QUEM SABE INICIAR PELO SUBLIME PARA ALCANÇAR O MUITO BOM?
TALVEZ SEJA PRETENSIOSO, MAS NÃO É SEMPRE QUE DAMOS DE CARA COM O MAGNO, E MEIO SEM QUERER.
NOITE DESSAS, SONO FALTANDO, “ORDENHANDO” A TELEVISÃO PAREI EM PERFORMANCE INESQUECÍVEL DE TRÊS GÊNIOS ACOMPANHADOS POR UM BANDO DE SUPERDOTADOS DA “ACADEMIA NATIONALE DE SANTA CECILIA”.
Os três, com jeitos, caras, visuais e performances de gênios, são MARTA ARGERICH, pianista do mais alto nível; SIR ANTONIO PAPPANO, maestro e pianista inglês, que absurdamente eu nunca ouvira falar!!!. E MISCHA MAISKY, violoncelista classe mundial.
Pois bem; em recital recente e magnífico transmitido pelo canal “PEOPLE AND ARTS!” dois pianistas, PAPPANO e ARGERICH fazendo maravilhas sobre os teclados. A “troupe” da retaguarda era não menos que precisa e prodigiosa. E MISCHA tirando um som explêndido no VIOLONCELO!
Executaram versão de “O CARNAVAL DOS ANIMAIS”, de “SAINT SAENS”, combinando à divertida, expressiva e genial “voz” dos animais a técnica e requinte de todos eles. Sem que sejam, é claro, tocam como fossem “atletas de seus instrumentos”, tal a intensidade!
Mas tio Sérgio, onde você quer chegar?
Cheguei: “O CARNAVAL” é peça em que se ouvem diversos animais – elefante, pássaros, etc… – com a dimensão “quase visual” que um instrumento musical pode oferecer.
Se você quiser “escutar” a expressão “visual” de uma ideia, no ROCK PROGRESSIVO existem aos montes. Lembro aqui “SEE-SAW”, no segundo disco do “PINK FLOYD”, “A SAUCERFUL OF SECRETS”, de 1968, onde você “vê” um “balanço desses de jardins da infância” voando, indo e vindo.
Os MOODY BLUES, no quarto LP “TO OUR CHILDREN”…, 1969, fazem, na primeira faixa, uma abertura com melotrom, órgão, etc… expressando o lançamento de um foguete, até ele atingir o espaço; e, depois, a reprodução musicada do “silêncio”!!!
A mesma coisa fez o CURVED AIR, no SECOND ALBUM, de 1971, com JUMBO, canção em que o violinista DARRYL WAYS e o tecladista FRANCIS MONKMAN, ambos formados no ROYAL COLLEGE OF MUSIC, descrevem a viagem no “super-avião”, com a leveza e as nuances para expressar o conforto da volta para casa. Sensacional, reconfortante e… tenso…
O CURVED AIR foi concebido por WAYS e MONKMAN, que se encontraram por acaso em uma loja de instrumentos musicais em Londres. Divergiam muito entre si e, mesmo assim, conseguiram forjar um conceito, ajudados também pelo bom baterista de nome uma tanto improvável: FLORIAN PILKINGTON-MIKSA, e vários baixistas que por lá passaram. Eles formaram um grupo que se tornou a base do futuro, e tinham vários instrumentais já produzidos, antes de mudarem o nome.
Mas o CURVED AIR realmente surgiu quando SONJA LINWOOD entrou para a banda. Cantora, ela fazia parte do elenco da peça “HAIR”. E sempre usou do lado “atriz” para integrar sua performance ao grupo. Além de moça bonita e de presença marcante, a maioria das letras foram compostas por ela.
KRISTINA é uma figura ao mesmo tempo típica e diferenciada no ROCK INGLÊS. Começou tocando e cantando FOLK. Gostava de DUSTY SPRINGFIELD, BUFFY SAINTE-MARIE, INCREDIBLE STRING BAND e DONOVAN! Um arsenal estilístico de forte impacto.
