ANTONIONI gostava de JAZZ CONTEMPORÂNEO, conhecia ALBERT AYLER, estudou economia política, e antes de se tornar cineasta fez críticas de filmes.
Nada mais “COOL” e relevante no mundo intelectual do ocidente, lá por 1960 e 1970, do que estudar e admitir o cinema como arte de inovação, renovação e até esclarecimento popular. Alguns o pensaram como aliado das revoluções políticas vindouras…
Tornar-se um cineasta foi glamour contemporâneo ao de ser publicitário ou “modelo”. No desenvolvimento do capitalismo contemporâneo, tornaram-se duas profissões imprescindíveis na comunicação de massa para a divulgação de produtos, ideias, serviços e as benesses do consumo.
Aqui estão os dois paradigmas que definirão os personagem centrais de BLOW-UP, título original do filme, vertido horrendamente para o português brasuca para “Depois daquele Beijo” : publicidade e moda.
BLOW-UP, em fotografia, hoje significa ZOOM! A aproximação total em detalhes de uma imagem. O cerne do (talvez?) aparente mistério do filme.
Mas, o sub – tema principal relevante é outro: a mudança de costumes explodindo uma sociedade tradicional, que se atualiza em contraponto à caretice “imutável” aceita como característica da Inglaterra do pós-guerra. A Londres em meados dos anos 1960, mais pobre do que se pensaria, fervia quase indiscretamente em contestação aos valores, uso de drogas, sexo, indecisão moral e liberdades sem foco. Alienação, falta de habilidade no trato pessoal e hedonismo completavam o cardápio. Algo tipo um existencialismo errático e sem finalidade.
O personagem central, THOMAZ, interpretado por DAVID HEMMINGS, fotógrafo de moda assediado, disputado e bem remunerado, certo momento cisma em adquirir um antiquário apenas por comprá-lo. Desiste, porque no fundo tanto faz…
A trama de BLOW UP, baseado em um conto do escritor argentino JULIO CORTAZAR, cult na época, é conhecida por sua modernidade sem respostas; inconclusiva, nublada e DARK como a fria Inglaterra. Um enigma? Acho que não, porém…
Enfim, fotografando a esmo num parque THOMAZ flagra o que seria um assassinato. E aí entra em cena VANESSA REDGRAVE… Deixo para vocês verem como a trama se desenvolve. Talvez o mostrado não seja o que realmente aconteceu. Porém, como tudo no filme, também tanto faz…
Quem sabe seja possível definir o filme como “REALISMO ABSTRATO” – li por aí; e sei lá que isto significaria… No final, THOMAZ se mescla e se evapora na névoa onírica – existencial, que é o filme.
A trilha sonora é de HERBIE HANCOCK. Contratado por MICHELANGELO ANTONIONI, disse que ficou fascinado porque o diretor conhecia JAZZ MODERNO e de VANGUARDA.
Então, montou banda para fazer a TRILHA SONORA com a elite da modernidade americana daqueles tempos: FREDDIE HUBBARD, PHIL WOODS, JOE HENDERSON, PAUL GRIFFIN, JIM HALL, RON CARTER, JACK DEJOHNETTE e, claro, ele HANCOCK. Vejam por aí o que cada um toca. Foi tudo gravado em Nova York, em 1966.
Boa música, obviamente!
É interessante ouvir como HANCOCK fez tudo soar à “VERVE RECORDS”, com sotaque à “BLUE NOTE”. Se isto é possível – ou se entendi corretamente ao escutar… Há evidente inspiração em JIMMY SMITH e seu FUNK-JAZZ para cenas cruciais. Alguém disse que fotografar moda combina com o som dele. E a turma do ROCK ouvia JAZZ DANÇANTE…Portanto, bingo!
O momento mais agitado do filme foi gravado em um simulacro cênico do “RICKY-TIKY”, club de rock londrino. A cult e seminal participação dos YARDBIRDS, com JIMMY PAGE e JEFF BECK, nas guitarras, em rompimento total do clima do filme, é onde a SWINGING LONDON se expressa musicalmente, com sua irreverência, falta de limites e rebelião sonora.
A guitarra que JEFF BECK quebra agredindo um amplificador foi construída em papelão. Caos no palco e a plateia quieta, inexplicavelmente atônita, o contrário do que geralmente acontecia…
Mas, quem deveria ter feito a cena seria STEVE HOWE, do YES, à época guitarrista do sofrível TOMORROW, que também está na trilha sonora…
Para sorte de todos, e a eficácia do filme, nem THE WHO – também sondado para a cena – teria expressado melhor o que foram aqueles tempos.
TIO SÉRGIO acha culturalmente imprescindível assistir ao filme. E, se possível, conseguir a trilha sonora. As fotos da postagem refletem o que você verá!
Recomendo com entusiasmo!
POSTAGEM ORIGINAL: 06/06/2020

POSTAGEM ORIGINAL: 06/06/2020
