BECK: MUTATIONS, 1998 & SEA CHANGES, 2002.

OS DISCOS NEOPSICODÉLICOS DE UM ARTISTA ORIGINAL NO ROCK ALTERNATIVO.

BECK talvez desafiando a esfinge tenha proclamado: DEVORA-ME. EU TE DECIFREI!

Mas, tio SÉRGIO!!! Você bebeu e ouviu tudo errado de novo?

Quem sabe.

Afinal, uma resenha não é uma crítica. Não tem abrangência e nem pretensão.

Foca em algumas ideias que podem, ou não, refletirem parte do real analisado. É um pequeno sumário de hipóteses. Espécie de MICRO-ENSAIO sobre futilidades não cotidianas.

Conheço e tenho os discos da postagem desde o lançamento. Eles me interessam. Integram a coleção pela inquestionável qualidade, e até relevância histórica.

Ambos retomam o ROCK PSICODÉLICO dos anos 1960 em duas perspectivas que, penso, são complementares e inclusivas.

Em meados da década de 1990 ressurgiu, principalmente na Inglaterra, um movimento de recuperação da herança artística e despojos da PSICODELIA original.

A NEO-PSICODELIA foi assumida por bandas BRIT-POP como RIDE, THE VERVE, CHARLATANS (UK) , RAIN PARADE, entre vários. Há discos notáveis dessa gente toda.

BECK é americano, e talvez tenha fechado a tendência com esses dois discos. Mas, o fez “on his way”: MONTOU SABOROSAS SALADAS DE FRUTA À PARTIR DE UMA SALADA DE “TRETAS”.

MUTATIONS – 1998

Quando escutei identifiquei prontamente que ele fizera um disco sob a visível influência dos PSICODÉLICOS AMERICANOS.

Homenageou a turma do FOLK-ROCK; do COUNTRY – ROCK e os GARAGEIROS CULTS recuperados à partir do final dos 1970.

O início do disco tem gosto de JEFFERSON AIRPLANE; e um quê discreto de ELECTRIC PRUNES. Mas, o cerne é o BOB DYLAN ELETRICO, pós FOLK, enveredando para o COUNTRY ROCK (John Wesley Harding ). Há, também, tinturas dos BYRDS da mesma leva ( Sweetheart of the Rodeo ).

E a tudo isto se adiciona o LOVE, PEARLS BEFORE SWINE, e GENE CLARK – algo esmaecidos…

Mas, quando pensei que havia decifrado a esfígie, BECK entra com ‘TROPICALIA”, num misto inusitado de GILBERTO GIL E TOM ZÉ. E, não para por aí: surge um lusco-fusco de TOM WAITS, no vocal dele. E uma lembrança meio LED ZEPPELIN / YARDBIRDS – talvez ecos de “House of the Holly” .

Assim que o caminho parecia orientado, BECK faz aparição cantando feito RAY DAVIES. E culmina emulando SYD BARRETT!!!!

Se entendi o despiste, parte de DYLAN resvala em TOM WAITS, caminha para RAY DAVIES, e faz o rito de passagem para o SYD BARRET, do primeiro PINK FLOYD. Seria?

SEA CHANGES – 2002

É a sequência mais bem elaborada do MUTATIONS, a meu ver.

Um disco fundamental da primeira década do milênio.

O foco é a PSICODELIA INGLESA, onde até o “FLOWER POWER” é triste, desencantado, e lúgubre.! A Inglaterra é fria, pouco sol, chuva, nevoenta. Então…

Os mais otimistas, feito DONOVAN, também eram sorumbáticos.

BECK toma como base o PINK FLOYD , lado 2 do “ATOM HEART MOTHER”, a pegada FOLK PSICODÉLICA de “Summer 68”. A guitarra à DAVE GILMOUR transpassa o álbum todo.

Eu vejo traços de compactos PÓS-BEAT dos SEARCHERS. Quem puder escute “Second Hand Dealer”. de 1965. Há algo dos STONES buscado em “Dandelion”, e outras. E tangencia os BEATLES no Rubber Soul.

Tudo ruma para retomar SYD BARRET, temperado com NICK DRAKE, SANDY DENNY – os depressivos de sempre -; mas envolvidos em sombras dos melotrons à MOODY BLUES, um pouco do THE MOVE, e outros nada alegrinhos…

Para vocês terem uma ideia menos escura é como se “PERFECT DAY”, de LOU REED, fosse música sobre um domingo alegre!

Há uma sequência de faixas, no final, “Already dead e Sunday Sun”, que dizem bastante sobre o clima do disco. E tudo cantado ao estilo RAY DAVIES, dos KINKS, outro que esbanja alegria pelos poros. BECK focou e criou sobre tudo isso aí.

Seria?

O texto original desta resenha foi dedicado ao meu amigo Elvio Paiva Moreira que, uns quatro anos atrás foi à horta ( a discoteca dele) puxar um maço de cenouras, e levantou uma baita lebre!!!!
Texto original: 23/02/2020

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