Ela tem voz pequena, mas afinada, expressiva, delicada e clara! Treinou muito e a ponto de tornar-se, depois, professora de técnica e empostação vocal. Canta muito bem – e dizem que até hoje!
Para o CURVED AIR ela trouxe outras bagagens. SONJA gostava da voz “fantasmagórica” de JANE RELF, na primeira formação do RENAISSANCE – com quem o CURVED AIR sempre concorreu na mesma pista no ROCK PROGRESSIVO. Algo entre o FOLK, o CAMERÍSTICO e até o SINFÔNICO.
SONJA KRISTINA foi influenciada, inclusive, pela “improvável” DOROTHY MOSCOWITZ, cantora alternativa de voz doce e ácida de banda cult e de único disco, lançado em 1968:
“THE UNITED STATES OF AMERICA”, americano., claro, está entre os pioneiros do ROCK DE VANGUARDA. Experimental e algo melódico, combinando PSICODELIA, violino e eletrônica. Uma banda que faz música de nome “I WON´T LEAVE MY WOODEN WIFE FOR YOU, SUGAR”, precisa ser redescoberta. Vocês concordam?
Este background formou a cabeça de SONJA e a base do CURVED AIR, na mistura em parte inspirada pelos também americanos “FLOCK” e “IT´S A BEAUTIFUL DAY”. E até o JEFFERSON AIRPLANE, em sua transição para JEFFERSON STARSHIP. Todos já usavam o violino, mesmo que em contexto mais FOLK / COUNTRY ROCK.
O CURVED AIR era craque no palco. Mas, principalmente em estúdio. Talvez porque músicos bem formados em conservatórios e universidades.
As sequências construídas internamente em cada música fluem. As passagens engendradas tema-solos-tema ou riffs; e as finalizações soam perfeitas. Pra não dizer da complexidade dos arranjos, em permanente conexão ao ROCK.
É muito bom observar YOUNG MOTHER e PEACE OF MIND, do “SECOND ALBUM”, 1971, por exemplo. E não deixem de escutar o disco de estreia, também em 1971, AIR CONDITIONING: o primeiro “PICTURE DISC” da história, objeto cult e de coleção; onde está o clássico predileto do público: “VIVALDI”. E procurem o excelente terceiro LP, PHANTASMAGORIA, 1972.
Os três formam a série mais criativa entre os sete discos que lançaram!
Depois do terceiro disco, os desacordos entre DARRYL WAY e FRANCIS MONKMAN levaram à desintegração da banda. E sobrou KRISTINA, que recompôs o grupo com o prodígio do violino, EDDIE JOBSON, de apenas 17 anos, e o tecladista KIRBY GREGORY, para gravar AIR CUT, em 1973.
A carreira de SONJA tornou-se algo instável. Ela conta que, em 1974, estavam todos duros. Aliás, sempre foram. Empresários, ficavam com a maior parte da grana, e a carga absurda de impostos na Inglaterra da época faziam músicos e outros profissionais trabalharem loucamente e dobrado para manterem-se.
Ela foi, ainda com a banda existindo, auxiliar de escritório e, depois, “croupier” no PLAYBOY CLUB!!!! Um acinte!!!!
No final, KRISTINA já casada com STEWART COPLAND, baterista do grupo, que depois formou o POLICE com STING e ANDY SUMMERS, voltou vez por outra aos palcos como atriz, fez um mestrado ligado à área da música, tornou-se professora de canto, e gravou alguns discos solo. Entre eles, MASK, considerado muito interessante.
Seja como for, o CURVED AIR reformou-se e existe até hoje com certo sucesso nos circuitos de shows mundo afora.
Recentemente estiveram no BRASIL junto com o RENAISSANCE, de ANNIE HASLAN; ambos na vida dura e contínua da saga do ROCK.
Por aqui, agradaram e não importa o que proporcionaram. São ícones; e nós eternos carentes de música criativa.
Tentem.
POSTAGEM ORIGINAL: 13/06/2024
