IAN CARR & NUCLEUS – TORRID ZONE – THE VERTIGO YEARS 1970 / 1975 – BOX COM 9 LPS EM 6 CDS – ESOTERIC RECORDS – 2019

Do ponto de vista musical é glorioso! A sofisticação rítmica, harmônica e, principalmente melódica, revelam um JAZZ – FUSION no melhor sentido da expressão: surge do JAZZ em direção ao POP, ao ROCK, e aos híbridos criativos que ouvimos desde o final dos anos 1960.
IAN CARR é mais do que um músico sofisticado e criativo. É, também, um INTELECTUAL da MÚSICA. Escreveu alguns livros, entre os quais uma biografia “musical” comentando a obra de MILES DAVIS, seu – e meu, nosso, também, – ídolo assumido. Este livro é considerado referência sobre o assunto.
IAN CARR é um compósito criativo entre o emocional e o intelectual. Com as qualidades, problemas e contradições que isto implica. Uma personalidade rica e fascinante.
Ele montou, ao longo de seis anos, um grupo de coesão esplêndida; mesmo com mudanças às vezes radicais em componentes chaves. Todos os discos são de músicas novas, criativas, compostas basicamente por ele, e sem a presença de qualquer “STANDARD JAZZÍSTICO”. Percebe-se aproximações com a MÚSICA CLÁSSICA”, e a superação do JAZZ na tradição moderna em direção à FUSION. Um esforço colossal para grupo de tão pouco tempo. Energia e sutileza conjugadas.
O NUCLEUS foi banda seminal da FUSION INGLESA: passaram por lá o genial baterista JOHN MARSHALL, criador para a banda de um amálgama percussivo que ia de ELVIN JONES a TONY WILLIANS. E, os lendários guitarristas ALLAN HOLDSWORTH, e CHRIS SPEDDING – que fez evolução à partir do estilo de STEVE CROPPER, juntando o PROGRESSIVO ao FUNK-SOUL. Um artista de vulto!
Há, também, os espetaculares baixistas JEFF CLINE e, depois, ROY BABBINGTON , entre vários outros membros de altíssimo nível técnico e artístico.
No decorrer dos nove LONG PLAYS originais, percebemos atualizações em progressão, que vão do “IN A SILENT WAY” de MILES DAVIS, resvalam em PRELUDE, de EUMIR DEODATO, “percebem” o WEATHER REPORT, a MAHAVSHNU ORQUESTRA, e o RETURN TO FOREVER; e incorporam a percussão latina de SANTANA. Santo Colombino!!!!
A isso tudo se junta o diálogo com a vanguarda jazzística inglesa, de TONY WILLIANS LIFETIME, a GRAHAN COLLIER, JACK BRUCE, SOFT MACHINE; e passagens sutis de ROCK PROGRESSIVO; e gente boa outra de montão! Tudo para confluir, nos últimos discos, em um JAZZ FUSION FUNKEADO e original. Eu tive o privilégio de assisti-los, em São Paulo, em junho de 1984, com MARSHALL na bateria. Inesquecível!
Há muita conversa possível. E fique sabendo quem coleciona que os LPs originais, gravados na VERTIGO, são raros e valem uma baba cósmica!!! Os dois primeiros, ELASTIC ROCK e WE´LL TALK ABOUT IT LATER, tiveram capas desenhadas por ROGER DEAN, que os tornaram mais cult ainda!…
Mesmo que a gravadora não cumprisse com os artistas suas obrigações contratuais, levando alguns – e IAN CARR entre eles – muitas vezes à porta da pobreza quase absoluta….
O box da ESOTERIC é musicalmente de primeira linha, bem remasterizado, com excelente qualidade de som propiciando audição imperdível. Mas, peca pela pobreza das capas internas escolhidas. Inexplicável economia, beirando a sovinice! Seria obrigatório que, para cada Long Play, fosse reproduzida a capa original. Um custo mínimo, mas com efeitos altamente compensadores em termos de arte e respeito pelo consumidor. E a organização interna do livreto também não ajuda, apesar do ensaio escrito ser bastante informativo.
Resumindo, é um BOX com música de alta qualidade artística, mas um tanto caro, afinal, por causa da precariedade gráfica. Chegou em meu apartamento, aqui em Pandebras, custando perto de 60 dólares: um “fio terra sexual”… para ser nada sutil.
POSTAGEM ORIGINAL: 11/10/2020
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