“INSÔNIAS: E O “OUTONO DE MINHA LOUCURA”! MEMÓRIAS DO PROCOL HARUM; GRATEFUL DEAD; JEFFERSON AIRPLANE. E A INSANIDADE CRIATIVA DOS PIXIES

“In the autumn of my madness, when my hair is turning gray”… canta GARY BROOKER, em uma das faixas de “SHINE ON BRIGHTLY”, 1968, obra maior do genial, subavaliado e irrepetível “PROCOL HARUM”!
Clássico do ROCK na transição entre o PSICODÉLICO e o PROGRESSIVO, é disco acessível para quase todo gosto musical.
É Lindo e triste; “BRITISH”. A construção das letras é sublime. Eles tinham letrista exclusivo, KEITH REID; sofisticadíssimo, em nível da música que o PROCOL HARUM fazia.
GARY BROOKER morreu. Assim, como FREDDIE MERCURY e JIM MORRISON, ele deixou uma cratera intransponível. Não haveria jeito de continuar o grupo. Certas perdas são definidoras e definitivas.
Quase sempre me vem à cabeça esta faixa quando a insônia recorrente assola, e desencadeia medos e paranoias. E ativa desconexões entre os fatos objetivos. Ela realça o lusco-fusco sonolento que tranca o raciocínio, e me faz sofrer antecipadamente por algo que, talvez, jamais ocorra. É parte do outono da minha vida – loucura? É possível. Eu estou envelhecendo….
Algum tempo atrás, eu li no Estadão que BILL KREUTZMANN, baterista e fundador do GRATEFUL DEAD, estava lançando livro de memórias. Detalhe: as que ficaram, sobreviventes do excesso de drogas, álcool, sexo e tudo o mais que mitificou os “1960”; da cultura hippie à contestação política e comportamental. BILL não se lembra dos CONCERTOS, das JAM-SESSIONS ininterruptas, verdadeiras “RAVES SEM D.Js”.
JERRY GARCIA, mito do ROCK, líder, guitarrista, e também fundador do GRATEFUL DEAD, morreu durante um processo de desintoxicação. Teve um infarto, aos 53 anos, em 1995. O estado “natural” dele sempre fora estar constantemente “nublado”. JERRY preferiu ser livre e se drogar indefinidamente. E o corpo definiu: “e finito!”
JERRY GARCIA não teve tempo de escutar o professor, filósofo e historiador, LEANDRO KARNAL que, recentemente ponderou: “é preciso ter cuidados nesse debate sobre a liberação das drogas. Porque todo viciado é um dependente”.
Mais claro, impossível.
O GRATEFUL DEAD é, certamente, a banda americana de ACID-ROCK, também conhecido como PSICODELIA, mais famosa de sua época. Porém, tornou-se empresa que produz, vende, administra, os RITOS que mantêm o MITO em movimento. Estão corretos. Quem não age assim, é explorado e morre.
O GRATEFUL DEAD começou como todos. Inspirados nos BEATLES, STONES e na turma do COUNTRY e do BLUES. O primeiro disco é bastante convencional. Mas, do segundo em diante, para usar a expressão da época, houve DESBUNDE total. Eles nunca mais REBUNDARAM!
O charme do GRATEFUL DEAD é a constante improvisação, principalmente nas gravações ao vivo. As performances lembram resquícios do FREE – JAZZ , na tentativa de expandir a música “ad-infinitum”. Mas percebe-se nitidamente alguma limitação técnica, e repetição nos desempenhos.
É a forma livre de ver e executar obras que mesclam BLUES, ROCK e algo de JAZZ; sempre e exalando um quê da COUNTRY MUSIC…. O GRATEFUL DEAD têm um extenso fã clube, que os idolatra acima de tudo: os DEADHEADS! Eita nominho!!!!
Entre os contemporâneos, eu prefiro o JEFFERSON AIRPLANE, também americano da Califórnia. Faz músicas mais enxutas; EXPERIMENTAL e MUSICAL na medida certa. O caras eram tão desviantes comportamental e filosoficamente quanto o DEAD. Ambos faziam ROCK com estilo e imediatamente identificável.
Deixei exemplos dessa turma “nublada” na foto…
Por causa da insônia, noite incerta acabei assistindo a show dos PIXIES, feito em 2006. É a diferença entre o pato e o sapato: avesso do avesso total do GRATEFUL DEAD, PROCOL HARUM, e os nublados PSICH/PROGS em geral.
PIXIES fazem ROCK, claro; mas de outra estirpe. Talvez seja a banda que mais bem definiu a expressão ROCK ALTERNATIVO. Brilharam entre 1987 e 1991; e influenciaram decisivamente a geração GRUNGE, e bandas como o NIRVANA (US) e todo o novo ROCK que decolou de lá, e resiste até hoje. Já estiveram por aqui, no HOSPÍCIO DO SUL, conhecido como BRASIL. E continuam por aí, impunes…
A música dos PIXIES é dura, curta, visceral, mas bem tocada. FRANK BLACK, o vocalista gorducho e gritalhão, é a improvável mistura de querubim e rebelde sem nenhuma, mas nenhuma causa mesmo! Ele vocifera frases desconectadas, que contam fragmentos de histórias, ou sensações de alguma vivência… FRANK é lenda no PUNK e no GRUNGE; KIM DEAL, a baixista, também é! e JOEY SANTIAGO, o guitarrista eficaz ajuda na gandaia non-sense generalizada.
Se BOB DYLAN “KNOCKS ON THE HEAVEN´S DOOR”; e LOU REED espreita os “WILD SIDES”- os portais do inferno urbano; FRANK BLACK et caterva, parecem saídos de um CURSO PARA TREINAR DRAGÕES: cospem fogo pra todo lado! O público, muito jovem, adora. A gritaria que surge de repente casa com o instrumental insinuante e nem sempre óbvio; são enérgicos, e “anarquicamente organizados”!
Fazem show legal para assistir! Mas, será que eu gosto daquilo? Tenho dúvidas… Em meio ao caos acabei pegando no sono; dormitei e acordei – como está óbvio! Mas a vida nem sempre é tão óbvia assim!
E ainda bem!
POSTAGEM ORIGINAL: 11/07/2022
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