JOHN LENNON E A INCOMPLETUDE

Vamos imaginar assim: você é uma pessoa inteligente e o teu amigo, também. Os dois se juntam e se tornam dupla genial, incontestavelmente genial!
Isto é possível? Será que duas pessoas muito talentosas, quando juntas podem transcender as próprias condicionantes e criar algo que as ultrapasse exponencialmente?
Acho que sim. Pensem em LENNON e McCARTNEY, e JAGGER e RICHARDS, só como exemplos. Sempre há outros, em quaisquer épocas.
A última vez que havia escutado um disco inteiro de JOHN LENNON foi há uns 40 anos. Provavelmente, próximo à data de sua morte. Estou retomando o interesse. Primeiro, foi relançada a coletânea POWER TO THE PEOPLE, THE HITS, com 15 de suas principais músicas, e vendida a preço da honra de alguns políticos…
Vale a pena manter.
Passaram a lançar os discos de série, em novas edições, e já a preço de mercado. Estou comprando aos poucos.
Qual a minha opinião sobre o que ouvi?
Tenho gostado; porém acho que LENNON envelheceu. O que não significa ter ficado ruim… Mas nem todo vinho evolui ao envelhecer…
Alguns vinhos são para serem bebidos jovens, como os “Verdes” portugueses, os “Beaujolais” franceses, e os “Labruscos” italianos, todos muito bons e agradáveis… A maioria dos artistas, também não envelheceram bem. A gente os “bebia melhor” quando eram jovens… Escutando o que vem sendo relançado, fragmentos de sua obra, percebo quase nenhuma evolução estritamente musical no decorrer da carreira solo. Por enquanto. Ainda faltam vários álbuns… Então, opino sobre esses
É interessante! JOHN começou PSICODÉLICO quando “todo o mundo” vinha migrando para o PROGRESSIVO, lá por volta de 1971. Ele permaneceu nessa espécie de PSICODELIA TARDIA, mesmo quando o HEAVY METAL e o PUNK passaram a dar as cartas. E, nos EUA, uma certa “involução” para o country começou a se destacar.
LENNON parece não ter sido “molestado” pelas diversas rupturas estilísticas nos tempos de sua carreira solo.
DAVID BOWIE, por exemplo, no espaço de dez anos saiu do PSICODÉLICO para o GLITTER; namorou a SOUL MUSIC; foi ao ART ROCK da fase Berlim ( +- 1975/1978 ). Depois, perscrutou um quase PUNK; flertou com a DISCO MUSIC, e seguiu em frente.
JOHN LENNON continuou, circulou, mais ou menos na mesma.
Estava na dele, é claro. Cada artista deve praticar suas convicções – ou avaliar suas limitações. No entanto, o olhar do tempo sempre revela a História e a trajetória.
O cartunista ANGELI certa vez disse que MILTON NASCIMENTO e JOHN LENNON são piegas. Eu concordo pontualmente. “IMAGINE”, talvez seu principal disco, é eivado por sentimentalismos explícitos e açucarados.
SOME TIME IN NEW YORK CITY revela a face militante, sua visão do mundo naqueles tempos. E também contém pieguices…
Talvez transpareça que o legado pelos BEATLES não encontrou sucessor no JOHN solitário. Aí, é discutível e argumentável, que o jeito mais BEAT, enxuto, está no JOHN LENNON & PLASTIC ONO BAND.
No entanto, JOHN sempre será JOHN; mesmo que traços tênues pareçam relegá-lo a esboço bem feito de um artista incompleto.
É preciso lembrar que a morte precoce e injusta ceifou a construção de carreira que, certamente, traria novas percepções e conexões. PAUL McCARTNEY continua formando acervo relevante… mesmo que prenhe de coisas secundárias…
O tempo refina vinhos de boas cepas e composição. Faltou a LENNON outras vindimas, que só muitos plantios e maturação revelariam a evolução e a qualidade.
A vida que lhe faltou é buraco eterno na alma das gerações que o sucederam. Resta investigá-lo melhor. E isto certamente será feito.
JOHN.
POSTAGEM ORIGINAL 21/05/2021
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