O tempo cuida do retorno periódico daquilo que é socialmente irremovível. Há tradições e coisas que se mantêm, mesmo quando se pensa que estão perdidas para sempre; e de repente, retornam remodeladas de algum jeito, guardando essências que definem um país, um povo, uma cultura.
A estabilidade da essência existe, mesmo a gente sabendo que a impermanência é a regra básica da vida. É imperativo perceber a sutileza que justapõe a impermanência ao essencialmente estável.
Indivíduos e sociedades funcionam dentro dessa aparente contradição.
STEVEN DEMETRI GEORGIOU era filho de mãe sueca e pai grego. E foi criado na cosmopolita SWINGING LONDON. Surgiu para a música em 1966, quando foi descoberto por MARK HURST, à época produtor; mas que fora parte do trio histórico na emergência do FOLK INGLÊS, no final dos anos 1950: THE SPRINGFIELDS.
Percam-se pelo nome, sim! Veio de lá a maior cantora POP inglesa de todos os tempos, DUSTY SPRINGFIELD; sempre aerada pela música folclórica, mas potencializada pela BLACK MUSIC e tantos e tontos ingredientes que a tornaram cult, mágica, e moradora no Olimpo eterno da música POP. DUSTY é outro capítulo, para outra hora…
Porém, ela estava no auge quando o produtor HURST juntou o CAT ao nome STEVEN (S) e mudou a vida do cara. Ele percebeu que o garoto tinha voz diferenciada, e sabia compor. Aproveitou seus contatos, e levou CAT para gravar na subsidiária de vanguarda da DECCA RECORDS, a DERAM, selo cult de ROCK PROGRESSIVO, FOLK e outras esquisitices nascentes e adjacentes…
A DERAM foi morada inicial adequada. CAT gravou SINGLES de algum sucesso, e um álbum que, vez por outra, é relançado. Ainda era bem diferente do que veio a fazer logo após; mas indicativo de seu potencial e talento diferenciados.
CAT era bastante requisitado como compositor. Fez “FIRST CUT IS THE DEEPEST”, regravado por vários, ROD STEWART entre eles. E, também, um HIT esfuziante para o grupo THE TREMELOUS, em 1968, quando “HERE COMES MY BABY” explodiu naquela ilha escura e alegrou muita gente, inclusive o TIO SÉRGIO aqui.
O toque de ourives aconteceu na mudança de gravadora, quando STEVENS foi para a ISLAND, em 1970, gravadora que explorava principalmente o REGGAE, mas tinha garras no POP e no FOLK.
Lá, o produtor PAUL SAMWELL SMITH, ex-baixista dos YARDBIRDS, deu consistência à música de CAT STEVENS. Lançou-o aproveitando o início da era de proeminência de CANTORES- COMPOSITORES, que estabeleceu outra dinâmica ao mercado da música. CAT STEVENS faz parte da geração de PAUL SIMON, JAMES TAYLOR, CAROLE KING, CHICO BUARQUE, CAETANO, GIL, JONI MITCHELL e diversos vários.
PAUL SAMWELL observou atentamente um novo renascimento do FOLK, na INGLATERRA; onde DONOVAN, FAIRPORT CONVENTION, e outros tantos abriam veredas que chegavam até o JAZZ ((PENTANGLE) e ao PROGRESSIVO ( JETHRO TULL e RENAISSANCE).
E ali iniciou o período de grande sucesso artístico e de vendas de CAT STEVENS.
O primeiro LP, “MONA BONA JAKON” e o segundo “TEA FOR THE TILLERMAN” – onde está ‘WILD WORLD”, também “vertido” para REGGAE, por JIMMY CLIFF – saíram ambos de 1971.
A saga prosseguiu com TEASER AND FIRECAT”, o disco muito bom, na foto; em que participaram RICK WAKEMAN, GERRY CONWAY, e outros. Depois, saiu “CATCH A BULL AT FOUR”. E ambos lançados em 1972.
Na sequência, vieram “FOREIGNER”, 1973; “BUDDAH AND THE CHOCOLATE BOX”, 1974; MONA & NUMBERS”, 1976; “IZITSO”, 1977; E, claro, várias coletâneas. Com o tempo, todos os LONG PLAYS de CAT STEVENS se tornaram DISCOS DE OURO.
No ano de 1977, ele converteu-se MUÇULMANO, e abandonou a carreira artística. Tornou-se fundamentalista e dirigente religioso no norte de LONDRES.
Em 1989, apoiou a “FATUAH” do AIATOLAH KHOMEINE, do IRÃ, que decretava pena de morte contra o escritor inglês SALMAN RUSHDIE, por causa do livro VERSÍCULOS SATÂNICOS. Houve justo e enorme boicote a seus discos, e protestos contra o agora YOUSSUF ISLAN, seu nome de batismo no islamismo.
Anos atrás, ele tentou retomar a carreira sob outras bases, mas, ao que tudo indica, seu tempo e referência também passaram.
Ainda assim, é muito interessante escutar o seu repertório clássico. No disco dois incluído na reedição de “TEA FOR THE TILLERMAN”, vem a construção/ensaio para certas músicas. E, percebemos nitidamente a insuficiência inicial da letra de “WILD WORLD”. A produção e CAT deram um jeito, claro, e a melhoraram.
Uma conclusão possível é que raramente “faixas bônus” justificam uma aquisição. Mas todos nós fazemos, dependendo de preço e oportunidade.
TIO SÉRGIO convida a todos para reviver o CAT STEVENS do passado, e sua proximidade com a nossa cultura tolerante e democrática.
Não fujam.
POSTAGEM ORIGINAL: 17/06/2024

POSTAGEM ORIGINAL: 17/06/2024
