INSÔNIA COM PROCOL HARUM, GRATEFUL DEAD e THE PIXIES

“In the autumn of my madness, when my hair is turning gray”…canta GARY BROOKER, em uma das faixas do disco “SHINE ON BRIGHTLY”, 1968, do genial, subavaliado e não repetível “PROCOL HARUM”.
Clássico do rock em transição entre o PSICODÉLICO e o PROGRESSIVO, é acessível para quase todos os paladares musicais. É lindo, e é triste. A construção das letras é sublime. Eles mantinham um letrista exclusivo, KEITH REID; sofisticadíssimo! Ouçam; é marcante!
Quase sempre me vem à cabeça esta faixa, quando a insônia recorrente assola e desencadeia os medos, paranoias, e as desconexões entre os fatos objetivos… Talvez por isso, realce o lusco-fusco sonolento que tranca o raciocínio, e me faz sofrer antecipadamente por algo que, talvez, jamais ocorra.
É parte do outono da minha vida – loucura? – Não; estou envelhecendo!
Claro, aproveitei e trouxe outros discos gravados por eles; também ótimos, porém menos badalados: “SOMETHING MAGIC”, 1977, já sem ROBIN TROWER, que foi substituído por MICK GRABHAM, um guitarrista bem menos luminoso, porém circunstante na turma deles.
E, posto um projeto sinfônico gravado entre 1994 e 1995, com a LONDON PHILHARMONIC ORCHESTRA, revezando com LONDON SYMPHONY ORCHESTRA.
Estão reunidos a formação da época: GARY BROOKER, o líder e dono incontestável; e o marcante GEOFF WHITEHORN, na guitarra; e outros convidados, entre eles, TROWER. E, fiquem assustados!, TOM JONES canta a lúgubre e tétrica SIMPLE SISTER! Fez sentido, acreditem…
O PROCOL HARUM é das melhores atrações ao vivo da História do ROCK. Procure os vídeos e DVDS. E é das raras bandas capaz de conjugar-se a orquestra sem soar “FAKE”. O repertório é exuberante – só para variar!!!! É minuciosamente escolhido para justificar possuir este “THE LONG GOODBYE”. Não perca!
Certa vez li, no “Estadão”, que BILL KREUTZMANN, baterista e fundador do GRATEFUL DEAD, estava lançando um livro de memórias…
As que ficaram, sobreviventes do excesso de drogas, álcool, sexo e tudo o mais que mitificou os doidos anos 1960; da cultura hippie à contestação política e comportamental.
BILL não se lembra dos concertos, “JAM SESSIONS” ininterruptas, “RAVES SEM D.Js.” JERRY GARCIA, mito do ROCK, líder e guitarrista, e também fundador do GRATEFUL DEAD, morreu durante um processo de desintoxicação.
Sintomático, ou emblemático? Ele teve um infarto aos 53 anos, EM 1995. Preferiu ser livre e se drogar indefinidamente. Ele não teve tempo de escutar o professor, filósofo e historiador, LEANDRO KARNAL, que recentemente ponderou: “é preciso ter cuidados nesse debate sobre a liberação das drogas. Porque todo viciado é um dependente”.
Mais claro, impossível.
O GRATEFUL DEAD é certamente a banda americana de ACID-ROCK, também conhecido como PSICODELIA, mais famosa da época. Hoje, é uma empresa que produz, vende e mantém o mito em movimento. E quem não faz isso é explorado e morre. Mito sem rito contínuo enfraquece a fé dos fãs!
Eles começaram como todos. Inspirados nos Beatles, Stones e na turma do country e do blues. O primeiro disco é bastante convencional. Do segundo em diante, para usar a expressão da época: desbundaram. E nunca mais rebundaram!
O charme do GRATEFUL DEAD é a constante improvisação, principalmente nos discos ao vivo. Lembra resquícios de FREE-JAZZ pela tentativa de expandir a música “ad-infinitum”.
Mas, percebe-se nitidamente alguma limitação técnica e repetição no desempenho dos músicos. É forma livre de ver e executar as música, que mesclam BLUES, ROCK, e algo de JAZZ; e exalam, sempre, um quê da COUNTRY MUSIC.
Estão aqui duas reedições de originais famosos:
“AOXOMOXOA”, não se percam por causa do PALÍNDROMO… É duplo: O primeiro disco traz o MIX original, de 1969, e um REMIX feito em 1971. No segundo, show ao vivo em duas sessões no AVALON BALROOM, em SÃO FRANCISCO, realizadas em janeiro de 1969.
O outro álbum é famoso: GRATEFUL DEAD, 1971. Gravado ao vivo, e muito mais dinâmico e pesado. São apresentações variadas pelos Estados Unidos. E, o disco dois foi gravado em um dos templos prediletos da banda e dos “DEAD HEADS” – o extenso e leal fã clube que os idolatra acima de tudo: o FILLMORE WEST, em São Francisco. Ainda preciso ouvir essas reedições… Não tive tempo…
Confesso que entre os contemporâneos e concorrentes, eu prefiro o JEFFERSON AIRPLANE, também americano da Califórnia. É mais enxuto e musical. Faz ROCK experimental na medida certa; e é tão desviante comportamental e filosoficamente quanto o DEAD. Ambos faziam ROCK com estilo imediatamente identificável. Um charme indiscutível.
Por causa da insônia acabei assistindo a show dos PIXIES, feito em 2006. É a diferença entre o pato e o sapato. É ROCK, claro. Mas de outra estirpe. Talvez seja a banda que mais bem definiu a expressão ROCK ALTERNATIVO. Brilharam entre 1987 e 1991, e influenciaram decisivamente a geração GRUNGE, e bandas como o NIRVANA (US) e todo o novo ROCK que decolou de lá e resiste até hoje.
Já estiveram por aqui. E continuam por aí … impunes.
É interessante notar que são o inverso tanto do GRATEFUL DEAD quanto do PROCOL HARUM. Eles criam música dura, curta, visceral, mas bem tocada.
FRANK BLACK, o vocalista gorducho e gritalhão, rebatizado BLACK FRANCIS, é lenda no PUNK e no GRUNGE; assim como KIM DEAL, a baixista; e o guitarrista JOEY SANTIAGO, também.
O digamos cantor BLACK FRANCIS é improvável misto de querubim e rebelde sem nenhuma, mas nenhuma causa mesmo! Vocifera frases desconectadas, que contam fragmentos de histórias ou sensações de alguma vivência. A vida em estado bruto, quem sabe…
Se BOB DYLAN “KNOCKS ON THE HEAVEN´S DOOR”; e LOU REED espreita os portais do inferno urbano; FRANCIS BLACK et caterva parecem saídos de um curso para dragões, e cospem fogo para todo lado!
O público, muito jovem, adora. A gritaria que surge de repente casa com o instrumental insinuante e nem sempre óbvio; são enérgicos, íntegros! E fazem show legal para assistir…
Mas será que eu gosto disso? Tenho dúvidas…E acabei pegando no sono; dormitei e acordei – como está óbvio! Mas a vida nem sempre é óbvia! E ainda bem!
TEXTO REVISADO: 25/01/2025
Pode ser uma arte pop de texto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *