GARY MOORE, E O “ESPAÇO E O SILÊNCIO NA MÚSICA” PARA TOCAR UM BLUES

Sexta Feira, meio da tarde, trabalhos profissionais concluídos, quase setenta anos de idade, e posso me dedicar ao que quiser. (a tudo, é claro; mas, ressalvando que sou um cavalheiro, e bom e fiel marido!)
Abro a geladeira e vejo que as cervejas acabaram. Fato raro. Eu cuido pessoalmente para que a minha cumplicidade “idílico-etílica” seja razoavelmente suprida e mantida.
Bebo cervejas e vinhos. São leves e, para o meu gosto, mais palatáveis. E se “bode e porre houver, fica mais administrável”.
Não fico bêbado. Aprendi a evitar, mesmo tomando várias desde adolescente…
Estou de WHISKY. Prefiro copos “HIGH BALL”, os longos, e com muito gelo.
Na definição de VINÍCIUS DE MORAIS, o WHISKY é o mais fiel e melhor amigo do homem. “O WHISKY É CACHORRO ENGARRAFADO”. Eu respeito o AU-AU, e pego leve – pero no mucho!!! Evito, mas estou gostando…
E lembrei do GARY MOORE.
Em poucas palavras, MOORE era excelente guitarrista, aplicado e perfeccionista. E cantor adequado para o repertório. Fez carreira um tanto sem rumo, porém produtiva e constante. Entre 1968 e 2011, quando morreu, havia testado e tentado várias hipóteses, até desaguar no BLUES, no início da década de 1990.
Pretendo focar pelo que sei dele, os discos que tenho, ouvi, e até agora mantive.
Em meus “ALFARRÁBIOS” escreveram que ele era o único guitarrista, “nas IRLANDAS”, páreo para o RORY GALLAGHER, do TASTE, de quem foi amigo e fã.
É muito interessante ouvir o “segundo disco” dele com o SKID ROW, 34 HOURS, 1971 – e jamais confundam com a banda, sei lá, quasi-metal americana do mesmo nome, onde um certo SEBASTIAN BACH despontou na década de 1990, e até hoje anda por aí…
O SKID ROW, onde esteve GARY MOORE, foi um grupo na transição do BLUES para a PSICODELIA e, quem sabe, algum hálito de ROCK PROGRESSIVO. Atuou entre 1969 e1971.
O disco postado é curioso, mas coisa de principiante entusiasmado.
Dali em diante, GARY criou fama como guitarrista, e gravou com gente forte, GEORGE HARRISON e GREG LAKE, e outros. Esteve no estúdio com vários grupos, tipo o colecionável DR. STRANGELY STRANGE, de 1972.
MOORE iniciou carreira solo gravando discos no estilo do HARD ROCK corrente, como seus contemporâneos; mas, simultaneamente participando de outras bandas e projetos.
Ciscou, por exemplo, na FUSION BLUES/JAZZ com o COLOSSEUM II, do baterista JON HEISEMAN. Gravaram 3 LPS, entre 1975 e 1976, hoje desejados por colecionadores.
E culminou gravando o LP BLACK ROSES, com o THIN LIZZY, que já caminhava para o auge, lá por 1977/1978.
Durante a década de 1980, GARY MOORE foi paulatinamente crescendo nesse lusco-fusco entre o HARD ROCK, pitadas de METAL, e algumas experimentações, como fizeram ROBERT PLANT e o FOREIGNER, por exemplo. Aperfeiçoou-se.
É possível argumentar que GARY fez o caminho inverso de seus contemporâneos chegados ao BLUES.
A sua última e mais bem sucedida fase transitou do HARD ROCK, para cair no BLUES de clássicos como B.B.KING e ALBERT KING, que também participaram de seu disco ao vivo de grande sucesso, BLUES ALIVE, de 1992.
Eu postei além do CD ao vivo, que também existe em DVD, dois SINGLES fantásticos exarados da íntegra do show, em edição limitada.
O BLUES que MOORE desenvolveu tem o toque fino aprendido com ERIC CLAPTON e PETER GREEN, em discos clássicos gravados entre 1965 e 1968, quando tocavam com JOHN MAYALL e os BLUESBREAKERS..
Ele conta que aprendeu com ALBERT KING a necessidade e o papel do “espaço” e do “silêncio”, para mais bem tocar e refletir a intenção primeira do BLUES, que é despertar emoção e atenção do ouvinte. Tocar nota por nota, respeitar intervalos, trabalhar com o silêncio.
Talvez alguém recorde THELONIOUS MONK, pianista inigualável, e administrador do silêncio e do espaço, muito bem utilizados em suas músicas.
O “turning point” de GARY MOORE foi em 1990, com seu CLÁSSICO e grande sucesso, “STILL GOT THE BLUES”, que inaugura sua fase áurea.
Tive o LP e lembro da capa impactante: na frente aparece GARY bem criança, com a guitarra e os LPS de MAYALL: um com CLAPTON e outro com PETER GREEN. Na contracapa, ele já adulto com a mesma foto, mas em CDS.
É uma aula sobre a expressividade que uma capa pode transmitir sobre o conteúdo de um disco e sua época, e no espaço entre duas gerações.
Eu ainda comprarei o CD para mantê-lo.
GARY MOORE é um guitarrista muito versátil. Em 1994, juntou-se com JACK BRUCE e GINGER BAKER, formaram o B.B.M, E gravaram AROUND THE NEXT DREAM, obviamente emulando a sonoridade do CREAM, portanto do CLAPTON elétrico da década de 1960.
É quase uma ressurreição, com pontos claros e observáveis, de algumas músicas do CREAM. Porém lógica, do ponto de vista da evolução da carreira deles, e a notória vontade de “clonar” o passado..
Ele fez, também, BLUES FOR GREENY, CD tributo a seu outro ídolo, e onde o toque sutil e detalhado de PETER GREEN é representado pelo MOORE aprendiz de ALBERT KING.
São dois discos-homenagem muito bem vindos mais por serem aulas do que por trazerem visão alternativa de craques consagrados.
E por último, mas sem foto porque não encontrei o meu DVD, um fantástico show ao vivo, em DUBLIN, em homenagem a PHILL LYNOTT, o cantor e baixista e criador do THIN LIZZY, também já falecido.
Juntaram os membros originais do grupo quando no auge, e MOORE participou como um dos guitarristas e cantor principal.
É uma sensacional exposição do HARD ROCK seco, duro e marcante que o LIZZY fazia. MOORE dá um show inesquecível, em disco de imagem e som perfeitos. Achem por aí!
Depois que morreu, a cidade de DUBLIN homenageou PHILL LYNOTT com escultura no centro da Capital.
Espero que tenham feito o mesmo com GARY MOORE, em BELFAST. Ele merece muito.
POSTAGEM ORIGINAL: 29/07/2022
Pode ser uma imagem de 2 pessoas, catraca e texto

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