DAVID BOWIE, BLACK BOWIE? POSSIVELMENTE TALVEZ! SEMPRE EM TRANSIÇÃO, BOWIE FLERTOU FIRME COM A BLACK MUSIC EM 1975/1976 E 1983.

Tudo na produção artística de BOWIE está
realizado em sequências de relâmpagos e trovões. Vistas individualmente, jamais se esgotam as propostas e provocações. Aqui estão casos nítidos de discos correlatos, até semelhantes, mas não necessariamente consequentes.
Você talvez pergunte ao TIO SÉRGIO a questão que já me ocorreu: se era para se meter em BLACK MUSIC, porque BOWIE não foi namorar com a produção das gravadoras ATLANTIC, MOTOWN ou STAX, as luminares do R&B, do FUNK e da SOUL MUSIC?
Porque já tinham sido muito exploradas, e suas propostas estavam ultrapassadas quando ele fez YOUNG AMERICANS, 1975; e, depois, LET´S DANCE, 1983.
ENTRE 1966 E 1976, o PHILLY SOUNDS, o Som da Filadélfia, criado por KENNY GAMBLE e LEON HUFF, juntava de maneira peculiar o melódico e o dançante no POP, R&B, SOUL e a DISCO MUSIC.
De lá surgiram ótimos artistas pretos por eles produzidos: HAROLD MELVIN & THE BLUE NOTES, BILLY PAUL, O`JAYS, MFSB, JACKSONS, THREE DEGREES, e outros diversos.
Quando DAVID BOWIE entrou no lance a alternativa mais contemporânea era o PHILADELPHIA SOUND. Só para ilustrar, ELTON JOHN também foi na onda e gravou, em 1976, “D’ont Go Breakin My Heart”, com KIKI DEE. E fez mais outro HIT solo “Philadelphia Freedom” – mais explícito impossível, lembram-se?
YOUNG AMERICANS, lançado em 1975, foi imaginado basicamente em cima do PHILLY SOUND. E, como sempre, DAVID BOWIE fez, refletiu e ao mesmo tempo transcendeu tudo o que estava na moda.
Ele e o produtor TONY VISCONTI, imaginaram gravar no SIGMA STUDIO e, se possível, com a excelente banda local, o MFSB (Mothers, Fathers, Sisters & Brothers ), e a coprodução de GAMBLE & HUFF.
O STUDIO SIGMA foi usado; mas o restante não rolou.
Por isso, BOWIE juntou outra banda, como sempre afiada e um tanto surpreendente, destacando dois guitarristas que, no decorrer do tempo, tocaram em vários projetos de BOWIE: o nitidamente PUB-ROCK/ROCKABILLY , EARL SLICK; e CARLOS ALOMAR, craque em fazer bases e ritmos.
Veio, também, DAVID SANBORN, que emulou JR. WALKER, o grande saxofonista nos grandes sucessos da MOTOWN, na década de 1960. SANBORN foi além, criando sonoridade algo suja e distorcida para um tipo de FUNK/JAZZ temperado com ROCK.
Esse time desenvolveu um crossover BLACK-FUNK/LATINO; e YOUNG AMERICANS foi sucesso. Principalmente no EUA, alçando BOWIE ao primeiro lugar na parada americana com FAME – composição dele e JOHN LENNON. Parece inusitado?
O “quem sabe EP”, THE GOUSTER, lançado em um dos boxes póstumos de BOWIE, e onde estão 4 músicas do YOUNG AMERICANS, com mais três faixas que ficaram fora; hoje talvez simbolize um marco na ascensão fulgurante, e quase ininterrupta, da carreira de DAVID BOWIE, dali até sua morte.
É curioso notar que o álbum STATION TO STATION, 1976, é obra de transição, e finaliza este período com mais alguns R&Bs no SET: GOLDEN YEARS, por exemplo. No entanto, lá fica exposto corte radical para a CULT e influente fase BERLIM, totalmente experimental e KRAUTROCK. Este álbum acomoda os dois lados de maneira brilhante. Verifique.
Em 1983, DAVID BOWIE verga em direção ao R&B pesado e dançável em LET´S DANCE; já com outra banda “compósito” instigante e memorável! A conjugação entre a guitarra SOUL de NILE RODGERS – também coprodutor do disco – e o grande guitarrista de BLUES daqueles tempos, o americano STEVIE RAY VAUGHAN, ressaltou esse molho único.
Ambos desfilaram com outros craques: o baixista CARMINE ROJAS e ao baterista TONY THOMPSON. E tudo combinado a um extraordinário naipe de metais!
Funcionou muito bem! Quase todos conhecem “MODERN LOVE” e” LET´S DANCE”, e talvez outras faixas, que firmam aquele retrogosto do CHIC, de NILE RODGERS e BERNARD EDWARDS – também participante no disco e bem no centro dessa nova BLACK MUSIC.
A turma do ROCK não esquece “CHINA GIRL”, composição de BOWIE e IGGY POP; que de certa maneira segue a fórmula do BLONDIE, em “HEART OF GLASS”, lançado 1981. Ambos são HITS pesados e dançáveis. E tudo junto ressoa à DISCO estilo PHILLY SOUND!
As criações de BOWIE não se restringem. Ao contrario, jogam a música em um ponto futuro. Então, que tal incluir nessa narrativa a fantástica NITE FLIGHTS, música de SCOTT WALKER gravada em ritmo DISCO, no início dos anos 1980, pelos WALKER BROTHERS, Mas redefinida por BOWIE?
“NITE FLIGHTS” está no LONG PLAY “BLACK TIE, WHITE NOISE”, de 1993. Porém, a versão de BOWIE casa algo do DREAM POP com a DISCO MUSIC e o R&B. E possivelmente inspirou um grande HIT lançado por SEAL, 1991. Lembram-se de CRAZY?
Mas aí, é possível que o TIO SÉRGIO esteja delirando?
Talvez, não. Para o gênio musical subversivo de DAVID BOWIE tudo foi possível imaginar, pensar, jogar nas galáxias, ou fazer convergir.
Experimentem. Ousar faz bem! Mesmo que seja apenas ouvindo música.
POSTAGEM ORIGINAL: 29/06/2021
Nenhuma descrição de foto disponível.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *