Do ponto de vista musical é glorioso! A sofisticação rítmica, harmônica e, principalmente melódica, revelam um Jazz-Fusion no melhor sentido da expressão: surge do jazz em direção ao pop, ao rock e aos híbridos criativos que ouvimos desde o final dos anos 1960.
IAN CARR é mais do que um músico sofisticado e criativo. É, também, um intelectual da música. Escreveu alguns livros, entre os quais uma biografia “musical” comentando a obra de MILES DAVIS, seu – e meu, nosso, também, – ídolo assumido. Este livro é considerado referência sobre o assunto.
IAN CARR é um compósito criativo entre o emocional e o intelectual. Com as qualidades, problemas e contradições que isto implica. Uma personalidade rica e fascinante.
Ele montou ao longo de seis anos um grupo de coesão esplêndida, mesmo com mudanças às vezes radicais em componentes chaves. Todos os discos são de músicas novas, criativas, compostas basicamente por ele, e sem a presença de qualquer “standard” jazzístico. Percebe-se aproximações com a música clássica e a superação do jazz na tradição moderna em direção à FUSION. Um esforço colossal para tão pouco tempo; apenas 6 anos de vida! Energia e sutileza conjugadas.
O NUCLEUS foi banda seminal da FUSION INGLESA: passaram por lá o genial baterista JOHN MARSHALL, criador para a banda de um amálgama percussivo que ia de ELVIN JONES a TONY WILLIANS. E, os lendários guitarristas ALLAN HOLDSWORTH e CHRIS SPEDDING – que fez evolução a partir do estilo de STEVE CROPPER, juntando o progressivo ao funk-soul. Um artista de vulto!
Há também os espetaculares baixistas JEFF CLINE e, depois, ROY BABBINGTON , entre vários outros membros de altíssimo nível técnico e artístico.
No decorrer dos nove LONG PLAYS originais, percebemos atualizações em progressão, que vão do “IN A SILENT WAY” de MILES DAVIS, resvalam em PRELUDE , de EUMIR DEODATO, “percebem” o WEATHER REPORT, a MAHAVSHNU ORQUESTRA, e o RETURN TO FOREVER; e incorporam a percussão latina de SANTANA.
A isso tudo se junta o diálogo com a vanguarda jazzística inglesa, de TONY WILLIANS LIFETIME, a GRAHAN COLLIER, JACK BRUCE, SOFT MACHINE, e passagens sutis de rock progressivo; e gente boa outra de montão! Tudo para confluir em um JAZZ FUSION FUNKEADO e original, nos últimos álbuns. Eu tive o privilégio de assisti-los, em São Paulo, em junho de 1984, com MARSHALL na bateria. Inesquecível!
Há muita conversa possível. E fique sabendo quem coleciona que os LPs originais, gravados na VERTIGO, são raros e valem uma baba cósmica!!! Os dois primeiros, ELASTIC ROCK e WE´LL TALK ABOUT IT LATER, tiveram capas desenhadas por ROGER DEAN, que os tornaram mais cult ainda!…
Mesmo que a gravadora não cumprisse com os artistas suas obrigações contratuais, levando alguns – e IAN CARR entre eles – muitas vezes à porta da pobreza quase absoluta….
O box da ESOTERIC é musicalmente de primeira linha, bem remasterizado, com excelente qualidade de som gerando audição imperdível. Mas, peca pela pobreza das capas internas escolhidas. Inexplicável economia, beirando a sovinice! Seria obrigatório que, para cada Long Play, fosse reproduzida a capa original. Um custo mínimo, mas com efeitos altamente compensadores em termos de arte e respeito pelo consumidor. E a organização interna do livreto também não ajuda, apesar do ensaio escrito ser bastante informativo.
Resumindo, é um box com música de alta qualidade artística, mas um tanto caro, afinal, por causa da precariedade gráfica. Chegou em meu apartamento, aqui em Pandebras, custando perto de 60 dólares: um “fio terra sexual”… para ser nada sutil.
POSTAGEM ORIGINAL:11/10/2019

POSTAGEM ORIGINAL:11/10/2019
