em diante….
E tudo isto expelido pelo raro e precioso DICK PETERSON, baixo e vocal do BLUE CHEER, e talvez o DECANO DA GRITARIA BRANCA!
Quem acha que “SUMMERTIME BLUES” é o fino com EDDIE COCHRAN, ou com THE WHO – e, É!!!! -; não sabe o que é ICONOCLASTIA, e GRITARIA. Esta é, de longe, a melhor e mais violenta versão que já fizeram desse clássico. É um aperitivo da fúria que o BLACK SABBATH encarnaria, pouco tempo depois.
O lado B? Bem, é um primor do ROCK PSICODÉLICO: “OUT OF FOCUS”! BARULHO BRANCO e quase non-sense instrumental. Arrisque e tape os ouvidos!
O restante veio depois.
CLÁSSICO!
LED ZEPPELIN 1? Tá; vai de “COMMUNICTION BREAKDOWN”. Também em SINGLE por aqui, em 1968!
Porém, a catarse definitiva veio quando ouvi no rádio WHOLE LOTTA LOVE, enquanto jogava futebol de botão com o BETÃO, meu primo querido. Foi em 1969.
Caímos de costas!!!! Aquilo, sim, era HARD ROCK!
Nós aguardávamos um jogo do CORINTHIANS contra o SANTOS; e nem lembro qual foi o resultado…
Logo depois, uma de minhas paixões irrefreadas ( hummm). Consegui comprar com o meu amigo SILVIO, o LP de LORD SUTCH AND HEAVY FRIENDS, em 1970! Imaginem: BECK, PAGE, NOEL REDDING, JOHN BONHANN, NICK HOPKINS, entre outros, acompanhando um “LUNÁTICO ERRÁTICO INVEROSSÍMIL”:
LORD SUTCH, em um CLÁSSICO DO ROCK. Disco ciclotímico, não compreendido na época, e ainda contestado, mas ROCK PESADO na veia, e direto.
Coloquei na foto o BLACK SABBATH, principalmente por PARANOID, clássico dos clássicos, impossível de não curtir detonando ouvidos, inclusive as dos meus dos meus pobres pais: BARULHO BRANCO, com morcegos ao molho pardo!!!
Fui declarado “PERSONNA NON GRATA”, em minha. E tal opróbrio levou tempo para ser corrigido em meu prontuário…Se é que foi….
PARANOID foi mais um prego no caixão do ROCK bem comportado!
Ao menos para mim, DEEP PURPLE IN ROCK é um monumento ampliado, e refinado de tudo o que descrevi. Um BLEND ENVELHECIDO EM MADEIRAS, CORDAS, E COURO. E muito BARULHO!
HARD ROCK e HEAVY METAL, com tempero do ROCK PROGRESSIVO.
O PURPLE carrega um clima “LÚGUBRE, BRITÂNICO, ALGO SOMBRIO” dificilmente igualado em quaisquer discos que tive contato.
É o ROCK PESADO INGLÊS com a cara molhada e fria, daquela ilha úmida. Não há pontos luminosos ali. E só músicas legais!!!
De “SPEED KING” a “HARD LOVING MAN”, inexiste paz; mesmo que haja certa reflexão sombria em “CHILD IN TIME”. E tudo retorna sem folga para respirar, em “FLIGHT OF THE RAT”, ou “INTO THE FIRE”. É um disco DARK, mesmo quando tocado em países solares como o Brasil.
Para culminar o INCÊNDIO SONORO CRIMINOSO, vou contar sobre o estrago que eu e amigos fizemos em churrasco na casa de um deles, filho de juiz de direito. Foi em 1973!
O bom e tolerante Dr. Alfredo Franco, convidou um montão de MERITÍSSIMOS para uma reunião entre civilizados e circunspectos senhores e senhoras.
Tudo corria conforme a SENTENÇA PROLATADA. Até que nós, os macacos, levamos para o quintal o “móvel-vitrola”, e assolamos o “JUDICIÁRIO” com a nata do barulho da época!
Escalamos os já citados, e vários outros… indóceis ignóbeis…
Principalmente, um dos grandes monumentos à “PODREIRA ETERNA”, o imperdoável SLADE ALIVE!!!
Ecoou no purgatório, e a caminho do inferno!!! Asmodeu protestou em reunião de condomínio, “lá embaixo”…
NODDY HOLDER, o… digamos… cantor, entre arrotos, flatulências e gritaria incontida pôs pra correr parte da magistratura paulista! Todos fugiram para dentro da casa!
Foi um vexame!
E teve consequências. Meu amigo / irmão, FRED FRANCO JR., hoje doutor em medicina, ouviu o que não quis, e comeu o pão que os anjos impuseram por um bom tempo!
Nós, outros, frequentadores assíduos fomos incluídos nos sermões e outras sanções…
Aliás, os lançamentos desses discos todos aconteceram em meio à ditadura militar, nos governos Costa e Silva, e Médice.
E isso talvez explique parte da minha percepção, e inserção, no ambiente melancólico do melhor ROCK INGLÊS. Aqui, as coisas andavam pesadas.
E nós, jovens, também; mas já explodindo a tampa da panela de pressão …
