E.C.M. significa “EDITIONS of CONTEMPORARY MUSIC”. É uma gravadora fundada na Alemanha em 1972, por um músico chamado MANFRED EICHER, que se tornou um dos produtores mais originais, criativos e perfeitos da história da música.
Curiosamente, se estabeleceu e opera na NORUEGA, em OSLO, de onde por um desses “não sei o quê” da vida elaborou uma sonoridade única, que perpassa por mais de 1500 discos, todos no mínimo bons ou interessantes; e muitos e muitos excelentes ou até geniais!
Descolar o maior número possível desses discos inclassificáveis, é um dos projetos de vida que persigo. Já tenho vários, talvez uns 5% do já lançado. Portanto, não vai dar.
E qual é o segredo de EICHER, um dos caras que mais admiro, para não dizer que o invejo descaradamente?
Em linhas gerais, MANFRED procura artistas mundo afora que tenham essa magia indefinível; um certo charme e sonoridade que ele trabalha, produz, refina, e grava. E, muitas vezes combina com outros músicos que, aparentemente, têm pouco a ver uns com os outros.
Exemplo típico e encontrável com certa facilidade no Brasil, é o CD “MÁGICO e CARTA DE AMOR”, de EGBERTO GISMONTI, com o saxofonista tcheco JAN GARBAREK e o baixista americano CHARLIE HADEN. É a gravação feita em 1981 de um concerto ao vivo em Munique.
É JAZZ ou sei lá o quê de excepcional beleza e qualidade.
O resultado dessas “COALISÕES/COLISÕES” que ele promoveu às dezenas, sempre música peculiar, belíssima e “indefinivelmente identificável” com a sonoridade da gravadora. Artistas que gravam na ECM produzem um som distinto e inigualável!
A ECM gravadora prospecta por este planeta afora.
Do Brasil veio GISMONTI, pianista, violonista e compositor dos mais originais, que grava por lá desde o início dos 1970. E, também é HIT da gravadora o percursionista NANÁ VASCONCELOS.
KEITH JARRET, pianista inglês e estilista ícone, foi refinado pelo bom gosto e competência de MANFRED EICHER, e está na gravadora desde o início.
Há, também, americanos sofisticadíssimos, como os grupos OREGON e ART ENSEMBLE OF CHICAGO.
A maestrina CARLA BLEY concebeu na E.C.M. o magistral “ESCALATOR OVER THE HILL”, reunindo penca de estrelas por centímetro quadrado de partitura e palco…
Eu costumo definir a música da E.C.M., como “fria”. E talvez não seja a definição perfeita. Mas, para vocês aguçarem a percepção, imaginem que o JAZZ LATINO de DIZZY GILESPIE, GONÇALO RUBALCABA e GATO BARBIERI; o ROCK de CARLOS SANTANA, e mesmo a FUSION CUBANA do BUENA VISTA SOCIAL CLUB sejam quentes como o SAMBA JAZZ BRASILEIRO, a BOSSA NOVA e a MPB contemporânea sofisticada.
Em oposição a isto você tem o JAZZ EUROPEU, mais EXPERIMENTAL e CEREBRAL.
E a E.C.M. flerta com a sofisticação europeia no JAZZ e no CLÁSSICO CONTEMPORÂNEO. E aposta em novos artistas de lugares menos badalados como a Polônia, a Bulgária, e os países nórdicos em geral.
Outro foco da gravadora é investir em uma espécie de “FOLK-JAZZ-NEW AGE”, se é que isto existe…, onde combina experimentações, música concreta, ritmos não convencionais, e etc…, tudo “amornado” e consolidado por beleza melódica e harmônica. A produção de EICHER é sempre bem controlada, e profundamente instigante.
Então, eu recomendo que vocês escutem “AMERICAN GARAGE”, de PAT METHENY. É disco primoroso, contidamente alegre, gravado em meados dos anos 1970.
Procurem ouvir o pianista KETIL BJORNSTAD, em “WATER STORIES”, lançado em 1993. E, também, o polonês MARCIN MARCILIEVSKY TRIO, de uns tempos atrás.
É música para camaleões, gente curiosa e de bom gosto. E aqui postei outras hipóteses também excelentes e não triviais.
Como disse EGBERTO GISMONTI, em show antológico realizado em 1982, no ginásio da Portuguesa de Desportos, em SAMPA, onde fez abertura para o guitarrista inglês JOHN McLAUGHLIN – outro gênio inclassificável:
“Boa Noite, pessoal! Vocês não vão se arrepender por terem vindo até aqui”!
Então, sentou-se ao piano… e eu estou viajando até agora!
POSTAGEM ORIGINAL: 23/06/2023

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Rômulo Garcia