Geralmente não gosto muito do ROCK AMERICANO. E este CD entrou em baita rolo com velho amigo. Foi bom para os dois.
DON McLEAN é um bom
cantor FOLK. Suas melodias e arranjos são algo recorrentes e datados. E, mesmo fazendo boas letras, bem encaixadas, está longe do talento de um GORDON LIGHTFOOT. E, claro, nem é possível compará-lo a DONOVAN e outros mais votados.
Acontece que DON compôs um clássico absoluto. Tão significativo que só não tornou-se um STANDARD, porque tem mais de 8 minutos e letra imensa para ser repetida.
Foi entendida como homenagem à morte de BUDDY HOLLY. E falta completar que, no mesmo desastre aéreo, em 1958, morreram também RICHIE VALLENS ( LA BAMBA) e BIG BOPPER, um quase famoso em ascenção.
HOLLY já era artista pronto. Com vários Hits tocando e cantando seu ROCKABILLY agitado, e tão relevante que virou inspiração para o nome dos ingleses THE HOLLIES, sucesso na década de 1960, e parte dos 1970.
DON McLEAN compreendeu a extensão artística de HOLLY, sua interação com os jovens americanos, e o que significava em termos de aspirações, história, e o emocional dos fãs.
E escreveu essa ODE ao ídolo que, ultrapassa e muito, do que apenas ele.
AMERICAN PIE é um compêndio histórico do que aconteceu com a música, principalmente o ROCK, seu desenvolvimento, problemas. E, mais do que isso, contestação estética, filosófica, existencial, aspirações e destruições consequentes.
McLEAN compôs e cantou sobre esses fatos. E conseguiu, através de METÁFORA, expressar a ruptura do cotidiano:”AMERICAN PIE” , uma torta “americana”, quer significar sobre a rotina, o conservadorismo, e o esperado; que foram rompidos quando um ídolo integrado desaparece, abrindo fenda que revela vulcões, o inesperado, o subversivo.
No decorrer da música, ficamos sabendo que a grande aspiração dos jovens dos 1950, de comunicar-se romanticamente, através dos bailes, casarem-se, foi sendo rompido…
Ele não intui ELVIS, outro contemporâneo entre o integrado e o subversivamente sensual.
Mas, diz poeticamente sobre os ingleses, que iniciaram emulando os americanos; e acabaram por subverte-los, pondo em risco existencial a geração que ouviu e compreendeu os BEATLES, em SGT PEPPERS, ou em HELTER SKELTER.
E, também, os contemporâneos americanos e suas experiências com drogas, Há citação nada encoberta dos BYRDS, em EIGHT MILES HIGH.
E JANIS JOPLIN, caricaturizada em uma cantora de BLUES a quem perguntou sobre “alguma novidade mais alegre” – e ela fugiu, porque não havia… Coisas daqueles tempos…
O refrão “THE DAY THAT MUSIC DIE” repetida a música inteira, pode ( e eu acho que deve ) ser interpretado como os vários dias, e as tantas vezes em que a música morreu, perdendo sua característica de algo construtivo e afetivo, tornando-se metáfora para algo ruim, corrosivo, preocupante, inconclusivo…
Se bem compreendi, essa ODE AO PROFUNDO E ATÉ AO DESAGRADÁVEL, teve outro alvo claro: OS ROLLING STONES, e principalmente o “JESTER” , O JUMPING JACK FLASH, O GRANDE PALHAÇO SINISTRO dos palcos, MICK JAGGER.
Ninguém representou tão bem a quebra de valores como religião, tradição e ordem, quanto JAGGER. Talvez um Pan sexual promíscuo buscando o fogo do inferno, e que “sentava-se em um castiçal de velas em chamas”.
Tudo isso está lá, no vasto poema; de maneira quase figurada, mas sem qualquer dúvida para quem acompanhou o féretro da civilização ocidental, sob alguns pontos de vistas nítidos na segunda metade dos anos 1960…
Para terminar, mas bem no começo, há citação sobre LENIN lendo MARX, como a subversão dos valores americanos mais estimados.
E concluindo, uma alusão ao “LAST TRAIN” para sabe-se onde… lembranças dos alienados MONKEES?
Quer dizer: DON McLEAN regurgitou e expeliu um CLÁSSICO. Para mim, fica nítido que ele apreciava a estabilidade conservadora da cultura americana.
Mas, como é muito bem escrito, vários talvez discordem.
Se DON McLEAN é conservador, reacionário não é.
AMERICAN PIE INCOMODA.
Bye, Bye..
