JEFF BECK, à partir de 1972, pôs-se na confluência de várias ideias e vastos dilemas. Ele jamais foi um atleta da guitarra, alguém interessado em performances virtuosísticas.
Ao contrário, sempre foi refinado melodista, cultor das sutilezas do toque, da expressão nítida e sem exagero. Daí, a paixão pelo R&B, SOUL, BLUES e, em doses reduzidas, até algo de MÚSICA CLÁSSICA.
E, também, autocriticou-se com certo pudor e restrição ao que fez com BOGERT & APPICE, 1972/1973 onde, limitados pela ausência de um cantor adequado, os três partiram em direção ao quase “atletismo”.
A torcida adorou! Muita gente aprecia ainda hoje, principalmente o duplo LIVE NO JAPÃO, mas…
Os caminhos de BECK, um inovador, não estão próximos de SATRIANI, VAN HALEN, VAI, MALMSTEEN, músicos técnicos, exibicionistas e performáticos.
JEFF BECK é essencialmente um guitarrista clássico e inteligível. O que não significa desprezo pela inovação, vanguardas, e o diferente desafiador.
Ao contrário: ele apenas usa tecnologias e o novo como expansão dos limites, e sempre dentro e a favor do musical identificável.
Na pauta perene de alguém sempre na vanguarda, como ele, resvalando rupturas e as fronteiras em diversos momentos da carreira, JEFF BECK sempre soube dosar ousadias sem perder a essência de seu estilo. Ele sempre esteve na moda.
A ideia de FUSION é abrangente demais para ser rapidamente resumida.
Pode-se entrevê-la desde o surgimento da BOSSA NOVA, no cenário internacional, no final dos anos 1950. Afinal de contas, JOÃO GILBERTO e TOM JOBIM SÃO O QUÊ?
FUSION, é claro!
E aprofundou-se em meados da década de 1960, quando grandes nomes do JAZZ toparam fazer discos de covers de música POP mais conhecida. Os músicos, claro, precisavam sobreviver. E muitos gravaram tocando de maneira simplificada, LOUNGE, e o resultado foi palatável, mas nada lisonjeiro.
Um exemplo que jamais esqueço, é disco de WES MONTGOMERY tocando com toda sua técnica “CALIFORNIA DREAMING”, hit dos MAMAS & THE PAPAS. Disco agradável, e medíocre.
O JAZZ estava em crise!
A FUSION foi tentada por vários grupos de ROCK. O TRAFFIC, por exemplo, em álbuns como “JOHN BARLEYCORN MUST DIE”, 1970, em que fundem JAZZ e BLUES, mas pela ótica do ROCK.
Experiência bem sucedida que os levou a “LOW SPARK OF HIGH HILLING BOYS”, 1971, um clássico daqueles tempos.
Porém e certamente, o marco inicial do FUSION JAZZ, como em geral o percebemos, foi determinado pelo trompete de MILES DAVIS.”IN A SILENT WAY”, 1969, é obra magnífica com os tecladistas JOE ZAWINULL e CHICK COREA; JACK DeJOHNNETE, na bateria; e DAVID HOLLAND, no baixo.
Mas, é a a participação definidora de outro talentoso guitarrista inglês, JOHN McLAUGHLIN, antecipando em quase três anos a performance que inspirará JEFF BECK em “MAX´TUNES ou RHEYNES PARK BLUES”, do álbum “ROUGHS AND READY”, de 1971.Esta é a primeira faixa realmente FUSION JAZZ que JEFF BECK gravou. E dá charme a um disco repleto de R&B e SOUL, já inclinado para o futuro.
É, também, a gênese e inspiração para a sonoridade desenvolvida pela gravadora ECM e seus guitarristas, como PAT METHENY, TERJE RYPDAL, e incontáveis outros músicos desse JAZZ climático, frio, sofisticado e moderníssimo.
JEFF BECK não criou o conceito de FUSION para a guitarra. Mas, expandiu suas fronteiras com técnica e sonoridade únicas. Com dificuldades para encontrar o vocalista ideal, aos poucos ele foi dirigindo seus discos para o INSTRUMENTAL.
BECK deve ter notado que, lá por 1971 em diante, um grupo holandês fazia muito sucesso naquela fronteira que, por muito pouco, separa a FUSION do PROGRESSIVO. O FOCUS não usava vocalistas, e tinha o excelente guitarrista JAN ACKERMANN, um link entre os dois estilos, o que certamente acendeu luzes dos profissionais para essa hipótese.
Foi nesse mezzo lusco-fusco que o histórico produtor GEORGE MARTIN, que trouxe os BEATLES e depois outros para a relevância artística, entrou na parada.
Ele digamos “aliviou e sutilizou” o toque de JEFF BECK, na guitarra. E o aproximou ao “JAZZÍSTICO”, digamos. E às “baladas” POP sofisticadas. E BLOW BY BLOW, 1975, tornou-se um clássico da FUSION, aproveitando o talento e proficiência do pianista e tecladista MAX MIDLETTON, já revelada em discos anteriores e também expressa nos posteriores.
Que pena MIDLETTON não ter vindo com MICK TAYLOR ao BRASIL!!!!
“BLOW BY BLOW Foi o míssil sonoro que relançou o guitarrista para o futuro transformado em presente quase eterno. BECK TORNOU-SE CONTEMPORÂNEO ATÉ MORRER!!!!
JEFF BECK observou e sintetizou ideias que JOHN McLAUGHLIN desenvolvia com a MAHAVISHNU ORCHESTRA, colegas na COLUMBIA RECORDS, e onde brilhava um tecladista visionário e criativo:
JAN HAMMER, depois seu parceiro nos discos fundamentais “THERE AND BECK”, 1980; “WIRED”, 1976; e JEFF BECK & JAN HAMMER GROUP, 1977.
Ambos criaram a simbiose da guitarra vívida de JEFF com o ELETRÔNICO DE VANGUARDA, que se estabelecia na música no começo da década de 1980, e passou a dominar cenário. E até hoje…
É crer, ouvir, e concluir!
